Focada no processo de descarbonização da cadeia do aço, a Vale inaugura nesta terça-feira, 12, em Vitória (ES), a sua primeira fábrica de briquetes, aglomerado que reduz em até 10% as emissões de gases de efeito estufa no alto-forno. Mais de 30 clientes – a maioria da Europa e Oriente Médio, e alguns do Brasil – demonstraram interesse em receber carregamentos em 2024, disse a companhia. A produção dos dois primeiros anos será destinada a testes nas instalações desses clientes.

A inauguração se dá em um momento em que a Vale busca impulsionar o nicho de baixo carbono – com aglomerados e minério mais concentrado – para capturar prêmios maiores e reduzir a sua dependência da China, que consome cerca de 63% da commodity produzida pela mineradora.

A cadeia produtiva do aço é responsável por algo entre 8% e 10% das emissões globais de gases de efeito estufa. No futuro, quando houver hidrogênio verde disponível, será possível a produção de aço de zero emissão, disse a companhia.

Anunciado em 2021, o produto é resultado de quase duas décadas de pesquisa nos laboratórios da Vale em Minas Gerais. A fábrica de briquetes, uma usina de pelotização convertida, é a primeira do mundo. A instalação fica na Unidade Tubarão, complexo industrial que integra mina, ferrovia e porto.

Uma segunda planta em Tubarão tem inauguração prevista para o início de 2024. Ao longo do ano que vem, as duas fábricas irão produzir cerca de 2,5 milhões de toneladas. A produção crescerá gradativamente até atingir os 6 milhões de toneladas por ano.

As instalações demandaram investimento de R$ 1,2 bilhão. No pico das obras, foram gerados 2.300 empregos.

A inauguração acontece com o acionamento simbólico pelo presidente da mineradora, Eduardo Bartolomeo. “Estamos oferecendo um produto que apoiará nossos clientes, os fabricantes de aço, a se adequarem às metas de redução de emissões que estão sendo adotadas por governos em todo o mundo, contribuindo para o combate à mudança climática.”

Descarbonização em etapas

O vice-presidente executivo de Soluções de Minério de Ferro da Vale, Marcello Spinelli, explicou que descarbonização da siderurgia se dará em etapas: “Na primeira, nossos clientes estão buscando formas de aumentar a eficiência operacional na rota de alto-forno, reduzindo o gasto de energia e, consequentemente, diminuindo emissões de CO2”.

Na etapa final, prosseguiu o executivo, quando o hidrogênio verde estiver disponível, o briquete contribuirá para a produção de aço de zero carbono, o que será feito por meio da rota de redução direta, mais “limpa” que a do alto-forno.

A aplicação na rota direta será feita com uma segunda versão do briquete, atualmente em desenvolvimento. A Vale informou que testes experimentais foram realizados com sucesso, e a empresa já iniciou o primeiro teste industrial, em um reator na América do Norte.

Fornos de redução direta são usados em regiões com abundância de gás natural a preços competitivos, como é o caso do Oriente Médio, disse a mineradora.

Meta de redução de emissões

O briquete está incluído na meta de reduzir em 15% as emissões de escopo 3, relativas à cadeia de valor, até 2035, frisou a mineradora. A empresa já assinou acordos para oferecer soluções de descarbonização com mais de 50 clientes, responsáveis por 35% dessas emissões. Entre as soluções propostas, está a construção de plantas de briquete nas instalações de alguns clientes.

A Vale também busca reduzir suas emissões líquidas de carbono diretas e indiretas (escopos 1 e 2) em 33% até 2030, como primeiro passo para zerar suas emissões líquidas até 2050.

Processo sem água

Produzido a partir da aglomeração a baixas temperaturas de minério de alta qualidade, o briquete emite menos particulados e gases como dióxido de enxofre e óxido de nitrogênio quando comparado aos processos tradicionais de aglomeração. O processo dispensa o uso de água, de acordo com a companhia.

*A repórter viajou a convite da Vale