De Nova York à Califórnia, autoridades, ativistas e cidadãos prometeram nesta sexta-feira (24) lutar para que os estados governados por democratas sigam servindo como “santuários” destinados a que as mulheres que desejem abortar o façam com total segurança.

No estado de Nova York (leste), quarto do país em população (20 milhões de habitantes) e historicamente situado à esquerda pelo peso liberal da ‘Grande Maçã’, autoridades e profissionais de saúde se preparavam há semanas para o sepultamento de meio século de direito constitucional à interrupção voluntária da gravidez.

E assim, preveem uma enxurrada de mulheres procedentes dos 26 estados conservadores que proibiram ou limitaram o aborto ou o farão em breve. Deles, 13 estados se dotaram das chamadas leis ‘gatilho’, que serão ativadas automaticamente em questão de dias ou horas após a decisão do Supremo.

“Sabemos que as necessidades vão aumentar significativamente”, declarou à AFP Sarah Moeller, profissional da saúde da associação Brigid Alliance, que paga a viagem, o alojamento e alimentação e proporciona inclusive ajuda financeira às mulheres sem recursos que desejam abortar.

A associação onde trabalha Moeller, que apoia uma centena de mulheres por mês, calcula que “centenas de milhares de pessoas mais vão ter que viajar para fora de seus estados para poder abortar”.

Alice Mark, médico e conselheira da Federação Nacional para o Aborto em Massachusetts se perguntou “o que vai acontecer com a gente dos 26 estados onde o aborto será total ou parcialmente proibido”.

– Abortos em alta –

“A decisão coincide com um crescimento do aborto nos Estados Unidos”, disse Herminia Palacio, diretora do Instituto Guttmacher, organização privada que apoia o direito ao aborto.

“Os 930.000 abortos registrados no país em 2020 supõem o primeiro aumento sustentado em quase três décadas e mais de um em cada três realizados em estados que estão proibindo o aborto ou provavelmente o farão”, assegurou em um comunicado.

Desta quantidade, cerca de 300.000 são praticados nos estados do sul e do centro do país.

Alice Mark espera que estados como Massachussetts – apesar de que seu governador é um republicano e onde abortar é caro – ou Illinois facilitem o acesso a suas clínicas que terão que aumentar o pessoal e ampliar os horários de abertura.

– “Santuário” –

Assim como em Nova York, onde a governadora democrata Kathy Hochul foi a primeira em denunciar na sexta-feira o “retrocesso dos direitos de milhões de americanos” e prometeu “investir 35 milhões de dólares para facilitar o acesso aos serviços para abortar”.

“Nosso estado continuará sendo um santuário para aquelas que querem abortar”, garantiu a democrata.

Ao outro lado dos Estados Unidos, os governadores de três estados “progressistas” da costa oeste – Gavin Newsom (Califórnia), Kate Brown (Oregon) e Jay Inslee (estado de Washington) – se “comprometeram” em um comunicado a “defender o acesso à contracepção e o aborto”.

“Em mais da metade do país – 33,6 milhões de mulheres (10% da população americana) – o aborto será agora ilegal ou inacessível”, lembraram.

Várias mulheres consultadas pela AFP no bairro nova-iorquino de Brooklyn manifestaram sua “tristeza” e sua “raiva” diante do revés histórico dos juízes conservadores do Supremo (6 votos a três) ao direito ao aborto.

Enquanto Lili Bernstein, de 21 anos, se perguntava se quer “fazer parte deste país”, Nabila Valentin, de 36 anos, declarou estar “feliz de viver em um estado como Nova York onde se sente em segurança e com seus direitos protegidos”.

Associações religiosas e comunitárias lutam também por defender o direito ao aborto nos Estados Unidos.

Como o Conselho Nacional de Mulheres Judias (NCJW), com sede em Washington, que criou um “fundo judaico de acesso ao aborto em associação com a federação nacional para o aborto”, explicou à AFP sua presidente, Sheila Katz.

“Vamos continuar lutando para que cada mulher pode tomar sua própria decisão consciente sobre seu próprio corpo, sua vida, seu futuro, independentemente de quem seja e onde viva”, prometeu Katz.