De notícias falsas à minuta: veja o roteiro do golpe segundo a PGR

Processo tem ex-presidente Jair Bolsonaro como réu, acusado de liderar grupo e editar minuta golpista para pressionar Forças Armadas; julgamento vai até dia 12 de setembro

Bolsonaro golpe
Ex-presidente Jair Bolsonaro durante interrogatório no STF Foto: Fellipe Sampaio/STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma nesta quarta-feira, 3, o julgamento do inquérito que investiga a trama golpista e que tem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) réu, apontado como o articulador do plano. Bolsonaro responde por cinco crimes e as penas podem somar 43 anos de prisão. 

Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente participou ativamente na elaboração da minuta do golpe para evitar a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A denúncia, oferecida em fevereiro deste ano, narra a trajetória golpista desde o período pré-eleitoral, com a disseminação de notícias falsas, até os ataques de 8 de janeiro contra os Três Poderes. 

Na denúncia oferecida em fevereiro deste ano, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que o plano golpista começou ainda em 2020, no meio da pandemia, quando Bolsonaro tinha apenas um ano de mandato. Na ocasião, a cúpula bolsonarista já tentava encontrar meios para descredibilizar as urnas eletrônicas em meio ao avanço do inquérito das fake news, no STF, que investigava a criação de um “gabinete do ódio” no Palácio do Planalto. 

Em 2021 e 2022, o grupo teria ganhado corpo, com a participação de ministros palacianos nas articulações para o plano golpista. Entre eles estavam Walter Braga Netto (Casa Civil e Defesa), Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (GSI) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), todos réus no inquérito da trama golpista. 

Para a PGR, os ministros colaboraram na divulgação de notícias falsas contra o sistema eleitoral brasileiro e informações inverídicas contra ministros da Suprema Corte. Ainda são réus no processo o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, apontado como pessoa-chave no roteiro, o deputado federal Alexandre Ramagem e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos. No total, 31 pessoas são alvos do processo, divididos em quatro núcleos. 

O grupo ainda foi o responsável pela elaboração da minuta golpista para a decretação de medidas para derrubar as eleições de 2022 e criar um grupo provisório para eleições composto apenas por militares. A PGR afirma que Bolsonaro editou o texto, que previa também a prisão de autoridades, como o ministro Alexandre de Moraes, do STF. 

Veja o roteiro do golpe de acordo com PGR 

De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o roteiro golpista começou em março de 2020, quando o então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e hoje deputado federal, Alexandre Ramagem (PL-RJ), acionou o major da reserva Angelo Martins Denicoli para a criação de um grupo técnico para investigar e encontrar irregularidades que pudessem descredibilizar as urnas eletrônicas. Dois meses depois, um documento “PR Presidente”, que serviria como orientações para Bolsonaro apontar inconsistências no sistema eleitoral, foi criado. 

Cerca de um ano depois, foi enviado outro documento para subsidiar as falas de Bolsonaro sobre o tema. O texto, segundo a PGR, foi editado por Ramagem cerca de duas semanas antes de uma live de Bolsonaro em que ataca as urnas eletrônicas e ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A gravação teve o então ministro da Justiça Anderson Torres como coadjuvante, em que repassava supostas recomendações da Polícia Federal. 

Jair Bolsonaro manteve a narrativa de fraudes no sistema eleitoral durante todo o ano de 2021, com apoio de ministros de seu governo, responsáveis por divulgações de informações falsas nas redes sociais. O ex-presidente ainda intensificava seus ataques à Suprema Corte, com foco em Moraes, relator do inquérito das fake news, que investigava o “gabinete do ódio” no Palácio do Planalto. 

A PGR ainda aponta uma reunião ministerial no dia 5 de julho de 2022 como uma das provas para incriminar o núcleo crucial do golpe. De acordo com a denúncia, Bolsonaro pressionou o alto escalão do Planalto a multiplicar os ataques às urnas, enquanto o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno disse que a vitória de Lula instalaria um caos no Brasil e que “o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições”. No encontro, aliados ainda instigaram uma ação das Forças Armadas para virar o resultado das urnas em caso de vitória do petista. 

Na semana seguinte, Bolsonaro reuniu embaixadores no Palácio do Planalto para atacar as urnas eletrônicas e descredibilizar o sistema eleitoral brasileiro. O encontro foi transmitido pela internet e pela estatal TV Brasil. A reunião provocou a condenação do ex-presidente à inelegibilidade até 2030 no TSE. 

Após o resultado do primeiro turno, o grupo trocou diversas mensagens articulando medidas para atrapalhar a segunda etapa do pleito. Uma das ideias era questionar a quantidade de inserções disponibilizadas para Lula e Bolsonaro durante a campanha. A denúncia foi feita pelo então ministro da Comunicação Fábio Faria, mas a falta de embasamento no levantamento fez a própria cúpula bolsonarista desistir da estratégia. 

Paulo Gonet julgamento do golpe de Estado

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que a reunião entre Bolsonaro com a cúpula militar já é indício de que plano golpista estava em curso

No dia do segundo turno, aliados do ex-presidente partiram para uma segunda estratégia. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) realizou blitzes em regiões que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu no primeiro turno. A operação foi derrubada após uma determinação do ministro Alexandre de Moraes, à época presidente do TSE. 

Após a derrota de Bolsonaro para o petista, o grupo ainda tentava encontrar medidas para reverter o cenário, como a cobrança para encontro de inconsistências nas urnas eletrônicas. Enquanto isso, o ex-presidente se manteve em silêncio e recluso no Palácio do Alvorada. 

Dias depois, as Forças Armadas atestaram a confiabilidade das urnas em um relatório junto ao Ministério da Justiça. Em delação premiada, Mauro Cid afirmou que Bolsonaro pressionou para alterar o documento para questionar a confiança no equipamento. 

Sem sucesso, aliados do ex-presidente se dividiram em dois grupos para encontrar alternativas e reverter o quadro. De um lado estava a cúpula ligada a Bolsonaro, que criou uma minuta golpista para invalidar as eleições. A PGR aponta, com base na delação de Cid, que Bolsonaro editou o texto e se reuniu com chefes das Forças Armadas em dezembro de 2022 para pressionar a adesão ao golpe. O ex-presidente recuou após a recusa dos ex-chefes do Exército e da Marinha. 

Em paralelo, outro grupo, comandado pelo general Mário Fernandes, ex-número 2 da Secretária-Geral da Presidência, articulou um plano para matar Moraes, Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin no dia da diplomação dos eleitos no TSE. O plano não foi para frente após militares informarem que as Forças Armadas não iriam aderir ao tento golpista. 

A denúncia ainda narra os ataques de aliados bolsonaristas aos chefes das Forças Armadas, além da ida de Bolsonaro para os Estados Unidos. Para a PGR, a cadeia de eventos foi o estopim para os ataques de 8 de janeiro de 2023 aos prédios dos Três Poderes. 

Veja a ordem cronológica dos fatos, segundo a PGR

Fase Preparatória e Articulação da Narrativa (Março de 2020 a Outubro de 2022)

  • Março de 2020: Alexandre Ramagem, desde esta fase preparatória, já contava com a “ajuda” de Angelo Martins Denicoli para a criação de um grupo técnico com o objetivo de desacreditar as urnas eletrônicas.
  • Maio de 2020: Documento “PR Presidente” é identificado com orientações de Alexandre Ramagem a Jair Bolsonaro, incluindo anotações contrárias às urnas eletrônicas e favoráveis à intervenção das forças armadas.
  • 10 de Julho de 2021: Criação do arquivo “Presidente TSE informa.docx”, com argumentos contrários às urnas eletrônicas, para subsidiar futuras falas públicas de Jair Bolsonaro.
  • 27 de Julho de 2021: O arquivo “Presidente TSE informa.docx” é modificado pela última vez pelo usuário “aramagem@yahoo.com”.
  • 29 de Julho de 2021: Jair Bolsonaro inicia seus ataques ao sistema eleitoral brasileiro por meio de uma transmissão ao vivo (live) realizada nas dependências do Palácio do Planalto, criticando as urnas eletrônicas e ministros do STF e TSE. Pesquisas de opinião já indicavam queda de sua popularidade. Anderson Gustavo Torres, Ministro da Justiça, contribui para a live com informações sobre supostas recomendações da Polícia Federal.
  • 3 de Agosto de 2021: Jair Bolsonaro concede entrevista, amplamente replicada, insinuando a tomada de medidas de força contra o Judiciário.
  • 4 de Agosto de 2021: A narrativa de ataques ao sistema eleitoral é difundida em larga escala pelo então Presidente, com o auxílio direto de Augusto Heleno Ribeiro Pereira (Chefe do GSI) e Alexandre Ramagem Rodrigues (Delegado de Polícia Federal).
  • 5 de Agosto de 2021: Marcelo Araújo Bormevet e Giancarlo Gomes Rodrigues iniciam uma operação de construção de notícias falsas contra os ministros do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso e Luiz Fux, com o objetivo de desacreditá-los e o processo eleitoral.
  • 6 de Agosto de 2021: Bormevet envia uma notícia que relacionava o Ministro Luiz Fux e um escritório da família do Ministro Luís Roberto Barroso ao Banco Itaú e à empresa Positivo (fabricante de urnas), orientando sobre como atacar os ministros.
  • 7 de Agosto de 2021: Giancarlo compartilha os prints das publicações forjadas na rede social X.
  • 10 de Agosto de 2021: O Congresso Nacional rejeita a mudança no sistema eleitoral proposta pelo grupo do Presidente da República.
  • 7 de Setembro de 2021: Em alocução pública em São Paulo, o Presidente Jair Bolsonaro faz ataques ao Ministro Alexandre de Moraes e declara que não mais se submeteria às deliberações do STF.

  • 5 de Julho de 2022: Jair Bolsonaro cobra do alto escalão do governo a multiplicação dos ataques às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral em reunião ministerial, associando um resultado desfavorável à fraude. Anderson Torres e o Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, endossam a narrativa de fraude e instigam a intervenção das Forças Armadas. Augusto Heleno afirma que “o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições”.
  • 18 de Julho de 2022: Jair Bolsonaro convida formalmente representantes diplomáticos em Brasília para uma reunião onde atacou o sistema eleitoral e os Ministros do STF, com o objetivo de descredibilizar as instituições nacional e internacionalmente.
  • Primeiro Turno das Eleições (Outubro de 2022): A organização criminosa intensifica as ações de interferência no pleito, incluindo a utilização da Polícia Rodoviária Federal (PRF), sob o comando de Silvinei Vasques, para obstruir o funcionamento do sistema eleitoral, dificultando a participação de eleitores em locais onde se presumia oposição ao então Presidente.
  • 4 e 5 de Outubro de 2022: Trocas de mensagens entre Mauro Cid e seu pai, General Lourena Cid, confirmam que o relatório de fiscalização das urnas das Forças Armadas já estava pronto antes do segundo turno, mas sua divulgação foi deliberadamente postergada para manter a narrativa de fraude.
  • 6 de Outubro de 2022: Marília Ferreira de Alencar, Diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, informa a Fernando de Souza de Oliveira que havia um planejamento específico para o segundo turno das eleições, com tudo “alinhado”.
  • 7 de Outubro de 2022: Trocas de mensagens entre Marília e Fernando de Oliveira explicitam a urgência e o “objetivo escuso” dos encontros com Anderson Torres. Marília expressa ansiedade para “fazer alguma coisa”.
  • 10 de Outubro de 2022: O Tribunal de Contas da União (TCU) oficializa ao Ministério da Defesa, solicitando o “relatório de auditoria ou de documento correlato que revele o resultado da fiscalização daquele órgão acerca do processo eleitoral relativo ao primeiro turno de votação”.
  • 16 de Outubro de 2022: Leo Garrido informa ao grupo “EM OFF” que finalizou os planos para Bahia, Ceará e Pernambuco.
  • 18 de Outubro de 2022: O TSE determina a entrega do relatório do Ministério da Defesa em 48 horas, mas não obtém resposta no prazo estipulado.
  • 21 de Outubro de 2022: Clebson Ferreira de Paula Vieira é convocado para uma “demanda daquelas… diretamente da diretora” (Marília de Alencar), referindo-se à elaboração de um painel de Business Intelligence (BI) para mapear votos. Planilhas com dados de votação por candidato e por modelo de urna, além de informações sobre Unidades Operacionais da PRF, são identificadas.
  • 26 de Outubro de 2022: Um novo Plano de Trabalho, intitulado “2º Turno”, é elaborado pela PRF, incluindo deliberações adicionais e fiscalização de transporte de passageiros não previstas inicialmente, indicando uma mudança de procedimentos para o segundo turno.
  • 28 de Outubro de 2022: O Policial Rodoviário Federal Luíz Carlos Reischak Júnior informa sobre a redução de abordagens a outros veículos e o aumento na fiscalização direcionada a ônibus.
  • 29 de Outubro de 2022: Adiel Pereira Alcântara comenta com Paulo César Botti Alves Júnior sobre a impropriedade de Silvinei Vasques nas reuniões de gestão, especialmente a determinação de “policiamento direcionado”.

Ações Pós-Eleições e Tentativa de Golpe (Outubro de 2022 a Janeiro de 2023)

  • 30 de Outubro de 2022 (Segundo Turno): Lula da Silva é eleito Presidente. A organização criminosa, apesar da derrota, persiste em seu plano de sedição, intensificando demandas por ações militares. As análises de BI de Clebson Ferreira são utilizadas para direcionar as ações de fiscalização da PRF, concentradas em locais onde Lula obteve mais de 75% dos votos, especialmente no Nordeste.
  • 1º de Novembro de 2022: Mauro Cid recebe mensagem de Bernardo Romão Correa Neto perguntando sobre “alguma evolução que nos deixe otimista?”, ao que Cid responde “Até agora… nada. Nenhuma bala de prata”, confirmando que a organização não havia encontrado evidências de fraude. Carlos Rocha envia a Éder Balbino um arquivo sobre suposta fraude nas urnas, buscando análise.
  • 3 de Novembro de 2022: Ferreira Lima insiste no apoio a um “especialista de TI do IME” para propagar informações enganosas sobre a auditabilidade de urnas e sugerir “testes funcionais irrefutáveis”.
  • 4 de Novembro de 2022: Fernando Cerimedo realiza uma live para propagar informações falsas sobre fraude nas urnas eletrônicas. Guilherme Marques de Almeida celebra, afirmando que a live manteria o povo mobilizado. O TSE desmente o conteúdo da live.
  • 5 de Novembro de 2022: Carlos Rocha cobra Éder Balbino sobre a tese de que Jair Bolsonaro teria vencido se apenas as urnas fabricadas em 2020 tivessem sido usadas.
  • 6 e 7 de Novembro de 2022: Éder Balbino refuta a tese de fraude eleitoral baseada no modelo de urna.
  • 8 de Novembro de 2022: Mário Fernandes tenta intervir junto ao Presidente e ao Ministro Anderson Torres para “segurar a PF” e evitar o cumprimento de mandados de busca e apreensão contra Lucas Rotilli Durlo.
  • 9 de Novembro de 2022:
  1. Publicação do Relatório do Ministério da Defesa: O Ministério da Defesa publica tardiamente seu relatório de fiscalização do sistema eletrônico de votação. Mauro Cid confirma que Jair Bolsonaro tentou interferir na conclusão das Forças Armadas de que não havia fraude. No dia 10.11.2022, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira divulga uma nova nota ambígua, insinuando que a possibilidade de fraude não havia sido descartada.
  2. Criação do Plano “Punhal Verde Amarelo”: Este plano, identificado em dispositivo eletrônico de Mário Fernandes, é criado e impresso no Palácio do Planalto, visando a “neutralização” de autoridades públicas como o Ministro Alexandre de Moraes e os eleitos Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin Filho. O plano previa monitoramento de locais de frequência, itinerários, e admitia a possibilidade de mortes. O documento foi levado ao Palácio da Alvorada para Bolsonaro.
  3. Carlos Rocha recebe mensagens de Tony Calleri França, engenheiro do ITA, que categoricamente afasta a tese de fraude nas urnas.
  • 11 de Novembro de 2022: Uma Nota à Imprensa é publicada pela Força Aérea Brasileira, interpretada pelos manifestantes como um sinal de aquiescência das Forças Armadas aos acampamentos. Mauro Cid elogia a nota, afirmando que os movimentos estavam “se sentindo seguros pra dar um passo à frente”, direcionando-os ao Congresso, STF e Praça dos Três Poderes, visando a data de 15 de novembro. Rafael Martins de Oliveira pergunta a Mauro Cid se as Forças Armadas garantiriam a permanência dos manifestantes.
  • 12 de Novembro de 2022: Reunião na residência do General Braga Netto com Mauro Cid, Coronel Oliveira e Coronel Ferreira Lima. A pauta era a necessidade de promover ações de forte impacto social para justificar a decretação de estado de defesa ou sítio, visando impedir a posse de Lula. O financiamento da ação já havia sido debatido, com estimativa de gastos em 100 mil reais. Mário Fernandes se comunica com José Luiz Sávio Costa Filho, endossando uma “marcha” para a Esplanada para “pressionar o Legislativo e o Judiciário”.
  • 13 de Novembro de 2022: Mário Fernandes esteve pessoalmente no acampamento em frente ao QG do Exército para dar “palavra de esperança” aos manifestantes.
  • 15 de Novembro de 2022: Rafael Martins de Oliveira envia o documento “Copa 2022” (protegido por senha) a Mauro Cid, que pede uma estimativa total de valor. Éder Balbino, em conversas com Carlos Rocha, expressa desconforto com o conteúdo de um relatório “vazado” que não seria exato e não demonstrava fraude nas urnas. Carlos Rocha o orienta a não fazer declarações públicas.
  • 16 de Novembro de 2022: Éder Balbino reitera a Carlos Rocha suas preocupações técnicas sobre o relatório, assinalando as inverdades sobre o sistema de apuração eletrônica, provando a ciência de Carlos Rocha sobre a inexistência de fraude.
  • 18 de Novembro de 2022: Jair Bolsonaro e Filipe Garcia Martins Pereira se reúnem no Palácio da Alvorada para discutir os termos do decreto golpista. Braga Netto exorta manifestantes em frente ao Quartel, afirmando que “ainda não havia terminado e algo iria acontecer”.
  • 22 de Novembro de 2022: O Partido Liberal, Jair Bolsonaro e Walter Souza Braga Netto protocolam uma “Representação Eleitoral para Verificação Extraordinária”, solicitando a invalidação de votos de urnas mais antigas, baseada em um relatório técnico manipulado. A representação é indeferida por inépcia e falta de indícios.
  1. Hélio Ferreira Lima e Rafael Martins de Oliveira se conectam a antenas em Brasília, iniciando o monitoramento de locais sensíveis, como a residência do Ministro Alexandre de Moraes.
  • 23 de Novembro de 2022: Hélio Ferreira Lima se conecta a uma antena que cobria a região do Supremo Tribunal Federal, enquanto Rafael Martins de Oliveira se conectava à antena na região da residência funcional do Ministro Alexandre de Moraes.
  • 28 de Novembro de 2022:
  1.      Reunião de “Kids Pretos”: Militares com formação em Forças Especiais se reúnem em Brasília para discutir como influenciar seus chefes a aderir às iniciativas golpistas.
  2.     “Carta ao Comandante do Exército”: Uma minuta desta carta é enviada por Corrêa Neto a Fabrício Bastos, para ser referendada na reunião. O objetivo era pressionar o Alto Comando do Exército. A reunião estabeleceu ideias-força, como a criação de um “Gabinete de Crise” e a necessidade de o Exército falar com os Presidentes dos Poderes Legislativo e Judiciário, elegendo o Ministro Alexandre de Moraes como “centro de gravidade”.
  3.     Paulo Figueiredo antecipa o conteúdo da carta em programa de rádio/TV, buscando incitar os militares e descredibilizar os dissidentes.
  • 29 de Novembro de 2022: O Coronel Anderson Lima de Moura encaminha um link para assinatura da “Carta ao Comandante” online, incitando a subscrição. Paulo Figueiredo também divulga a carta em seu perfil no Twitter. O Comandante do Comando Militar do Sul adverte seus subordinados que a adesão é “inconcebível”. Mauro Cid confirma que o alerta “Já era esperado” e que Bolsonaro tinha ciência da ação. O General Freire Gomes confirma à PF que a publicação da carta visava pressioná-lo a aderir ao golpe.
  • 30 de Novembro de 2022: O Senado Federal realiza audiência para discutir a fiscalização das inserções de propagandas políticas eleitorais. Carlos Rocha, do Instituto Voto Legal (IVL), apresenta “estudos” falseados sobre fraude nas urnas eletrônicas e ataca o Poder Judiciário.
  • 6 de Dezembro de 2022: Jair Bolsonaro recebe de Filipe Garcia Martins a minuta final do Decreto golpista, que previa a decretação de novas eleições e a prisão de autoridades, inicialmente incluindo Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Rodrigo Pacheco, mas ajustada por Bolsonaro para prever apenas a prisão de Alexandre de Moraes. Três cópias do plano “Punhal Verde Amarelo” são novamente impressas por Mário Fernandes no Palácio do Planalto. Mário Fernandes relata a Mauro Cid que Bolsonaro citou que “o dia 12 [da diplomação] não seria uma restrição” para as ações, que poderiam ocorrer “até 31 de dezembro”.
  • 7 de Dezembro de 2022: O Decreto golpista é apresentado pela primeira vez a membros do alto escalão do Governo Federal, incluindo Jair Bolsonaro, Filipe Garcia Martins Pereira, General Freire Gomes, Almirante de Esquadra Almir Garnier Santos e General Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, em reunião no Palácio da Alvorada. Mário Fernandes envia mensagem a Mauro Cid indicando ciência da reunião. O General Freire Gomes reitera sua oposição ao plano golpista. O Almirante Garnier Santos, porém, se coloca à disposição de Jair Bolsonaro para cumprir o Decreto.
  • 8 de Dezembro de 2022: Mário Fernandes reitera a Mauro Cid a conveniência de agilizar as ações, apesar da diplomação em 12 de dezembro.
  • 9 de Dezembro de 2022:
  1.     Jair Bolsonaro se reúne com Marcelo Câmara, Filipe Garcia Martins Pereira e Braga Netto no Palácio da Alvorada para dar seguimento ao plano.
  2.     Mauro Cid informa o General Freire Gomes que Bolsonaro “enxugou” o texto do decreto e convocou uma reunião com o General Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira (Comandante do COTER), buscando seu apoio.
  3.     General Estevam Theophilo se reúne com Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Mauro Cid e Corrêa Netto trocam mensagens sobre a reunião. Mauro Cid informa que Estevam Theophilo “quer fazer… Desde que o Pr assine”, indicando seu compromisso de executar as medidas golpistas caso o decreto fosse assinado.
  4.     Terminais com codinomes Argentina, Áustria, Brasil e Gana são recarregados com crédito, parte da preparação para a “Operação Copa 2022”.
  • 10 de Dezembro de 2022: Marcelo Câmara informa Mauro Cid sobre os preparativos para a diplomação de Lula em 12.12.2022, destacando que o “Acesso do Ministro Alexandre [de Moraes] é o trecho cinco”.
  • 12 de Dezembro de 2022: No dia da diplomação de Lula e Alckmin, Marcelo Câmara e Mauro Cid trocam mensagens, indicando que o Ministro Alexandre de Moraes estaria “assustado”.
  • 13 de Dezembro de 2022: O terminal com o codinome “Gana” desloca-se de Goiânia para Brasília, conectando-se a antenas que cobriam a residência funcional do Ministro Alexandre de Moraes, sinalizando a proximidade da fase final da operação.
  • 14 de Dezembro de 2022: O General Paulo Sergio Nogueira de Oliveira apresenta uma nova versão do decreto golpista, com ajustes de Jair Bolsonaro, aos Comandantes do Exército (Freire Gomes), Marinha (Almir Garnier Santos) e Aeronáutica (Baptista Junior) no Ministério da Defesa. Freire Gomes e Baptista Junior confirmam sua recusa em aderir ao golpe. Almirante Garnier Santos reitera sua adesão. Braga Netto e Ailton Gonçalves Moraes Barros planejam ataques e campanhas de ódio contra Freire Gomes e Baptista Junior por sua oposição.
  • 15 de Dezembro de 2022:
  1.     Execução e Aborto da Operação “Copa 2022”: Agentes militares (codinomes Brasil, Argentina, Áustria, Gana), incluindo Rafael Martins de Oliveira, deslocam-se de Goiânia para Brasília para executar o plano de “neutralização” do Ministro Alexandre de Moraes, monitorando sua residência funcional e locais de trabalho. A operação é cancelada às 20h59 com a ordem “Abortar”, coincidindo com a confirmação de que o Comando do Exército não aderiu ao golpe. Os operadores não conseguiram cooptar o Comandante do Exército na última hora.
  2.     Lucas Rotilli Durlo busca orientações de Mário Fernandes após cumprimento de mandados de busca e apreensão, perguntando até quando o grupo deveria permanecer mobilizado.
  • 16 de Dezembro de 2022: O documento “HD_2022a.doc”, um plano para a criação de um “Gabinete Institucional de Gestão da Crise” a ser chefiado por Augusto Heleno e coordenado por Walter Souza Braga Netto após a consumação do golpe, é criado e impresso por Mário Fernandes no Palácio do Planalto.
  • 17 de Dezembro de 2022: Mário Fernandes visita Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Braga Netto orienta Ailton Gonçalves Moraes Barros a viralizar uma “notícia” sobre o General Tomás Paiva, considerado opositor do movimento golpista.
  • 19 de Dezembro de 2022: Ailton Gonçalves Moraes Barros faz uma postagem no Twitter convocando à imediata consumação do golpe de Estado, mencionando @jairbolsonaro, @genfreiregomes, @realpfigueiredo e outros, e ameaçando “responsabilizar e enterrar” os omissos.
  • 20 de Dezembro de 2022: Wladimir Matos Soares, que trabalhava na segurança da posse presidencial, envia informações a Sérgio Rocha Cordeiro sobre “Coordenador da Operação Posse” e declara que ele e sua equipe estão prontos para “defender o Palácio e o Presidente. Basta a canetada sair!”, mostrando-se ciente do decreto golpista.
  • 21 de Dezembro de 2022: Mauro Cid questiona Marcelo Câmara sobre o paradeiro do Ministro Alexandre de Moraes (“Professora”), que havia viajado para São Paulo.
  • 24 de Dezembro de 2022: Mauro Cid novamente pergunta a Marcelo Câmara sobre o paradeiro de Alexandre de Moraes, que estaria em São Paulo e retornaria para a posse em 31 de dezembro. As informações de Marcelo Câmara coincidem com o roteiro do Ministro.
  • 26 de Dezembro de 2022: Aparecido Andrade Portela cobra Mauro Cid sobre a realização do “churrasco” (codinome para o golpe), questionando se seria feito. Mauro Cid fomenta a esperança, afirmando: “ponto de honra! Nada está acabado ainda da nossa parte”.
  • 2 de Janeiro de 2023: Jair Bolsonaro recebe mensagem do Major-Brigadeiro da Aeronáutica, Maurício Pazini Brandão, informando que o “plano foi complementado” e perguntando se deviam desmobilizar a tropa ou permanecer em alerta. Alertas sobre manifestações em capitais e rodovias começam a ser difundidos pela ABIN.
  • 4 de Janeiro de 2023: Sérgio Cavaliere pergunta a Mauro Cid se “Ainda tem algo para acontecer?”, e Cid responde que “Depende para quem”, indicando que novos eventos estavam por vir.
  • 7 de Janeiro de 2023: Marília Alencar está plenamente ciente das “manifestações contra o resultado das eleições presidenciais” e recebendo informações diretamente da ABIN. Criação do grupo “CIISP MANIFESTAÇÕES” para aumentar o fluxo de informações.

8 de Janeiro de 2023: Ocorrem os eventos criminosos na Praça dos Três Poderes. A denúncia afirma que a ausência de medidas efetivas por parte da Secretaria de Segurança Pública do DF frente a alertas explícitos não pode ser atribuída à falta de preparo, mas à intenção de legitimar um ato de exceção, como o Estado de Defesa, já idealizado por Anderson Torres