O podcast Mano a Mano, apresentado por Mano Brown, rapper, compositor brasileiro, liderança dos Racionais MC’s é um fenômeno de educação horizontal, um exemplar do exercício de comunicação em sua plenitude. Começou em 2021 mostrando a que veio com o melhor da reflexão e da informação, que são compartilhadas numa plataforma que acolhe pensadores, intelectuais, artistas, profissionais liberais. Pelo Mano a Mano já passaram Karol Conká e Djonga, os atores Wagner Moura, Lázaro Ramos e Taís Araújo, Drauzio Varella, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Sueli Carneiro.

Seguindo como um dos podcasts mais ouvidos no Spotify, Mano a Mano renova as práticas de ensino-aprendizagem tomando o diálogo e o saber (oriundo de vários focos) como matéria-prima para a formação de leitores e leitoras em todo o mundo. Em tempos tão marcados pelo palavrório, pela verborragia nas redes sociais, uma espécie de psitacismo, a fala do papagaio, como lembra Muniz Sodré, a entrevista-conversa virtual com Mano Brown é discurso que promove o laço social, é a palavra que emancipa, tornada correia de transmissão para consolidar
um projeto civilizatório.

O líder dos Racionais MC’s conseguiu  renovar as práticas  de ensino e aprendizagem, tomando o diálogo  e o saber de seus diversos entrevistados como matéria-prima para a formação  de leitoras e leitores

Mano a Mano afasta-se, e muito, de uma ação comunicativa calcada na lacração e tombamento (não esqueçamos que tombar e lacrar são verbos funerários) para enunciar o que precisa ser anunciado por vozes inescapáveis que pensam e intervém no tecido social. Vozes essas que ganham uma amplitude de escuta (e escutar uma decisão política) porque a ética do bem dizer é o princípio que constrói vínculo entre quem diz e quem escuta.

Não é à toa que o programa é hoje uma das principais referências (e obrigatórias, diria eu) para a compreensão da nossa temporalidade que se faz no trançado entre passado, presente e futuro. É este trançado que flagra e revela o que nos destitui, de um lado, mas também é esse trançado que nos leva “a treinar a imaginação e sair em visita”, como diria Hanna Arendt, para projetarmos mundos outros.

Pelas vozes de uma Sueli Carneiro, de um Lázaro Ramos e Taís Araujo irradia-se o que de melhor o Brasil pode oferecer para o Brasil. Ouvir Mano a Mano é um dever cívico, um compromisso ético e, sobretudo, uma lufada de oxigênio no que se designou de humanidade.