De gravadora nova, Alaíde Costa prepara homenagem a Dalva de Oliveira em seu próximo álbum

Alaíde Costa assinou contrato com a gravadora Deck
Alaíde Costa assinou contrato com a gravadora Deck Foto: Divulgação

A cantora Alaíde Costa acaba de assinar contrato com a gravadora Deck. O primeiro lançamento, idealizado como uma homenagem à lendária intérprete Dalva de Oliveira, será em 2025 e tem produção de Thiago Marques Luiz, empresário e produtor que acompanha Alaíde desde 2004.

A assinatura com a gravadora traz novidades de peso: além da já confirmada participação de Maria Bethânia em “Ave Maria no Morro” (Herivelto Martins), entre outras, o álbum contará com Roberto Menescal e Yuri Queiroga nos arranjos da faixa “Sebastiana da Silva” (Ataulfo Alves). O convite a Menescal surgiu após sua apresentação ao lado de Alaíde no Carnegie Hall, em Nova York, em 2023, durante as comemorações dos 60 anos da bossa nova.

Produzir esse tributo a Dalva de Oliveira tem um significado especial para Alaíde Costa. “A Dalva sempre foi uma grande inspiração para mim, e poder gravar este álbum é a realização de um sonho que carrego há muitos anos. Assinar com a gravadora Deck é um momento de muita alegria e renovação na minha trajetória. Estou muito feliz em poder contar com uma equipe que valoriza a música brasileira e me oferece a oportunidade de continuar levando minha arte para novas gerações, celebra Alaíde.

Thiago Marques Luiz compartilha o entusiasmo e relembra o esforço para viabilizar o projeto. “Eu sabia o quanto isso significava para a Alaíde, e fiz de tudo para que este projeto se tornasse realidade. Ver esse sonho dela sendo realizado é uma das maiores alegrias da minha vida”, afirma.

Com esse lançamento, Alaíde Costa não apenas reverencia a memória de Dalva de Oliveira, mas reafirma sua relevância na música brasileira, reunindo grandes nomes para celebrar um legado incomparável. O novo álbum promete ser um marco tanto na carreira da artista quanto na preservação da história da música popular brasileira.

Estreia aos 11 anos

Era início da década de 1950 em Água Santa, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, quando uma adolescente colava os ouvidos no aparelho de rádio, atenta, esperando a voz de Silvio Caldas entoar “Noturno em Tempo de Samba”. Ao ouvir os primeiros versos, parava para anotar a letra e memorizar a melodia. Quando aprendeu a canção, decidiu: iria ao programa de calouros de Ary Barroso, na Rádio Tupi, para apresentá-la.

Não era a primeira vez de Alaíde Costa em um palco. Aos 11, seu irmão mais velho (Adilson, que se tornou jogador de futebol) a havia convencido a se apresentar em uma sessão para cantores amadores no circo montado no bairro, dizendo à garota tímida que, caso não fosse, a polícia iria buscá-la.

Dali em diante, a menina que gostava de cantarolar — mas achava que seria professora — passou a ser inscrita pelos vizinhos em toda oportunidade que aparecia, já que ganhava os prêmios. Aos 16, apaixonada pela canção cheia de climas interpretada por Caldas, resolveu ir se apresentar por conta própria. A escolha da música, a audição cuidadosa em casa e a interpretação lhe renderam nota máxima. “Aí tomei gostinho”, conta.

Aos 88 anos, uma das maiores vozes da música brasileira é também uma artista que sempre se guiou pelo que quis fazer e pelo que acreditava fazer melhor, o que não foi fácil. “Ah, mas você é negra, tem que cantar uma coisa mais animadinha, sabe? Um sambinha”, ouvia. “Me recusei a entrar nessa porque não daria certo”, afirma, categórica. Seu primeiro álbum foi lançado dois anos antes de “Chega de Saudade” (1958), música que marca o início da bossa nova, mas só recentemente ela passou a ser reconhecida entre os grandes nomes do gênero — assim como Johnny Alf, precursor do estilo e, não por acaso, também negro. Durante a carreira, teve grandes parceiros musicais como o próprio Johnny Alf, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto, Milton Nascimento, Oscar Castro Neves, entre outros.

Apesar dos infortúnios, a cantora continua ativa, defendendo a Bossa Nova, colecionando reconhecimentos e celebrando novas parcerias. Em 2020, seu talento como intérprete lhe rendeu o Troféu Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante, no Festival de Gramado. Alaíde se tornou a artista mais velha a ser laureada com o prêmio.

Em um show que homenageou João Gilberto em abril de 2023, em São Paulo, falou: “Vou fazer 88 anos, tenho 70 de carreira, e olha que loucura: as pessoas me descobriram agora!”. Alaíde nunca parou de cantar, nunca ficou sem gravar (são mais de 20 discos) ou se apresentar em shows. Alaíde é uma das poucas artistas vivas que passou por todos os formatos de mídia – desde o 78RPM, LP, K7, CD e agora o streaming. Nos últimos anos, parcerias deram novo vigor a uma carreira cheia de coerência artística. Em 2022, lançou “O que meus calos dizem sobre mim”, produzido por Emicida, Pupillo (Nação Zumbi) e Marcus Preto, álbum que terá segundo volume em 2024 — eleito o melhor lançamento fonográfico de MPB no 30º Prêmio da Música Brasileira, com a cantora aplaudida de pé por todo o Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Em maio de 2023, Alaíde se apresentou em Portugal com a Orquestra de Jazz do Algarve sendo um grande sucesso de crítica e público além mar. Além disso, se apresentou no Carnegie Hall em Nova Iorque em outubro de 2023, no show The Greatest Night Bossa Nova em comemoração aos 60 anos da Bossa Nova, no qual foi aplaudida de pé por mais de cinco minutos. Em novembro de 2023 foi agraciada com o Troféu Raça Negra como melhor cantora do ano.

Em fevereiro de 2024 lançou o álbum “Pérolas Negras” ao lado das amigas Eliana Pittman e Zezé Motta no qual Alaíde transforma o sucesso de Salgadinho “Recado à minha amada” em uma bossa nova dos tempos modernos.

Alaíde Costa lançou em 19 de julho o segundo disco da trilogia produzida por Emicida, Pupillo (Nação Zumbi) e Marcus Preto, intitulado “E o tempo agora quer voar”. Acabou de gravar, ao lado de Guilherme Arantes, o grande sucesso do compositor, “Meu mundo e nada mais”, que já está disponível em todas as plataformas digitais. Está em turnê por todo o Brasil com três shows: “E o tempo agora quer voar”, com o repertório do último disco, “Alaíde canta Domingo de Gal Costa e Caetano Veloso” e “Pérolas Negras”,  no qual se apresenta ao lado das amigas Eliana Pittman e Zezé Motta.