Fã de Provocações, Marcelo Tas lembra que ele próprio foi duas vezes ao programa. Ao jornal O Estado de S. Paulo, o apresentador fala do desafio de suceder Antônio Abujamra.

Desde quando você e a TV Cultura estão falando em retomar o Provocações?

Tive a primeira conversa no final do ano passado, mas a coisa engrenou agora, na volta das minhas férias. Fui para a Índia e fiquei um mês e meio lá. Voltei no final de fevereiro, foi quando a gente assinou mesmo. O convite é muito honroso, porque sou muito influenciado por Abujamra. Fiquei honrado e também com muitas dúvidas se eu deveria aceitar, se estaria à altura do convite. Acho que um programa desse tamanho, dessa importância é uma coisa que só dá para aceitar quando a gente faz 60 anos, e, como vou fazer 60 este ano, achei que poderia (risos).

Muito do programa original é mantido, como enquadramento de câmera, luz?

Sim, o que tem diferente é que sou um cara que trafega por várias mídias, e aí vai ter um componente bastante importante de interação com as redes. Então, criamos #Provoca, que vai entrar várias vezes durante o programa, vai ter perguntas dos telespectadores para os nossos convidados. Por exemplo, o primeiro convidado foi uma decisão dos telespectadores. Joguei na rede: quem vocês querem que seja o primeiro entrevistado. Pela hashtag, o nome do Ciro Gomes foi maioria absoluta.

Danilo Gentili é outro entrevistado seu. Ele teve toda uma trajetória desde CQC, há polêmica hoje em relação ao humor que ele faz. Como foi falar com ele, que você conhece desde o CQC, nesse novo contexto?

Foi um desafio muito legal, porque realmente aconteceu com o Danilo um desenvolvimento em outras direções na carreira dele. Muitas vezes, eu discordo dele, nas posturas que ele tem, mas eu respeito muito o talento dele. Admiro não só o talento, mas também a dedicação ao trabalho. Procurei explorar muito coisas que ninguém sabe sobre ele, revelar coisas que ele esconde. No caso da história de vida, o pai é a figura mais importante da vida do Danilo. O pai teve uma morte precoce, morreu nos braços do Danilo. É uma cena forte que ele contou. Muita gente que apedreja o Danilo não faz ideia que ele morou num cortiço, trabalhava numa empresa de lixo, trabalhava de office-boy. E obviamente não aliviei para ele também. Procurei entender várias coisas que ele às vezes defende. Aliás, comprovei que algumas coisas que ele defende, ou que ataca, ele não conhece. Uma delas que me incomodou muito, por exemplo, foi quando ele ficou obcecado com o (educador) Paulo Freire, como se fosse o demônio. Coordenei o telecurso na TV Globo, e o Paulo Freire era nossa bússola. Fiz um testezinho com Danilo para ver se ele conhecia Paulo Freire e ele não conhecia. Aí até foi legal. Ele disse: ‘Então, me manda aí um livro de Paulo Freire’ (Tas imita a voz de Danilo). Vou mandar. Acho que resolvemos essa questão. Já valeu o Provocações para mim. O Professor Tibúrcio ensinou Paulo Freire para Danilo Gentili na TV Cultura.

É um crossover incrível…

Sim, o encontro do CQC, com Rá-Tim-Bum, com The Noite, e com Abujamra.

E se lembrarmos de seu personagem, o repórter Ernesto Varela, ele era um provocador nato?

Total, acho que o Provocações tem mais a ver com o Ernesto Varela do que o CQC, porque o Ernesto Varela realmente tinha interesse na resposta para a pergunta que ele fazia. O CQC era um programa onde fazíamos pergunta, mas nem sempre tínhamos a capacidade de ouvir a resposta. O Provocações é o oposto: é um programa em que estou fazendo uma pergunta e o mais importante é eu ouvir a resposta. É um espaço raríssimo na TV. É por isso que eu topei fazer.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.