Filha de motorista de ônibus e cabeleireira, a dona da rede de clínicas odontológicas Sorridents, Carla Renata Sarni, começou a carreira de dentista logo depois de formada e não imaginou que chegaria tão longe. E foi longe mesmo. Em 2016, depois de anos investindo no negócio aqui no Brasil, a empresa virou case na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Ela e seu marido foram convidados para palestrar na instituição. Em abril deste ano, ela falará para alunos de mais de 80 países também a convite de Harvard. A empresária e sua equipe já estudam abrir outras filiais, inclusive na Flórida. Carla conversou com IstoÉ e contou um pouco sobre sua trajetória e como administra a marca nos dias de hoje:

Como surgiu o nome da marca?

Eu estudava em Alfenas, Minas Gerais, e na época da faculdade a gente fazia atendimento gratuito e via as pessoas carentes felizes e sorridentes. O nome ficou na minha cabeça e desde então pensei em usá-lo caso tivesse algo.

Quando você abriu seu primeiro consultório?

Quando me formei vim morar com os meus tios em São Paulo e tinha um consultório em cima de uma padaria na zona leste da capital paulista. Eu alugava a cadeira e o espaço não era meu. Depois de quase um ano, eu peguei dinheiro no banco para pagar em 12 anos e comprei o consultório. Eu construí uma clínica bem equipada, com ar condicionado, anestesia sem agulha e muitos equipamentos.

Em que ano você teve a primeira franquia?

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A minha clínica foi crescendo e fui convidando colegas de outras especialidades para trabalhar comigo. No começo eram 5 salas, depois aumentou para 12. Eles percebiam que o negócio estava indo bem e começaram a falar que queriam ter um espaço como o meu. Em 2005, tínhamos 23 unidades próprias e viramos franquia em 2007. Buscava a excelência. Tudo que eu lucrava investia na clínica.

 Quantas franquias há no mercado e quantos funcionários?

Hoje nós temos 240 clínicas em 16 estados. No total, entre dentistas e colaboradores já são 12 mil funcionários. O investimento médio para ter uma franquia é de R$ 150 mil a R$ 600 mil.

 Qual o público que mais adquire franquias hoje?

Temos diversos públicos. Desde empresário até engenheiro que quer aumentar a renda e tem condição para isso. Nós analisamos bem o perfil, por isso não é tão rápido o processo para adquirir uma franquia. Tudo é analisado.

Existe uma fórmula certa para empreender?

Sim. Foco e planejamento. Eu costumo dizer que se você quer comprar uma casa na praia, você tem que colocar uma data para fazer isso. Com um negócio não é diferente. É preciso se organizar, colocar uma meta, uma data, se capacitar, estudar e se dedicar mesmo. Não existe fórmula mágica. Quando comecei sempre buscava crescer, fiz cursos de aperfeiçoamento, aulas no Sebrae e pós graduação em uma faculdade de negócios. Desde que comecei a trabalhar na área, trabalhava de domingo a domingo, levava meus filhos para clínica e quase não tinha folga. Não expandi as clínicas do dia pra noite, posso dizer que foi uma trajetória de 20 anos. E não é fácil. Se você desistir nos dois primeiros anos, é melhor nem começar.

Por que abrir uma filial fora do país?

Nos Estados Unidos, tratamento dentário é muito caro e é muito difícil achar um profissional bom. O governo americano exige um processo de quase doze anos para que o profissional se torne um dentista e muitas vezes não há cobertura de muitas especialidades. Como a marca é estudada lá fora e trabalhamos com isso há mais de 20 anos é um bom investimento. Mas não é fácil. O processo é mais burocrático que no Brasil e me divido em reuniões entre lá e aqui.

Alguma vez você chegou próximo da falência?

Sim. Em 2009 resolvi fazer uma expansão da rede e peguei uma linha de crédito do governo que hoje não existe mais. Na época, os juros eram baixos, mas rapidamente essa modalidade de empréstimo acabou e os juros eram altíssimos. Fiquei com um prejuízo e comecei a vender carro, apartamento. Eu parcelei a dívida em cinco anos e foi uma época bem complicada.


Você esperava alcançar esse sucesso?

Não. Nunca passou pela minha cabeça. Hoje eu olho pra trás e me sinto realizada por tudo que conquistei. Consigo dar uma boa educação para os meus filhos e viver bem. Eu tive que ralar desde cedo. Vendia água na porta da faculdade para ajudar a pagar a mensalidade, meus colegas me chamavam de camelô.


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