A política é capaz de trazer novidades que surpreendem até mesmo o mais talentoso cientista político. Em 2018, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) se apresentou como um candidato moderado demais para o confronto que se abria para a presidência da República. O resultado foi bem previsível. Ele terminou com menos de 5% e em 4º lugar no primeiro turno. A migração dos votos tucanos foi em revoada para o presidente Bolsonaro. Natural, já que os eleitores tucanos eram antes de tudo antipetistas.

O médico vem da escola política do também ex-governador Franco Montoro. Falas ponderadas, poucas polêmicas, relacionamento amplo, mas sem a pimenta necessária para encantar o povo brasileiro. Apelidado de picolé de chuchu pelos detratores e visto como um tiozão bacana pelos simpatizantes, Alckmin pode ser as duas coisas ao mesmo tempo. Agrada, sobremaneira, os eleitores paulistas. E também teria espaço para uma candidatura ao Senado ou à vice-presidência.

Ao cargo de governador, sai na frente em todas as pesquisas, até porque o seu adversário mais direto, João Doria (PSDB), está fora da disputa porque pleiteia a Presidência. A discordância entre eles é antiga e Alckmin entende que foi preterido por Doria em 2018. Por isso, são favas contadas a mudança de partido por parte do ex-governador. O destino mais provável seria uma sigla de direita. A composição entre DEM e PSL parecia ser o caminho mais provável. Mas uma série de imbróglios na sigla tem afastado nomes importantes. Um porto seguro, no entanto, é o PSD. Partido com excelente crescimento e com possibilidades amplas, mas o seu presidente é um adversário histórico, o ex-prefeito Gilberto Kassab.

A grande novidade são as especulações que levariam Alckmin ao PSB. O partido tem feito esforços para se estruturar e se transformar no mais importante aliado de Lula. Já levou o deputado Marcelo Freixo, ex-filiado do PSOL, e o governador Flávio Dino, ex-filiado do PCdoB. No PSB, ele se reencontraria com Márcio França, que foi seu vice-governador. A relação é das melhores. Mas a estratégia conta com a retirada de candidatura para o governo do Estado de São Paulo para lançá-lo em uma nova empreitada: ser candidato a vice de Lula. Fosse dois ou três anos atrás, as negociações soariam como piada. Mas hoje a engenharia é bem possível, além de ser fácil de justificar: todos querem se unir contra o bolsonarismo.