Diante da luta incessante e nem sempre eficaz contra o desmatamento, políticos e investidores da América do Sul pleitearam nesta quarta-feira (25), no Fórum Econômico Mundial de Davos, novas formas de exploração sustentável da Amazônia, para que sua destruição deixe de ser rentável.

“Trata-se de regulamentar, legislar e assentar as bases para que as pessoas da floresta se transformem em empresários, que é o que elas realmente desejam”, afirmou o brasileiro Gustavo Montezano, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O BNDES tem diversas linhas de crédito para reverter uma cultura que, segundo reconheceu Montezano, durante anos considerava que “destruir a floresta significava gerar valor econômico” e que apenas agora está começando a mudar.

A bacia do Amazonas, que abrange 7,4 milhões de km², cobre quase 40% da América do Sul e se estende por nove países, com uma população estimada em 34 milhões de pessoas, das quais dois terços vivem em cidades.

Nesse sentido, muitos pedem o fortalecimento da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que existe desde os anos 1970 e que, em 2019, reafirmou sua ambição transnacional, apesar de nem todos os países da região participarem dela.

O presidente colombiano, Iván Duque, defendeu uma política de “punição e incentivo”, ou seja, punir o desmatamento e, ao mesmo tempo, incentivar como alternativa econômica o cultivo sustentável de frutos como cupuaçu, açaí e camu-camu.

Depois do Brasil, o Peru é o segundo país com mais território na Amazônia, “uma região historicamente esquecida pelo Estado”, segundo a vice-presidente peruana, Dina Boluarte, que reivindicou a compra “a preços justos” dos frutos cultivados na região.

Contudo, esta ‘bioeconomia’ – definida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) como a transformação sustentável de recursos biológicos – necessita do apoio de governos para prosperar e ser uma alternativa a atividades como a pecuária e o garimpo, que destroem a floresta tropical.

O economista venezuelano Ricardo Hausmann, professor em Harvard e ex-ministro em seu país nos anos 1990, enfatizou que não são as grandes cidades, como Manaus e Iquitos (Peru), as que causam o desmatamento, mas atividades como a pecuária.

“Da mesma forma que não temos as tecnologias para deter o aquecimento global, ainda não temos as tecnologias e os modelos de negócio” para salvar a floresta tropical, afirmou.

Um estudo promovido por Hausmann em diversos departamentos amazônicos de Peru e Colômbia revelou que a proximidade de estradas – construídas pelos governos locais – privilegia a pecuária (após o desmatamento), uma atividade que precisa de boas ligações para vender seus produtos.

“Noventa por cento do desmatamento ocorre a dez quilômetros das estradas terciárias. E quem constrói as estradas terciárias? Os prefeitos e os governadores”, afirmou, destacando as contradições que existem muitas vezes entre as políticas locais e nacionais.

Também causa preocupação a biopirataria, a exploração de recursos biológicos que não apenas afetam a natureza, mas também os povos indígenas, como o caso da extração de plantas medicinais por parte de grandes companhias, sem benefícios para a população.

No plano internacional, os mercados de carbono tampouco estão dando os resultados esperados porque os preços por tonelada de CO2 são ainda muito baixos para compensar as atividades nocivas para a Amazônia.

“Apenas com os preços corretos, as pessoas deixarão de fazer o que estão fazendo. Mudar os incentivos será mais efetivo do que a coerção”, opinou Mário Mesquita, economista-chefe do banco brasileiro Itaú Unibanco.

Apesar de todas essas dificuldades, Helder Barbalho, governador do estado brasileiro do Pará, o maior produtor mundial de açaí, se mostrou otimista e garantiu que ainda é possível “a conciliação das pessoas com a economia” para poder recuperar a Amazônia.