David Sassoli, da televisão para a presidência da Eurocâmara

David Sassoli, da televisão para a presidência da Eurocâmara

O socialdemocrata italiano David Sassoli, falecido nesta terça-feira (11) aos 65 anos, presidia o Parlamento Europeu desde 2019, um cargo assumido de surpresa por este ex-apresentador de televisão que há mais de dez anos deu o salto para a política.

Foi com mão firme que este italiano dirigiu os debates na Casa, desde sua posse. A eleição de Sassoli resultou de um pacto entre as principais formações políticas e governos europeus para distribuir as presidências das três instituições comunitárias.

Em virtude desse pacto, a direita obteve a presidência da Comissão Europeia, com Von der Leyen; os liberais de centro, a liderança do Conselho Europeu, com Charles Michel; e os socialdemocratas, o Parlamento.

Sua nacionalidade, seu partido (o segundo na Câmara europeia) e seu conhecimento da instituição, na qual havia ocupado a vice-presidência na legislatura anterior, fizeram dele a pessoa certa, no lugar certo, no último minuto.

Seu mandato de dois anos e meio se viu marcado pela crise sanitária da covid-19, que obrigou o Parlamento Europeu, única instituição comunitária eleita diretamente, a adotar o teletrabalho.

Mesmo trabalhando de forma remota, sua atenção para com sua equipe, seu senso de organização com um sistema de votação a distância e sua capacidade de resistir à pressão francesa para que os deputados voltassem para Estrasburgo, sede do Parlamento, valeram-lhe o respeito da instituição.

Neste período pandêmico, Sassoli disponibilizou as instalações vazias do Parlamento em Estrasburgo e em Bruxelas para a preparação de refeições para pessoas carentes e para a instalação de um centro de testes de detecção da covid-19.

Recuperado de uma leucemia, Sassoli teve na saúde seu calcanhar de Aquiles. Fumante inveterado e amante da boa vida, foi internado em estado grave em setembro, por uma pneumonia que o manteve semanas afastado do Parlamento.

Em 26 de dezembro, voltou a ser internado, “devido a uma complicação grave por uma disfunção do sistema imunológico”, informou seu porta-voz, Roberto Cuillo, na segunda-feira (10), apenas algumas horas antes de anunciar seu falecimento.

– Apresentador da RAI –

Nascido em 30 de maio de 1956 em Florença, Sassoli estudou Ciência Política. Começou sua carreira como jornalista na década de 1980, atuando em pequenos jornais e agências de notícia até 1992, quando foi para a rede estatal de rádio e televisão RAI. Nela, tornou-se um de seus principais apresentadores.

Entrou para a política em 2009, quando o ex-prefeito esquerdista de Roma Walter Veltroni organizou a fusão dos dois maiores partidos de esquerda e centro. Com isso, nasceu o Partido Democrático Italiano (PD).

Nas eleições europeias de 2009, apresentou-se como candidato do PD em um dos cinco distritos eleitorais da Itália e foi eleito com mais de 400.000 votos. Este sucesso afastou Sassoli das telinhas, obrigando-o a se concentrar em sua carreira política no Parlamento Europeu. Na Casa, liderou a delegação do PD.

Em 2013, foi pré-candidato à prefeitura de Roma, mas foi derrotado por Ignazio Marino nas primárias de sua legenda. Desde então, este pai de dois filhos se dedicou à instituição europeia.

Em 2014, foi reeleito eurodeputado e, em julho, assumiu a vice-presidência do Parlamento responsável pelo orçamento e pela política euromediterrânea.

Apesar de seus compromissos políticos, dizia não ter “abandonado completamente sua carreira no jornalismo” e colaborava com vários jornais e revistas italianos.

É coautor, junto com Francesco Saverio Romano, do livro “Il potere fragile. I consigli dei ministri durante il sequestro Moro” (“Poder frágil. Os Conselhos de Ministros durante o sequestro de Moro”, em tradução livre), dedicado aos chamados “Anos de Chumbo”.

“Nada é possível sem os homens, nada dura sem as instituições”, declarou ele para seus colegas deputados, antes de sua eleição, citando uma frase de Jean Monnet, um dos pais fundadores da UE.