BRASÍLIA (Reuters) – A parcela da população que considera a ditadura melhor do que a democracia em certas circunstâncias chegou ao menor patamar já registrado pelo Datafolha, segundo pesquisa do instituto divulgada nesta sexta-feira, em meio a reações de instituições e da sociedade civil a ataques do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral brasileiro.

De acordo com o levantamento, apenas 7% da população consideram que “em certas circunstâncias, é melhor uma ditadura”. Em setembro de 2021, data de última pesquisa do Datafolha que abordou esse tema, essa faixa correspondia a 9%. A série histórica da pesquisa se inicia em 1989.

Para 75%, “a democracia é sempre melhor que qualquer outra forma de governo”. Esse patamar, o mais alto já verificado pela sondagem desde junho de 2020, indica que 3 a cada 4 pessoas defendem a democracia em detrimento de outra forma de governo. Para 12%, “tanto faz” o regime.

Os números foram colhidos em uma semana marcada pela posse do ministro Alexandre de Moraes na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), solenidade transformada em uma enfática defesa institucional das urnas, do sistema eleitoral e da democracia, reunindo chefes do Poderes da República, altos magistrados, ex-presidentes e presidenciáveis, entre outras autoridades.

A cerimônia também ilustrou o isolamento de Bolsonaro em suas investidas, sem provas, contra as urnas eletrônicas, o sistema eleitoral e integrantes da cúpula do Judiciário.

Os dados trazidos pela pesquisa também são divulgados pouco mais de uma semana após atos na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) em que personalidades dos mais variados setores e entidades de diversos campos políticos se posicionaram e apontaram a necessidade de respeito ao resultado das urnas nas eleições de outubro, além defenderem princípios da democracia e do Estado de Direito por meio de cartas e manifestos.

Segundo a pesquisa, o estrato dos que têm posição favorável a uma ditadura é baixo mesmo entre apoiadores de Bolsonaro: 9% declararam apoio a um regime ditatorial, 77% defenderam a democracia e 10% responderam que tanto faz. Outros 3% disseram não saber.

Entre os que se declaram eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 6% apoiam a ditadura em algumas circunstâncias, 74% defendem a democracia e 13% avaliam que tanto faz, ao passo que 6% não souberam responder.

A sondagem revelou ainda que 49% dos entrevistados acreditam que não há “nenhuma chance” de haver uma ditadura no país. Há os que avaliam haver “um pouco de chance” de um regime ditatorial (25%) e 20% responderam que há “muita chance”, enquanto 7% responderam que não sabem.

A pesquisa Datafolha entrevistou 5.744 pessoas em 281 cidades do país entre os dias 16 e 18. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

(Reportagem de Maria Carolina Marcello)

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