Milhares de pessoas seguem nas ruas de Bangladesh, nesta segunda-feira, 5, em um sinal de que a renúncia da primeira-ministra, Sheikh Hasina, que fugiu do país em um helicóptero do Exército, não bastou para conter os manifestantes no país.

Como começou?

A revolta dos manifestantes é movida por uma política pública de reservar cotas do funcionalismo público para determinados setores. Essa política foi reforçada na gestão da primeira-ministra, enquanto os índices de desemprego, em especial dos mais jovens — maioria nos protestos –, se mantiveram elevados.

Das ruas à invasão da sede do governo: os protestos que derrubaram a primeira-ministra em Bangladesh
Ônibus incendiados diante da Faculdade de Medicina Bangabandhu Sheikh Mujib de Daca após confrontos na capital de Bangladesh – AFP

O que está em jogo?

Os protestos estudantis ficaram mais intensos em julho, mês em que ao menos 150 mortes foram registradas em confrontos com as forças de segurança. Ao menos 100 novas mortes foram registradas no domingo, 4, e ao menos 20 nesta segunda, segundo a agência de notícias AFP.

Os manifestantes são contrários a um antigo sistema de cotas para empregos no setor público que favorece os descendentes de ex-militares que, em 1971, lutaram pela independência de Bangladesh do Paquistão, além de outros grupos.

O governo tinha suspendido esse sistema de cotas, mas um recurso judicial abriu caminho a sua reintrodução até que uma decisão da Suprema Corte ordenou que a cota dos ex-militares fosse reduzida de 30% para 5%.

Além desses 5%, o tribunal decidiu que 93% dos postos de trabalho deveriam ser atribuídos com base no mérito, sendo os 2% restantes reservados a grupos minoritários.

Após a decisão, os protestos abrandaram durante vários dias, mas em seguida se transformaram em um movimento antigoverno mais amplo, com pautas que não se limitam à cota pública. Estudantes também passaram exigir Justiça para as vítimas da brutalidade policial durante a repressão aos protestos.

Manifestantes levam itens furtados da residência oficial da primeira-ministra | Mohammad Ponir Hossain/Reuters
Manifestantes levam itens furtados da residência oficial da primeira-ministra | Mohammad Ponir Hossain/Reuters

Primeira-ministra no alvo

Hasina ocupava o cargo há mais de 15 anos e analistas consideram que ela preserva a autoridade com “mão de ferro”, autorizando repressões violentas quando é alvo de manifestações.

Uma das políticas mais poderosas de Bangladesh, ela já havia ocupado o cargo entre 1996 e 2001 e lidera um grupo político que tem maioria no Parlamento.

Sob sua gestão, o país registrou alvanços no enfrentamento da pobreza, igualou a renda per capita da Índia e registra taxas anuais de crescimento superiores a 6% desde 2009. Apesar disso, os índices nacionais de desemprego são elevados, em especial entre os mais jovens — nas eleições de 2023, quando Hasina foi reeleita, parte desse grupo etário boicotou o pleito e relatou restrições à liberdade de fazer oposição na disputa.

Manifestantes incendeiam itens retirados da residência oficial da primeira-ministra em Bangladesh | Mohammad Ponir Hossain/Reuters
Manifestantes incendeiam itens retirados da residência oficial da primeira-ministra em Bangladesh | Mohammad Ponir Hossain/Reuters

O que acontece agora?

Na invasão à residência oficial da primeira-ministra, manifestantes furtaram computadores, televisores e mobília e comemoraram, com cantos direcionados, a renúncia e a fuga de Hasina, como registrou a agência Reuters.

Após a renúncia, o chefe do Exército anunciou em rede televisiva a formação de um governo interino.