Nelson Gonçalves (1919-1998) deixou como herança uma carreira marcada por sucessos estrondosos, mas também uma série de histórias duvidosas a seu respeito. “Criou-se um mito em torno do Nelson”, contou, em 2002, o escritor Marco Aurélio Barroso, autor de A Revolta do Boêmio – A Vida de Nelson Gonçalves, em que mais retifica que ratifica as informações sobre o cantor. “O problema é que ele mais ajudou a alimentar que destruir as falsas histórias, por ser uma pessoa muito insegura.”

Gaúcho de Livramento, mas criado em São Paulo, Antonio Gonçalves Sobral dizia que a vida se resumia a uma luta eterna. De fato, sofreu a decepção de ser rejeitado, no início da carreira, por Ary Barroso, em seu programa de rádio A Hora do Calouro.

Sua primeira gravação ocorreu em 1941, quando cantou um samba de Ataulfo Alves e, durante toda aquela década, suas apresentações buscavam imitar o timbre de Orlando Silva. Foi em 1952, quando começou a gravar as músicas de Adelino Moreira, que Nelson se firmou como o maior cantor do Brasil, fama intocável até 1957, quando começou a utilizar drogas.

A consagração tornou-o um homem instável, colecionando mulheres e filhos que eram simplesmente abandonados. “A família de Nelson em uma década não é a mesma nos dez anos seguintes”, conta Barroso, que relata a violência com que tratava suas mulheres e a desatenção com o filhos, para os quais não pagava pensão. “Ele não fazia isso por maldade, mas por completo desconhecimento em como enfrentar a vida em família.”

O pior momento aconteceu em 1966, quando foi preso por portar cocaína, vício maldosamente explorado pelo jornalista David Nasser, na revista O Cruzeiro. Nelson conseguiu reverter a situação e, nos anos 1970, quando modernizou o repertório, gravou com admiradores, como Bethânia, Chico, Milton e Caetano – o último remanescente do estilo de voz empostada não estava preso ao passado. Deixou sucessos como Negue, Fica Comigo Esta Noite, A Volta do Boêmio, Escultura e Meu Vício É Você. Em quase 60 anos, cantou samba-canção, mas também tango, bolero, choro, valsa, modinha e outros gêneros.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.