Atual número dois do ranking mundial, o brasileiro Darlan Romani é um dos favoritos ao ouro na prova do lançamento do peso do Mundial de atletismo de Doha, que será disputado entre 27 de setembro e 6 de outubro na capital catari.

“A gente está treinando bem, claro que sempre queremos mais, queremos continuar melhorando e o intuito é esse, chegar da melhor forma esportiva possível ao Mundial, que é a competição para a qual treinamos o ano todo”, explicou Darlan em entrevista à AFP.

O atleta de 28 anos treina diariamente nas instalações da Confederação Brasileira de Atletismo, em Bragança Paulista, para tentar consolidar sua evolução dos últimos anos.

Darlan chega ao Mundial depois de conquistar o ouro nos Jogos Pan-Americanos de Lima com direito a recorde da prova (22.07 m).

Esse resultado veio quando Darlan não estava em seu melhor estado físico devido a uma infecção na garganta que culminou em uma febre.

“Eu não estava 100%, mas estava conseguindo competir. Fiz uma sequência, consegui crescer na prova e no ultimo arremesso consegui os 22 metros, que era nosso planejamento”, analisou.

“A gente sonhava com isso, fazer o recorde pan-americano, colocar nosso nome na historia, um brasileiro recordista pan-americano numa prova em que o país nunca teve tradição”, comemorou.

– “Compito comigo mesmo” –

Antes do Pan, Darlan havia evidenciado a ótima faze na etapa de Eugene da Diamond League, em 30 de junho, quando conquistou o ouro após superar seu recorde pessoal e o da competição em três lançamentos seguidos: 22.46, 22.55 e 22.61 metros.

Este último lançamento foi o 10º melhor da história do esporte e teria lhe valido o ouro nos Jogos Olímpicos do Rio-2016.

“A gente treina para isso, é mais um degrau que a gente subiu, os nossos sonhos e objetivos vão se concretizando. A gente vai chegando onde queremos chegar. Esse 22,61 é a soma de trabalhos desde 2010, 9 anos de trabalho bem intenso”, lembrou o atleta.

Além do Mundial de Doha, Darlan mira os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Nos Jogos do Rio, há três anos, ficou na quinta colocação.

“A gente sonha com a medalha. Sempre falo que vou chegar la e não vou dar 100%, vou dar 200% de mim. Quero chegar na minha melhor forma esportiva nessa olimpíada e continuar crescendo”, almejou.

O catarinense sabe que, tanto em Doha como em Tóquio, terá que medir forças com atletas de peso como o americano Ryan Crouser, atual recordista olímpico, assim como os veteranos Tom Walsh (Nova Zelândia), Joe Kovacs (EUA), David Storl (Alemanha) ou Darrell Hill (EUA). “Temos grandes nomes e acredito que serão competições bem diferentes, de grandes resultados”, afirmou.

Mas há uma certeza: “Eu não entro para competir com os outros compito comigo mesmo. Acho que a maioria dos atletas mensa assim. Tenho que continuar dando o meu melhor”.

– Técnico cubano –

Darlan não esconde a importância em sua carreira do técnico cubano Justo Navarro, que está no Brasil desde 2010.

“Na verdade ele me ensinou a ser atleta, a viver no mundo esportivo, em que você tem que treinar e muitas vezes abdicar de coisas, às vezes não poder sair com minha esposa e minha filha. Ele me ensinou a competir fora, me dizia que é precisa estar no mundo competindo com as pessoas, eles têm que te ver e você vai ganhar confiança”, explicou.

Em 2018, Darlan foi eleito o atleta do ano no país pela Confederação Brasileira de Atletismo.

“Jamais imaginei isso. Quando você vê todos os nomes das pessoas que fazem história no esporte e pensa: ‘poxa, vale a pena o que a gente passa, o que a gente sofre, do que a gente abdica para chegar até aqui”.

Distante está seu início no esporte, em sua cidade natal de Concórdia, interior de Santa Catarina, quando entrou para o mundo do atletismo inspirado pelo irmão, que logo seguiu outro rumo.

“Comecei em 2004 com um projeto em que iam com um caminhão de material esportivo até as escolas, onde montavam um evento e faziam provas. Quem se destacava podia fazer testes no estádio e, se você gostava e eles viam que tinha condições, começava a treinar”.

“Meu irmão começou em 2001 ou 2002 e eu, que vivia no interior, achava muito interessante ver ele viajando para Itajaí, Florianópolis, conhecendo a praia”, admitiu.

Darlan participou de campeonatos escolares, regionais, brasileiros, dos Jogos da Juventude da Itália, e hoje se tornou uma inspiração para muitos jovens atletas.

“Eu recebe muitas mensagens, mas não consigo responder a todos que me pedem conselhos de como melhorar”, lamentou.

Casado e com uma filha pequena, o atleta pretende seguir em atividade no esporte “enquanto o meu corpo aguentar. Eu quero realizar dois ciclos olímpicos ainda”.

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