VATICANO, 25 MAR (ANSA) – O papa Francisco publicou nesta quinta-feira (25) uma carta apostólica dedicada a Dante Alighieri (1265-1321), poeta fundador da língua italiana moderna e cuja morte completa 700 anos em 2021.   

O documento se chama “Candor lucis aeternae” (“O resplendor da luz eterna”, em tradução livre) e vem a público na data em que a Itália celebra o “Dantedì”, ou “Dia de Dante”, instituído para homenagear o legado do sumo poeta.   

“Neste momento histórico particular, marcado por muitas sombras, por situações que degradam a humanidade, por falta de confiança e de perspectivas para o futuro, a figura de Dante, profeta de esperança e testemunha do desejo humano de felicidade, pode ainda dar-nos palavras e exemplos que estimulam o nosso caminho”, diz o Papa na carta apostólica.   

O “Dantedì” é celebrado em 25 de março porque esse seria o dia em que o poeta inicia sua viagem pelo Inferno na “Divina Comédia”, sua obra-prima. Além disso, 25 de março é para os cristãos o dia da Anunciação, quando, na tradição bíblica, o Arcanjo Gabriel conta à Virgem Maria que ela seria a mãe de Jesus Cristo.   

“Por isso, nesta circunstância, não pode faltar a voz da Igreja que se associa à comemoração unânime do homem e do poeta Dante Alighieri. Melhor do que muitos outros, soube exprimir, com a beleza da poesia, a profundidade do mistério de Deus e do amor”, acrescenta Jorge Bergoglio.   

Na carta apostólica, o Papa cita uma série de documentos sobre Dante publicados por seus antecessores, de Bento XV a Bento XVI, e define o poeta como “mensageiro de uma nova existência” e “profeta de uma nova humanidade que anseia pela paz e a felicidade”.   

Segundo Francisco, o itinerário de Dante na “Divina Comédia” é o sinal da “necessidade profunda de mudar a própria vida para alcançar a felicidade” e mostrar o caminho a quem, assim como ele, se perdeu em uma “selva escura”. Além disso, de acordo com o Papa, o poeta ensina que o destino eterno do homem depende de suas próprias escolhas.   

“Os próprios gestos diários, aparentemente insignificantes, têm um alcance que se estende para além do tempo, são projetados na dimensão eterna. O maior dom de Deus ao homem, para que possa alcançar a meta última, é precisamente a liberdade”, diz.   

Na parte final da carta apostólica, Bergoglio ressalta a importância de se conhecer a obra de Dante e de torná-la acessível para todos aqueles que “querem viver o seu itinerário de vida e de fé de forma consciente, acolhendo e vivendo com gratidão o dom e o compromisso da liberdade”.   

“Exorto as comunidades cristãs, sobretudo as estabelecidas nas cidades que conservam as memórias de Dante, as instituições acadêmicas, as associações e os movimentos culturais a promoverem iniciativas visando o conhecimento e a difusão da mensagem de Dante na sua plenitude”, afirma.   

Homenagens – Além da carta apostólica do Papa, o “Dantedì” tem sido marcado por diversas homenagens na Itália, apesar das restrições vigentes para conter a pandemia do novo coronavírus.   

O ministro da Cultura, Dario Franceschini, idealizador da iniciativa, celebrou a “vitalidade” ainda existente ao redor do poeta. “No fim das contas, ele próprio nos indicou o caminho quando, ao fim da longa viagem pelo Inferno, conclui com o verso ‘e ali saímos a rever estrelas’. Chegará o momento no qual poderemos rever as estrelas: vão voltar a música nas praças, os espetáculos teatrais, os festejos”, disse.   

Já Dario Nardella, prefeito de Florença, terra natal de Dante, afirmou que a pandemia é a “selva escura” dos nossos dias. “Toda a humanidade está atravessando essa selva escura, cada indivíduo em cada canto do mundo começa a sua viagem. E nós, graças à força, ao impulso e ao exemplo de Dante na ‘Divina Comédia’, conseguiremos atravessar o Inferno”, declarou.   

Em Roma, que está em lockdown há quase duas semanas, versos da obra-prima do poeta foram declamados em estações de metrô, enquanto Florença inaugurou uma instalação artística de 22 metros de altura em homenagem ao Paraíso de Dante.   

A obra, feita em aço inoxidável, imita um pinheiro citado pelo poeta no canto XVIII da parte final da “Divina Comédia” e fica na Piazza della Signoria, no coração da capital da Toscana. Além disso, o Ministério das Relações Exteriores promove uma intensa programação de eventos online para comemorar o legado do poeta.   

(ANSA).