Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) -O governo decidiu indicar para o comando da Caixa Econômica Federal a atual secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Daniella Marques, após crise envolvendo acusações de assédio envolvendo o atual presidente do banco público, Pedro Guimarães, informou à Reuters uma fonte com conhecimento do assunto.

Guimarães está sendo investigado pelo Ministério Público Federal após denúncias de assédio sexual contra funcionárias da instituição, publicou na terça-feira o site Metrópoles. Segundo o site, a investigação do MPF está sob sigilo.

Considerada braço direito do ministro da Economia, Paulo Guedes, Daniella foi assessora especial na pasta desde o início da gestão do presidente Jair Bolsonaro e assumiu o comando da secretaria especial de Produtividade em fevereiro deste ano.

Entre as medidas adotadas sob sua gestão na secretaria, está um programa de empreendedorismo e crédito voltado para mulheres.

Formada em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e com MBA em Finanças pelo IBMEC/RJ, Daniella atuou por 20 anos no mercado financeiro. Antes de assumir as funções no governo, ela foi sócia e diretora de fundos de investimento.

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Fontes com conhecimento do assunto informaram à Reuters que Guimarães deixará o cargo ainda nesta quarta-feira.

O atual chefe da Caixa está no cargo desde janeiro de 2019 e chegou ao posto por indicação de Guedes.

Conforme a reportagem do Metrópoles, que ouviu funcionárias que teriam sido vítimas dos abusos sob anonimato, Guimarães –um dos integrantes do governo mais próximos do presidente Jair Bolsonaro– teve condutas inapropriadas. Elas citaram toques íntimos não autorizados, convites para jantares e outros encontros.

Procurada, a Caixa e a Secretaria de Comunicação da Presidência não responderam de imediato a pedido de comentário da Reuters.

Segundo uma das fontes, uma das preocupações de aliados de Bolsonaro é que o caso venha a ser explorado na campanha com o eleitorado feminino, parcela em que o presidente já tem tido dificuldades de conquistar votos, segundo as pesquisas de intenção de voto.

PROTESTO

Entidades que representam bancários e funcionários da Caixa promoveram uma manifestação nesta tarde na frente da sede do banco, cobrando o “afastamento imediato” do presidente da instituição.

“Trata-se de um comportamento repugnante, que, se confirmado pelo Ministério Público Federal, exige das autoridades competentes punição exemplar –como demissão– para que não mais volte a se repetir, seja qual for o mandatário de plantão, não somente no banco, mas em todos os demais órgãos da administração pública federal”, afirmou o Sindicato dos Bancários de Brasília em comunicado.

A denúncia contra Guimarães ocorre em um momento em que a categoria trava negociações trabalhistas com o setor bancário, cobrando fim de demissões, contratações e redução de jornada de trabalho.

Na manifestação, funcionários da Caixa vestiram preto e entregaram flores a colegas.

“É muito chocante ver colegas nossas, que entraram na Caixa junto comigo em concurso público para trabalhar em prol do desenvolvimento do país estarem sendo submetidas a questões tão graves assim”, afirmou Rachel Weber, funcionária do banco estatal e diretora da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae).


“A gente não consegue imaginar a dor que estas mulheres podem estar sentindo. Não imaginava que pudesse haver situações tão graves assim. É um dia muito difícil, mas ao mesmo tempo é de sentir orgulho dessas mulheres, pela coragem delas e de perceber que as mulheres juntas conseguem derrubar (um presidente da Caixa)”, acrescentou.

(Com reportagem adicional de Ueslei Marcelino, edição de Isabel Versiani e Alberto Alerigi Jr.)

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