A cantora Melanie C atende o chamado por videoconferência no horário combinado, mas diz que está atrasada, pede um minuto. Começa então a caminhar pela casa, celular na mão.

ORGULHO Melanie C na parada LGBT de São Paulo: flashbacks do público de um milhão de pessoas na Avenida Paulista (Crédito:Divulgação)

A câmera revela a intimidade dos longos corredores de sua mansão nos arredores de Londres, de onde não sai desde meados de março.

A situação é curiosa — se não fosse pela pandemia, passear virtualmente pela casa de uma Spice Girl seria bastante improvável. Mel C entra no quarto da filha, Scarlett, de onze anos. Olha em volta, procura um lugar, senta na cama. Atrás dela, a parede azul celeste brilhante mais parece a decoração de uma casa noturna. “Acho que aqui está bom. Vamos começar?”

Ela está pronta para falar sobre seu novo álbum, “Melanie C”, coleção de dez canções tão dançantes que é difícil ouvir e continuar parado. Cada uma das Spice Girls tinha um apelido baseado em seu estilo. Fanática por futebol e torcedora do Liverpool, Mel C faz jus ao apelido de “Spice Esportista”. Aos 46 anos, mantém um físico invejável que lembra o do início da carreira, quando tinha 20 e fazia parte do grupo feminino mais bem sucedido da história. O álbum de estreia, “Spice”, de 1996, bateu todos os recordes e vendeu cerca de 30 milhões de cópias.

Do ponto de vista musical, Mel C tem a carreira solo mais bem sucedida entre as colegas. “Somos fortes coletivamente, mas somos pessoas muito diferentes.

As outras garotas quiseram percorrer outros caminhos, eu respeito. No meu caso, sempre sonhei mesmo em fazer música”, afirma Mel. “Embora eu tenha tido oportunidades de trabalhar no teatro, TV e rádio, meu amor número um é a música. Por isso coloco sempre minha alma no que faço.

É o que faz me sentir viva.” Apesar das especulações dos tabloides britânicos, as Spice Girls não têm data para voltar a se apresentar juntas.

“Melanie C”, o álbum,sai pela Red Girl, gravadora criada pela própria cantora. Empreendedorismo? “Independência. Gravei os primeiros álbuns por uma grande gravadora, mas a partir de “Beautiful Intentions”, de 2005, optei por ter controle total e nunca mais ter de depender de ninguém. Não aceito comprometer minha música ou ter alguém aprovando o meu visual. Como meu selo posso fazer o que eu quiser.”

APIMENTADAS Spice Girls: grupo se reuniu em 2019 sem Victoria Beckahm, mas não há planos para novos shows (Crédito:Divulgação)

Na pista

Como é a sensação de lançar um álbum de dance music quando não se pode frequentar pistas de dança? “É frustrante. Eu também fui DJ nos últimos dois anos e isso foi uma inspiração para este álbum. É um disco eletrônico voltado para a dance music, mas é, em sua essência, um álbum pop. Me importo com letras sinceras, por isso creio que as pessoas também vão poder curtir o meu som em casa.”

Mel C esteve no Brasil em 2019, convidada para cantar e desfilar na Parada do Orgulho LGBT. “Eu tinha acabado de fazer três shows com as Spice Girls em estádios na Europa e, no dia seguinte, já estava em um avião para São Paulo. Foi exaustivo, mas subi no trio elétrico e a energia foi incrível. Ainda tenho flashbacks do show em São Paulo. Era muita gente, uma multidão até onde os olhos podiam ver. Amo a comunidade LGBT, sempre apoiaram a minha carreira e as Spice Girls. É um prazer conviver pessoalmente com eles e aprender sobre suas lutas. Como é a infância e os desafios quando você é gay, trans. Tudo depende apenas de uma boa educação.”

E como Melanie C vê a música no período pós-pandemia? “Eu acho que vai demorar até tudo voltar ao normal. Quero ser otimista, espero viver o mundo que tínhamos antes. Na parada do orgulho LGBT de São Paulo, éramos mais de um milhão de pessoas na rua. Pensar que hoje não podemos mais celebrar juntos é muito triste. Acho que temos que ser pacientes e otimistas. Espero que um dia possamos voltar a nos juntar, para ouvir música, festejar e, claro, dançar.”