Campeão do clima para a COP30, o empresário Dan Ioschpe confia no sucesso da conferência no Brasil independentemente das negociações para os fundos climático e de florestas intermediadas pelo governo brasileiro. Em entrevista à ISTOÉ, Ioschpe pontuou o objetivo de implementar uma agenda climática com foco na transição energética e em medidas para reduzir o impacto da mudança do clima.
De acordo com o empresário, o COP terá seis eixos de debates, sendo cinco deles focados em ações para a mitigação dos efeitos do aquecimento global, além de discussões sobre tecnologias para energias renováveis, indústrias e preservação de florestas. Líderes empresariais e representantes de 190 países devem encontrar soluções para acelerar medidas que favoreçam o meio ambiente nos próximos 10 anos.
Por outro lado, o Itamaraty corre contra o tempo para garantir o financiamento de países ricos à preservação de florestas tropicais. O governo espera arrecadar até US$ 125 bilhões para o Fundo Tropical das Florestas (TFFF), além de tentar impulsionar os investimentos sobre o fundo de mudança do clima, acordado na COP29, partindo de US$ 300 bi para US$ 1,3 trilhão anuais até 2035.
Ioschpe acredita que o sucesso da COP30 não pode ser atrelada às negociações lideradas pelo Itamaraty, mas pela implementação de uma agenda climática sustentável. Ele vê potencial de discussão do país no tema e reforçou o posicionamento do Brasil em relação à outros países no avanço de tecnologias renováveis.
“Do lado da COP30, o centro é a implementação. O presidente da COP, o embaixador André Corrêa do Lago, tem falado, e com muita razão, que o Brasil tem uma grande oportunidade de acelerar a implementação”, disse.
“Me parece que a COP será marcada por isso. Vamos ter o centro do palco [a Amazônia] para fazer acontecer essa agenda climática e da implementação. Para mim, o sucesso [da COP] está na aceleração da implementação a despeito de ter ou não ter negociação”, concluiu o empresário.
Ainda que o Brasil tente avançar com os acordos climáticos, a conferência terá a baixa dos Estados Unidos, que já anunciou que não mandará representantes ao evento. O presidente Donald Trump, inclusive, demitiu os negociadores do clima ligados à Casa Branca.
Ioschpe admite a importância dos EUA no debate climático, mas minimiza a falta das autoridades americanas ao creditar aos governos locais e sociedade não governamental o sucesso da implementação da agenda climática. O empresário prega respeito à decisão da Casa Branca e diz que é preciso focar nos objetivos da conferência mesmo sem a participação de alguns países.
“Não sou negociador, mas falo pela minha visão de empresário. Os Estados Unidos é um país importante em qualquer assunto. Não só os EUA, mas tem alguns países que, por questões de política própria, seus governos não estão tão interessados como já estiveram eventualmente nesses temas”.
“Se o país A, B ou C, nesse momento, não está tão interessado na temática, nos resta respeitar e seguir trabalhando, porque as soluções não são de curto prazo. Elas demandam muito tempo e trabalho para serem implementadas”.
O empresário lembra que a sociedade não governamental é quem deve colocar a agenda climática em prática e defende a participação de todos os países nos debates. “Governos estaduais, prefeituras e empresas estão altamente engajados, porque os projetos cruzam os períodos de governante A, de governante B. Também já vivemos esse pêndulo no próprio Brasil e é natural que assim seja na política. Mesmo assim, estamos vendo um entusiasmo muito grande”, afirma.
“Vamos ter representantes de muitos países de governos que não estão tão animados. E, para nós do lado da ação climática, é muito importante [a participação dos representantes] porque vamos ter pesos pesados da economia aqui no Brasil, independentemente das visões políticas”, conclui o empresário.