O presidente está com ideia fixa na reeleição. A três anos do pleito, deu início a uma busca insana por um vice. Hamilton Mourão, que ocupa o posto no atual mandato, não deverá ser mantido para 2022, pois o presidente entende que o general não tem apelo popular. Diante disso, o capitão reformado do Exército optou por ter um civil como companheiro de chapa para o segundo mandato. Até recentemente, o mandatário havia testado para a vaga apenas o ex-juiz Sergio Moro, considerando que ele é o ministro mais popular do governo. Nos últimos dias, no entanto, Bolsonaro começou a se convencer de que precisa ter outras opções e resolveu colocar no jogo o nome da ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves. Evangélica, conservadora e mulher, Damares defende como ninguém as pautas de costumes tão fundamentais para o bolsonarismo e ele está seguro de que ela pode ampliar sua base entre os religiosos e nordestinos, já que seu discurso atinge com mais facilidade as classes populares, especialmente D e E. Além disso, a ministra já é a segunda mais popular em seu ministério: passou Paulo Guedes (Economia) nas pesquisas feitas no final do ano passado.

Damares à direita

Não foi à toa, portanto, que Bolsonaro levou à tiracolo Damares e Moro ao jogo do Flamengo contra o Atlético Paranaense no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, no domingo 16. Propositalmente ou não, Damares ficou à sua direita e Moro à esquerda. O trio foi ovacionado no estádio, embora tenha circulado na Internet um vídeo em que Bolsonaro é hostilizado na saída do estádio. Não é a primeira vez que o presidente leva Moro a um estádio de futebol, para testar a receptividade das pessoas para com ele. E como na outra vez, Moro já provou que é mais popular que o próprio presidente. De acordo com o Datafolha de dezembro, Moro é considerado como ótimo e bom por 53% das pessoas entrevistadas, enquanto que Damares vem em segundo com 43% e Bolsonaro tem apenas 30% de ótimo ou bom. O que deixa Bolsonaro com a pulga atrás da orelha é exatamente o fato de Moro ser mais querido do que ele. Afinal, nunca na história recente do país houve uma chapa em que o vice é mais popular do que o cabeça da chapa. O mandatário sempre suspeita que as pessoas querem lhe passar uma rasteira.

E com Moro ele tem um pé atrás já há algum tempo. Em meados do ano passado, Bolsonaro quase o demitiu. Foi impedido pelo general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institutional (GSI), que alertou o mandatário; “se você demitir o Moro, acaba o governo”. E Moro se manteve no cargo, mesmo diante da desconfiança do presidente. No final do ano passado, inclusive, o governante ameaçou subdividir seu ministério, separando a Justiça da Segurança Pública. Neste caso, foi Moro quem ameaçou deixar o governo, obrigando Bolsonaro a recuar. O ministro da Justiça já repetiu várias vezes que não é candidato a presidente e que prefere ser ministro do STF, mas nem assim o presidente acredita. A própria mulher do ministro, a advogada Rosângela Moro, disse recentemente que Bolsonaro não tem o que se preocupar com a fidelidade política do marido. “Vejo Moro e Bolsonaro como uma coisa só”.

A vantagem de Damares é que ela não faz sombra para Bolsonaro e tem atributos considerados pelo presidente muito mais interessantes. Por exemplo, ela tem ramificações no parlamento, onde Bolsonaro é deficiente. Afinal, ela foi assessora parlamentar do ex-senador Magno Malta, que chegou a ser cotado para vice do então candidato do PSL em 2018, mas caiu em desgraça no bolsonarismo por ter usado aviões de empresários suspeitos de corrupção. O mais importante é que ela é “terrivelmente evangélica” e é pastora da Igreja Batista da Lagoinha. Seu pai, o pastor Henrique Alves Sobrinho, implantou no Brasil 85 templos da Igreja Quadrangular, uma religião pentecostal de origem americana, muito popular no Nordeste, onde Bolsonaro foi mal em 2018. Outra vantagem é que ela defende com unhas e dentes a cartilha conservadora do bolsonarismo, sendo responsável pelo lançamento da campanha que prega a abstinência sexual para os jovens, como forma de não difundir doenças transmissíveis pelo sexo e gravidez na adolescência. Além disso, Damares não é filiada a nenhum partido e pode ser arregimentada para o Aliança pelo Brasil, partido que o clã Bolsonaro está construindo para a eleição de 2022. Hoje, um dos dois seria seu vice, mas ainda faltam três anos para o governo terminar. Se é que termina.

Os mais populares
Na corrida para saber quem será o vice de Bolsonaro em 2022, dois ministros disparam na frente:

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Sergio Moro
É o ministro mais bem avaliado no governo. Segundo a pesquisa do Datafolha de dezembro, ele foi considerado como ótimo ou bom por 53% das pessoas pesquisadas. Mas em abril ele estava ainda melhor, com 59% de ótimo ou bom. Acima até de Bolsonaro, que em dezembro atingiu 30% de ótimo/bom

Damares Alves
A ministra dos Direitos Humanos é a segunda com melhor desempenho no governo Bolsonaro. Ela recebeu a avaliação de ótimo ou bom de 43% das pessoas consultadas na pesquisa Datafolha em dezembro. Em abril de 2019, ela era a terceira com 24% (Paulo Guedes era o segundo com 30% de ótimo/bom)


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