Dalai Lama, líder espiritual do Tibete e demonizado na China

Prestes a completar 90 anos, o Dalai Lama é o líder espiritual e o rosto internacional da luta por maior autonomia para o Tibete. Sua campanha, no entanto, lhe rendeu a inimizade da China, que o demoniza como “um lobo em vestes de monge”.

Tenzin Gyatso se descreve como um “simples monge budista”, mas já viajou o mundo, convivendo com a realeza, líderes políticos e celebridades para promover a causa tibetana.

Este homem de rosto amigável e sorriso travesso tornou-se um símbolo global da paz, cuja mensagem transcende a religião. Ele é considerado por seus seguidores um visionário na linha de Mahatma Gandhi e Martin Luther King.

Ele passou a maior parte de sua vida no exílio. Tinha apenas 23 anos quando fugiu da capital tibetana, Lhasa, depois que as tropas chinesas reprimiram um levante fracassado iniciado em 10 de março de 1959.

Levou 13 dias para cruzar as passagens nevadas do Himalaia até a fronteira com a Índia. E nunca mais conseguiu voltar.

Sua vida no exílio girou em torno de Dharamsala, uma cidade no norte da Índia que se tornou o lar de milhares de tibetanos que mantêm suas tradições por lá, embora alguns nunca tenham pisado na terra de seus ancestrais.

O Dalai Lama estabeleceu seu governo no exílio e lançou sua campanha para recuperar o Tibete, embora mais tarde tenha optado por um “caminho intermediário”, renunciando à independência em troca de maior autonomia.

– Celebridade –

Em 1989, ganhou o Nobel da Paz, prêmio que lhe trouxe enorme popularidade e o colocou em contato com grandes líderes mundiais e estrelas de Hollywood.

Com suas vestes vermelhas e sandálias simples, o líder budista não se encaixava no estereótipo de celebridade. Mas seu espírito às vezes travesso e seu riso contagiante provaram ser irresistíveis.

O governo chinês, por outro lado, se mostrou imune aos seus encantos, descrevendo-o como um separatista e um “lobo em vestes de monge”.

Durante séculos, o Tibete alternou entre períodos de independência e controle da China, que considera este planalto ao norte do Himalaia parte integrante do seu país.

O Dalai Lama clama por maior autonomia para seu povo, assim como pelo direito de adorar livremente e preservar sua cultura que, segundo muitos tibetanos, está sendo reprimida sob o domínio chinês.

Mas as negociações formais com Pequim fracassaram em 2010. Um ano depois, o Dalai Lama se aposentou da política, abrindo caminho para um novo líder eleito da diáspora tibetana.

– Vida no exílio –

Nascido em uma família camponesa na aldeia tibetana de Taksar, em 6 de julho de 1935, foi escolhido aos dois anos de idade como a décima quarta reencarnação do líder religioso supremo do budismo tibetano.

Ele recebeu então o nome de Jetsun Jamphel Ngawang Lobsang Yeshe Tenzin Gyatso (que significa Senhor Sagrado, Glória Gentil, Defensor Compassivo da Fé e Oceano de Sabedoria) e foi levado ao Palácio de Potala, com mil cômodos, em Lhasa, onde foi treinado para se tornar um líder de seu povo.

Quando criança, demonstrou uma curiosidade científica precoce, brincando com um relógio enviado pelo presidente americano Franklin Roosevelt ou consertando carros.

Mas sua infância tranquila terminou abruptamente aos 15 anos, quando foi entronizado às pressas como chefe de Estado após o exército chinês invadir o Tibete em 1950.

Nove anos depois, ele fugiu para a Índia enquanto as tropas chinesas reprimiam o levante popular.

Dizem que Mao Zedong, ao saber que o Dalai Lama havia fugido, disse: “Nesse caso, perdemos a batalha”.

Na Índia, o líder budista foi recebido pelo primeiro-ministro Jawaharlal Nehru, que ofereceu Dharamsala como lar para ele e os milhares de refugiados tibetanos.

Durante todo esse tempo, o Dalai Lama foi tratado como um convidado de honra na Índia, uma postura que gerou tensões entre Nova Délhi e Pequim.

Seus antecessores foram escolhidos por monges que seguiam antigas tradições budistas, mas ainda não está claro quando ou se um sucessor será nomeado.

Ele sugeriu que o próximo líder poderia ser uma mulher, que seu espírito poderia ser transferido para um sucessor adulto ou que ele poderia ser o último de sua linhagem se reencarnasse como um animal ou inseto.

Mas sempre foi claro em um ponto: nenhum sucessor nomeado pela China terá credibilidade.

“Nenhum reconhecimento ou aceitação deve ser dado a um candidato escolhido para fins políticos, incluindo aqueles da República Popular da China”, afirmou.

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