Do retorno triunfal do aiatolá Ruhollah Khomeini a Teerã, em 1º de fevereiro de 1979, ao fim do último governo do xá, dez dias depois, confira abaixo os principais acontecimentos que levaram ao colapso de 25 séculos de monarquia no Irã.

Estes “dez dias do amanhecer” (“Daheh-ye Fajr”), na terminologia oficial, são celebrados todos os anos como a vitória da Revolução Islâmica.

– Khomeini aclamado –

Em 1º de fevereiro de 1979, o aiatolá Khomeini fez um retorno triunfal a Teerã, após mais de 14 anos de exílio no Iraque e no subúrbio parisiense. Depois de meses de protestos contra seu regime, o xá Mohammad Reza Pahlavi fugiu do país em 16 de janeiro.

Um multidão de milhares de pessoas em festa aclama Khomeini no aeroporto e no trajeto que o leva ao cemitério de Behecht-e Zahra, ao sul da capital, onde faz seu primeiro grande comício.

Ele questiona a legitimidade do governo de Chapur Bakhtiar, figura da oposição nacionalista, escolhido pelo xá na véspera de sua fuga para o exílio, na tentativa de barrar o caminho para os religiosos.

– ‘Conselho Nacional Islâmico’ –

Em 2 de fevereiro, todos os grandes contratos (usinas, nuclear, armamentos e outros) firmados com fornecedores estrangeiros são questionados.

No dia 3, em sua primeira entrevista coletiva, Khomeini anuncia a criação de um “Conselho Nacional Islâmico”.

Em apoio ao aiatolá, no dia seguinte, greves de fome são feitas na Força Aérea, e 20% dos militares não se apresentam nos quartéis.

– Manifestações e greves –

Em 6 de fevereiro, Mehdi Bazargan, um engenheiro nacionalista e islamista, opositor de longa data do regime do xá, torna-se primeiro-ministro do governo provisório resultante da Revolução.

Dois governos funcionam agora em Teerã: o de Bazargan, revolucionário; e o último governo imperial, o de Bakhtiar.

Para apoiar o governo provisório, o clérigo organiza todos os dias manifestações com milhões de pessoas. Greves são realizadas na indústria petroleira.

No dia 7, em Ispahan, segunda cidade do país, os mulás instalam um poder paralelo encarregado de administrar os negócios municipais.

No dia 8, em Teerã, pela primeira vez, mais de mil militares participam de uma grande marcha em favor de Bazargan.

– Insurreição –

Em 10 de fevereiro, soldados amotinados da Força Aérea, atacados na véspera por elementos da Guarda imperial, assumem o controle do bairro leste de Teerã, com a ajuda de civis, também armados.

O bairro é isolado por barricadas. Os insurgentes conseguem invadir as prisões e libertam os presos políticos.

O jornalista da AFP Pierre-André Jouve descreve uma capital “entregue à desordem”: “multidões armadas com pedaços de pau, (…) homens aos milhares se instituindo ‘policiais da Revolução’ em quase todos os grandes cruzamentos da cidade, paramédicos improvisados”.

Khomeini ordena o desrespeito ao toque de recolher, mas declara que a “Jihad” (guerra santa) não está na ordem do dia.

– Revolução acabada –

No dia 11, um quartel do Exército, no nordeste de Teerã, tomado de assalto por milhares de civis, cai nas mãos dos partidários de Khomeini.

No fim da manhã, o centro da capital passa para o controle de civis armados e de desertores. Um quartel da Guarda imperial é cercado. Combates muito violentos acontecem no bairro sul entre militares de diversas facções e civis.

Também controlada pelos grevistas, assim como a televisão, a rádio anuncia a dissolução do Parlamento.

Khomeini pede aos chefes militares para “não se oporem ao movimento de reunião de soldados e de oficiais”.

“Teerã está praticamente nas mãos dos partidários do aiatolá Khomeini”, escreve o então enviado especial da AFP, Patrick Meney.

“No cair da noite, o centro de Teerã já tinha ares de uma revolução acabada: é quase a hora dos desfiles da vitória”, acrescenta o jornalista.

“Militares amotinados são aclamados pela multidão. Soldados do Exército se unem aos estudantes em revolta no campus. Os inimigos de ontem se abraçam. As mulheres de xador estão aos prantos”, relata.

À noite, um comunicado afirma que “com a vitória da Revolução”, o Estado-Maior, a Guarda imperial e as diferentes forças do Exército “aderiram ao movimento popular”.

Em dois dias, a batalha deixou mais de 200 mortos e mil feridos.

Depois do fim do governo Chapur Bakhtiar, Mehdi Bazargan se instala oficialmente na Presidência do Conselho.