Da devoção ao milagre: a história que une Acutis ao Brasil

SÃO PAULO, 5 SET (ANSA) – Por Lucas Rizzi – Um padre que atua no Mato Grosso do Sul é o principal responsável pela devoção dos católicos brasileiros a Carlo Acutis, jovem italiano que se tornará no próximo domingo (7) o primeiro santo “millennial” da história da Igreja Católica.   

O adolescente morto em função de uma leucemia fulminante em 2006, aos 15 anos de idade, será canonizado pelo papa Leão XIV, ao lado do também italiano Pier Giorgio Frassati, e tem em sua ficha um milagre reconhecido pelo Vaticano em Campo Grande, capital sul-mato-grossense.   

A suposta intervenção do futuro santo ocorreu em 2013, em um menino que sofria de uma grave doença pancreática, mas tudo começou dois anos antes, graças ao interesse do padre Marcelo Tenório pela trajetória de um até então desconhecido adolescente italiano.   

“Em 2011, eu recebi de um afilhado no Nordeste um artigozinho em italiano sobre o Carlo. Estava começando o processo [de beatificação] em Milão, então não se tinha conhecimento do Carlo em canto nenhum, mas, quando eu soube dele, me afinei muito com seu jeito”, conta o sacerdote em entrevista à ANSA.   

O padre Marcelo entrou imediatamente em contato com a Associação Amigos de Carlo Acutis, na Itália, e com a mãe do jovem, Antonia Salzano Acutis, para propor a divulgação no Brasil da obra do adolescente, que se tornou modelo de vida cristã na juventude ao usar a web para difundir sua fé, o que lhe rendeu os apelidos de “padroeiro da internet” e “influenciador de Deus”.   

O sacerdote, pároco da Paróquia de São Sebastião, em Campo Grande, enviou panfletos com imagens de Acutis para todas as capitais do Brasil, criou uma página no Facebook e promoveu novenas em honra ao italiano. A própria foto do perfil do padre Marcelo no Instagram é um retrato do futuro santo.   

“Aos poucos a coisa foi pegando. Até hoje o apostolado brasileiro envia material totalmente de graça, e isso aumentou a popularidade e o conhecimento do Carlo no Brasil”, conta o religioso, que se tornou próximo da família Acutis e já foi a Assis, na Itália, onde o corpo do jovem fica exposto em um esquife de vidro, trajado com jaqueta, calças jeans e tênis da Nike.   

Em 12 de outubro de 2013, dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, o menino Matheus Vianna, incentivado pelo padre Marcelo, tocou em um pedaço de uma camiseta de Acutis em uma capela de Campo Grande e pediu para parar de vomitar.   

Com três anos de idade, o menino sofria de pâncreas anular, anomalia congênita rara que o fazia regurgitar praticamente tudo que comia. Ele pesava apenas nove quilos. Após encostar na relíquia, segundo a família e o Vaticano, Matheus foi curado e passou a comer normalmente. Esse suposto milagre permitiu a beatificação de Acutis, celebrada em outubro de 2020.   

“A própria dona Antonia reconhece que a amizade de Carlo com Brasil é algo misterioso. O milagre foi em 12 outubro, e a festa litúrgica dele é em 12 de outubro; o milagre ocorreu na Capela Nossa Senhora Aparecida, que passou a ser conhecida como Capela do Milagre”, diz o pároco.   

Como se não bastasse, o Brasil abriga a primeira paróquia batizada com o nome de Acutis, situada no campus da universidade católica Ítalo, em São Paulo. Após a canonização, a Paróquia Universitária Carlo Acutis passará a se chamar São Carlo Acutis.   

Para o padre Marcelo, o adolescente italiano pode renovar o entusiasmo dos jovens em relação à Igreja Católica, uma instituição que carrega “o peso de 20 séculos”.   

“Carlo fala a linguagem do nosso tempo, fala para a juventude. Ele viveu a vida dele sem esquecer os valores de Deus, mas da forma mais tranquila possível. Ele gostava de futebol, carros, internet, mas foi um exemplo de caridade e de doação à sua fé”, afirma.   

Vice-postulador da causa de beatificação, padre Marcelo agora pretende continuar o apostolado fundado por ele, divulgando materiais gratuitamente para todo mundo que tiver interesse, além de viajar à Itália para visitar o novo santo.   

“Por 10 anos, eu fui no cemitério, sentava no túmulo, e não aparecia ninguém. Hoje aparece muita gente, e fico feliz por isso, o que desejávamos, de fato, aconteceu”, diz. (ANSA).