A argentina María Gainza escreve com a delicadeza de um pincel deslizando por uma tela em branco. Suas palavras são escolhidas com esmero, o mesmo carinho que os grandes mestres pelos quais ela é apaixonada escolhem os tons de tinta que colorem suas obras-primas. Em “O Nervo Óptico”, seu trabalho mais recente, a analogia entre quadros e textos não é apenas uma questão de estilo, mas a própria razão de ser do livro. Ao contrário dos pintores facilmente identificáveis de acordo com a técnica, a proposta da jovem e premiada autora é difícil de classificar. Seus contos mesclam experiências pessoais e ensaios artísticos, o que leva o leitor a se interessar tanto por suas reflexões quanto pelas imagens que ela descreve. Uma visita a uma marchand arrogante traz recordações sobre os cervos pintados por Alfred de Dreux que ela viu no Museu Nacional de Arte Decorativa, em Buenos Aires; um simples passeio de carro durante a gravidez serve de inspiração para sua paixão pelos quadros da Guerra do Paraguai de Cándido López, expostos no Museu Histórico Nacional; a lembrança de um gato na casa da avó lhe suscita as imagens de gatos presentes nas obras de Tsuguharu Foujita. Em princípio, as associações parecem aleatórias e não fazem sentido para o leitor; aos poucos, ela constrói as relações entre memória e arte com paciência e talento. Ao virarmos as páginas de seu curto livro, temos a impressão de que estamos caminhando pelos corredores da sua mente — ou por uma bela galeria.

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Natureza selvagem

Selva Amada é argentina como María Gainza, mas as duas não poderiam ser mais diferentes: enquanto a autora de “O Nervo Óptico” é uma cosmopolita de Buenos Aires, Selva nasceu na bucólica Entre Ríos, no nordeste do país. No livro “Não é um Rio”, a temática regional ecoa as narrativas de Guimarães Rosa, onde a originalidade da linguagem prevalece sobre o enredo: em uma pescaria, três amigos falam sobre a vida por meio de diálogos em que os silêncios dizem mais que as palavras.