05/10/2020 - 19:18
Ele é influente entre os artistas, desconcertante para os críticos e difícil de entender para a maioria do público, mas genial para quem se dispõe a olhar suas obras com um pouco mais de atenção. Edwin Parker “Cy” Twombly Jr. (1928 – 2011) foi um pintor, escultor, aquarelista e fotógrafo americano, que pertenceu à geração de Robert Rauschenberg e Jasper Johns. Ele polariza opiniões, causa até hoje o sentimento “Ame ou Odeie”, mas todos concordam que foi um dos artistas mais importantes do século XX.
Cy Twombly até hoje chama a atenção do mundo da arte por combinar técnicas de pintura e desenho, linhas repetitivas, rabiscos, com uso de palavras e grafites. Foi influenciado por importantes nomes (como Alberto Giacometti, Franz Kline, Jean Dubuffet, Jackson Pollock, Willem de Kooning, Robert Motherwell: Jean-Michel Basquiat, Francesco Clemente, Arte urbana, Neo-Expressionism) e impactou gerações de jovens artistas (como Anselm Kiefer, Francesco Clemente e Julian Schnabel). Suas obras estão nas coleções permanentes de museus de arte moderna em todo o mundo, incluindo a Tate Modern (Londres), o MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) e o Museu do Louvre (Paris). Geralmente, seus gigantescos trabalhos ganham enormes salas exclusivas, com pé direito duplo.
Twombly nasceu em Lexington (Virginia – EUA), estudou arte em Boston e em Nova York e passou grande parte da vida viajando e mudou-se para Roma (Itália), o berço da humanidade. Então, podemos dizer que ele é tão americano quanto o beisebol e, ao mesmo tempo, um esnobe europeu, casado com uma rica família italiana. Seu trabalho logo se desviou da abstração que dominava a arte americana do pós-guerra para explorar tradições poéticas antigas, clássicas e modernas, assumindo cores, o formato abstrato e muito movimento, como o efeito de giz deslizando sobre o quadro negro.
Costumo dizer que é necessário ter uma boa alfabetização cultural para conseguir ler uma obra de Twombly. Quem se dispõe a analisar com calma suas obras, consegue ver um nome de um poeta, um fragmento de uma frase, um rabisco ilegível e um movimento que pode gerar interpretações diversas. Sua subjetividade pode ser considerada uma transferência de interpretação para o espectador, possibilitando uma série de análises que mistura pós-modernismo, poética antiga e moderna, iconografia, semiótica e psicanálise.
Quanto mais elaboradas suas cadeias de associação literária e inferência autográfica, mais o espectador se pergunta sobre se as verdadeiras intenções de Twombly com sua obra. Muitas vezes, a sensação inicial é semelhante a uma conversa com um gago, com palavras cortadas. Porém, basta paciência e capacidade de leitura de uma obra de arte para mergulhar em um universo de autorrevelação, criado a partir de uma poética única que representa uma maneira totalmente diferente de pintar e de transmitir mensagens. Há quem diga suas pinturas são meros rabiscos, mas eu estou com a turma que considera o seu trabalho genial, permitindo chegar no mais profundo silêncio interior.
Twombly foi o primeiro artista a desenhar a escrita e os diversos ritmos do pensamento pré-verbal, como se cada linha fosse uma experiencia, com uma sensação particular. Recentemente, sua obra gerou importantes exposições, que vieram junto com novas leituras e discussões intermináveis sobre o que é arte e o que ele tentou transmitir com seu trabalho. Em “Cy Twombly: 50 anos de trabalhos em papel”, foi apresentada nos Museus Hermitage e no Whitney (Nova York), lotando a Imprensa e as mídias sociais com profundos questionamentos sobre suas intenções, superando inclusive outros nomes considerados polêmicos, como Jackson Pollock ou Andy Warhol.
A melhor descrição sobre seu trabalho vi há alguns anos no MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York). O museu resumiu assim: Twombly começou certo por saber que a arte de grande poder e complexidade poderia ser construída a partir de marcas elementares e efeitos irregulares, totalmente acidentais. Em um primeiro momento, rabiscos, manchas, pingos e arranhões realmente podem parecer algo despretensioso, mas as composições de Twombly são únicas e totalmente poéticas. Ele mistura o grafite e a arte de rua com uma elegância autoconsciente, criando um reflexo de sua própria vida, começando na austeridade do pós-guerra e fazendo uma ponte com minimalismo e o expressionismo abstrato.
A diversão é garantida quando vemos os nomes que ele deu para suas obras, misturando citações de poetas, com filósofos, batalhas e heróis famosos. Twombly mostra ter localizado dentro de si ecos verdadeiros de sensibilidades antigas e faz mais do que traduzir o significado da palavra para a pintura como se estivesse incorporando os acontecimentos e dando vida para a história. Por isso, use o celular para buscar os significados sobre esses assuntos, enquanto apreciar suas pinturas, repletas de movimentos sensuais e com uma paleta de cores nítida e leve. Em algumas obras há frutas espremidas, flores esmagadas e até respingos aleatórios de sangue. Seria muito bom também que meus amigos estudassem o trabalho de Twombly para não criticarem a Série DNA, que produzi com tinta acrílica misturada com cabelos e unhas durante a quarentena (Risos!).
De vez em quando, surge um artista cujos talentos e ambições reivindicam como escopo toda a história da criação e representação de imagens. Cy Twombly é esse artista e se há controvérsia sobre seu trabalho, sinto muito. Seria muito bom que os leitores desta coluna deixassem suas mentes serem levadas por seus pinceis e traços energéticos, sem prejulgamentos e sem criticar os espaços vazios de suas telas para conseguirem enxergar uma ampla variedade de gestos, de traços sensuais, de referências deliberadas e de significados. Sem dúvida, quem tiver coragem de seguir seus pincéis pode ter grandes descobertas individuais. A viagem vale a pena!
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