Especial – Brasil 400 mil mortos

Economistas concordam que poucos países sofreram, em 2020, uma queda tão forte na economia como o Brasil. A queda do PIB, de 4,1%, foi superior a de outras nações emergentes, cujas atividades economicas caíram em média 2,2%, segundo o FMI. Em 2021 a retomada brasileira também é mais lenta e a projeção é que o País crescerá 3,2%, enquanto o PIB dos emergentes terá crescerá na casa dos 6,7%.

O economista Cláudio Considera, pesquisador associado do Ibre-FGV, calcula que a queda do PIB em 2020 significou a destruição de R$ 315,1 bilhões. Apenas o setor de serviços perdeu R$ 218,4 bilhões. Já os efeitos sociais foram perversos e sentidos em cheio em março de 2021, quando acabaram os resíduos do pagamento do auxílio emergencial. Um estudo conduzido pela FGV Social indica que a população que vive na pobreza aumentou de 8,2% para 16,1% apenas entre outubro do ano passado e março último. Entre outros dados, o estudo mostra que a renda média do trabalhador brasileiro caiu 11% durante 2020, com uma queda ainda maior, de 18%, dos trabalhadores das classes sociais C, D e E. Pelo menos 33 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza. Os dados também são tenebrosos na educação. A jornada escolar brasileira, que já era baixa, de 4 horas por dia antes da pandemia, caiu para 1,9 hora nas escolas públicas e 3 horas nas particulares, diz o economista Marcelo Neri, professor da FGV Social.

O principal motivo para a economia ter tombado é que Jair Bolsonaro errou no combate à pandemia. Se as pessoas tivessem sido imunizadas em 2020, elas poderiam ter voltado a trabalhar mais cedo. “O governo também errou ao não fazer nenhuma campanha de comunicação defendendo o uso de máscaras e o distanciamento social”, diz Considera. “O número de pessoas mortas, 400 mil, é muito grande. É um equivoco achar que reabrindo tudo, a economia voltará rápido. Não voltará, porque as pessoas estão com medo do coronavírus”, afirma ele. Com o desastre da resposta à doença, o Brasil saiu da lista das dez maiores economias do mundo. Caiu do 9º lugar para o 12º e foi ultrapassado por Canadá, Coreia do Sul e Rússia.

O resumo da tragédia é que o Brasil ganhou novos pobres. A Classe C perdeu pelo menos 31,9 milhões de pessoas, enquanto as classes AB perderam 3,1 milhões. Em compensação, as classes D e E ganharam 33,3 milhões de pessoas. “Isso tudo deixará conseuqências. A mais visível é o aumento das desigualdades sociais”, diz Neri. Ele destaca que o problema brasileiro é que a miséria aumentou justamente no auge da pandemia, em março desse ano. Os efeitos sociais são tão nefastos, que exigirão anos de investimentos em políticas públicas.