“O custo da transição (energética) e da salvaguarda do planeta deve ser, neste momento, democratizado no mundo”, afirmou no domingo (17) em Nova York o ministro de Minas e Energias do Brasil, Alexandre Silveira, na véspera da abertura da Assembleia Geral da ONU.

Durante a semana, mais de 140 chefes de Estado e de Governo do planeta se reunirão na sede das Nações Unidas, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para discutir, entre outros temas, políticas urgentes contra a mudança climática.

Em entrevista à AFP, Silveira, que apresentou no domingo o Plano Nacional de Transição Energética justa e inclusiva do Brasil na ONU, em uma reunião para estimular os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), questionou se existe “verdadeira disposição dos países ricos e desenvolvidos em pagar a dívida com os mais penalizados ao longo da história.

Neste sentido, o ministro exigiu que as nações desenvolvidas que levem a série a transição energética “e crime oportunidades” para os países em desenvolvimento.

Silveira destacou que o Brasil pretende participar na transição energética mundial de “forma muito vigorosa”. Mas destacou que esta deve ser “justa e inclusiva”, totalmente alinhada com os ODS.

– Prioridade aos biocombustíveis –

O ministro destacou a importância dos biocombustíveis para o país.

“Os biocombustíveis são para o Brasil como o petróleo para a Arábia Saudita e os países do Oriente Médio. Ou seja, são a nossa grande prioridade”, disse em uma entrevista na embaixada brasileira na ONU.

Mas isto não significa que o Brasil vai deixar o petróleo de lado imediatamente, como exigiram no domingo em Nova York milhares de pessoas em uma passeata pacífica para pedir o fim do uso dos combustíveis fósseis, muito poluentes e que são os principais responsáveis pelo aquecimento global.

O governo Lula anunciou recentemente o plano de investir 335 bilhões de reais no setor de petróleo e gás nos próximos anos, o que provocou críticas dos ambientalistas, líderes indígenas e da população que pode ser afetada.

– Transição –

O ministro afirmou que não há contradição no fato de o Brasil e o planeta continuarem dependentes do petróleo e do gás, apesar de as energias limpas e renováveis atingirem 88% da sua matriz energética.

O petróleo produzido no Brasil gera “recursos que são utilizados inclusive para financiar saúde e educação” através do Fundo Social. Mas os” números mostram que teremos uma queda na produção de petróleo a partir de 2027″, acrescentou.

“Ninguém no mundo consegue precisar em quanto tempo se dará” a transição energética, afirmou Silveira. “Eu volto a dizer, eu volto a insistir na palavra transição. Transição energética não é mudança energética”, acrescentou após o anúncio do governo Lula de prosseguir com a exploração de petróleo perto da foz do rio Amazonas.

“Nós queremos fazer isso de forma ambientalmente correta. Nunca se discutiu não cumprir com todas as condicionantes ambientais necessárias e assim pesquisar a região com o mais irrestrito respeito ambiental. Mas não podemos abrir mão de nossa soberania, de conhecer as nossas potencialidades minerais”, disse.

Além do petróleo, o ministro afirmou que o país vai precisar de cobre e lítio durante a transição energética.

– Equilíbrio –

“Vamos precisar buscar o equilíbrio entre desenvolvimento econômico com frutos sociais para combater a miséria, desigualdade, gerar oportunidades e sustentabilidade”, afirmou Silveira.

“Nós temos que convergir em políticas públicas que sejam adequadas do ponto de vista ambiental, mas que não percam de vista as nossas necessidades imediatas”.

O país acaba de lançar o maior programa de descarbonização da Amazônia brasileira, onde vivem 25 milhões de pessoas, que consiste em migrar “180 sistemas isolados” da rede de energia nacional e dependentes de combustíveis fósseis para fontes mais amigáveis ao meio ambiente, recordou o ministro.

Silveira voltou a prometer que o governo será “intransigente” no combate mais severo ao desmatamento ilegal.

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