Como pode um pintor produzir centenas de quadros, muitos deles sobre o mesmo tema e todos sensacionais? Claude Monet era assim, surpreendente em todas pinceladas. Ele nasceu em Paris em 1840 e começou sua carreira fazendo caricaturas. Incentivado por Eugène Boudin, teve contato com a produção ao ar livre. Copiou muitos quadros famosos, como era costume na época, para treinar técnicas de pintura, mas detestou o estilo tradicional, também conhecido como acadêmico. Em 1862, criou o Impressionismo, movimento que retrata o efeito das luzes de uma maneira única, com rápidas pinceladas, de diferentes tons. A iniciativa de Monet teve apoio de dois pintores amigos, Camille Pissarro e Gustave Courbet, além de conquistar depois uma infinidade de seguidores.

A trajetória artística de Monet é incrível. Sempre surpreendeu com novas ideias, cores e mix de tons. Em tempos de quarentena, que muitos buscam se aproximar da natureza, seus quadros são perfeitos para resgatar uma imensa paz interior.

Nascer do Sol, de Claude Monet

Nascer do Sol – Em 1872, Monet pintou “Impressão – Nascer do sol”. A obra é repleta de tons claros e escuros, além de muitas pinceladas soltas e sobrepostas para mostrar uma paisagem de Havre. A sobreposição de cores originais, cruas e sem misturas, acabou se tornando precursora do movimento impressionista. Mas a obra foi um fracasso, quando exibida pela primeira vez em 1874.  A crítica do jornal Le Charivari usou a expressão “impressionista” de forma irônica e pejorativa, mas Monet e outros artistas incorporaram o termo em obras que estavam em produção. Para nossa sorte, o estilo não foi abandonado por eles, que deram atenção aos espectadores mais liberais, apoiadores de pinturas disruptivas e dispostos a romper com as regras seguidas por outros artistas daqueles tempos (neo-classicismo, realismo e romantismo). Demorou, mas o Impressionismo causou uma profunda revolução social, impactando também a música e a literatura.

Os artistas do movimento acreditavam que a “impressão” era uma experiência importante a ser valorizada. O “ver” tinha um sentido mais amplo para eles, no qual a representação do que se via estava no centro das obras, com cenas pintadas sob o ponto de vista da observação do próprio pintor. O retrato de objetos e de paisagens surge a partir de contrastes ou de negligências de cores, com pinceladas que criam um jogo de luzes e sombras na tela.

Fugindo para interior – Em 1883, Monet fez algo comum nos tempos de hoje. Mudou-se para o interior. Foi para uma Giverny, uma cidadezinha francesa muito charmosa, localizada na Normandia.  O lago de sua propriedade, a ponte japonesa, as plantas aquáticas Nenúfares (em francês: Nymphéas) e o jardim de flores inspirou mais de 250 pinturas a óleo, produzidas durante décadas. O local foi transformado na Fundação Monet e está aberto para visitação. Hoje, as obras produzidas nesse período estão em coleções particulares e nos mais importantes museus do mundo. As telas de maior dimensão estão no Musée de L’Orangerie, um dos museus mais minimalistas e impressionantes de Paris. O local abriga uma exposição permanente de Monet com cerca de 200 metros quadrados e com oito telas que chegam a até 17 metros de comprimento. A sensação é que as quatro estações do ano podem ser vistas juntas, bastando um piscar de olhos.

Catedral de Rouen, de Claude Monet

Paciência – Ninguém pode dizer que Monet não tinha paciência. O artista trocou correspondências por um ano com Alice Hoschédé e, após a morte de seu marido (o magnata da arte Ernest Hoschedé), casou-se com ela. Na década após o seu casamento, pacientemente produziu trinta telas retratando a Catedral de Rouen (noroeste da França), em diferentes dias e horários, explorando na plenitude sua paleta de cores para mostrar o sol, a névoa, o amanhecer e o entardecer. Ele dizia que diariamente sempre se surpreendia com algo novo e que ainda não tinha conseguido ver. Antes de iniciar o conjunto de obras, estudou a construção e os efeitos da luz sobre a igreja. Sem dúvida, as pinturas da catedral instigam para uma nova forma de olhar a vida, de sentir a energia do dia e notar a evolução da natureza a cada novo dia. Gerações de artistas estudaram essa série e milhões de pessoas mudaram suas concepções sobre a vida após verem as obras.

Nenúfares, de Claude Monet

Sentindo a natureza – Monet dizia que a pintura deveria mostrar o reflexo da luz em um determinado momento, sempre lembrando que as cores da natureza mudam todos os dias, conforme a incidência do sol. Seus quadros são como fotos veiculadas em mídias sociais, com o uso diferentes filtros e cores, fazendo com que cada resultado seja completamente diferente dos anteriores. Ele mostrava paisagens e objetos sem fazer contornos, com sombras luminosas e coloridas, gerando uma impressão visual muito impactante. O preto não existia nessas pinturas, enquanto um amarelo próximo a um violeta criava um efeito mais real do que um claro-escuro muito utilizado pelos pintores acadêmicos da época. Ele não misturava tons. Usava cores puras e conseguia diferentes tonalidades com pequenas pinceladas e sobreposição.

Olhar para seus quadros é como sentir a natureza na plenitude, sendo que cada detalhe faz a diferença. Essa conexão permitiu que continuasse pintando mesmo depois de ter catarata no final de sua vida. A jornada de pintura ao ar livre, com excesso de sol, fez com que sua vista apresentasse problemas e as operações na época não eram tão fáceis e seguras como as de hoje em dia. Mesmo com doença e com uma cirurgia com os recursos da época, Monet não parou de pintar, mas nota-se esse período pelo uso de cores mais fortes como o vermelho. Morreu vítima de um câncer de pulmão. Agradeço todos os dias pela alegria de despertar olhando sempre para uma reprodução de um de seus quadros. Desejo que suas obras preencham a vida de todos, nesse período desafiador de COVID-19 no qual vivemos.

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