Uma reunião de alto perfil em Bruxelas nesta quinta-feira (21) voltou a colocar na agenda global a energia nuclear, defendendo-a como peça fundamental para o abastecimento energético e a luta contra a mudança climática.

Líderes europeus e representantes dos Estados Unidos, China, Turquia, Brasil e Paquistão discursaram em uma cúpula organizada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), para apresentá-la como uma fonte limpa, segura e confiável.

O argentino Rafael Grossi, diretor-geral da AIEA, destacou uma crescente tomada de consciência sobre o “caráter indispensável” da energia nuclear “para enfrentar alguns desafios mundiais urgentes”.

“É uma fonte de energia segura, limpa e rentável (…) Não é uma utopia. Representa um quarto da energia limpa produzida a nível mundial, e a metade da produzida pela UE”, disse Grossi.

O alto funcionário disse que “foram necessárias 28 conferências sobre o clima para reconhecer a energia nuclear. Mas antes tarde do que nunca. Agora, é preciso definir as próximas etapas concretas”.

Para Fatih Birol, diretor-executivo da AIEA, com sede em Paris, a produção nuclear “retorna com força”, como consequência da busca por uma fonte de energia livre de emissões de carbono.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, destacou que o reforço da capacidade de geração de eletricidade mediante a energia nuclear é positivo para todo o bloco. A energia nuclear, disse, “oferece maior segurança energética à nossa União”.

A perspectiva da energia nuclear como segura e limpa desagrada os ambientalistas.

Nesta quinta, um ativista do Greenpeace escalou um dos edifícios sedes da cúpula com um cartaz que dizia “Nuclear Fairy Tale” (Conto de Fadas Nuclear, em tradução livre).

– Um novo olhar –

Após o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, em 2022, a União Europeia, altamente dependente do barato gás russo, atravessou uma grave crise energética.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, indicou que, com o conflito, “muitos países passaram a ter um novo olhar sobre o potencial da energia nuclear”.

Anos depois após a Alemanha marcar uma tendência a abandonar gradualmente os reatores nucleares, outros países, encabeçados pela França, impulsionaram normas mais flexíveis que levaram a energia nuclear de volta à agenda da UE.

Em 2021, Ursula von der Leyen surpreendeu ao apontar que a UE necessitava da energia nuclear como “fonte estável” de energia, e o bloco passou a inclui-la em sua lista de investimentos “sustentáveis”.

Em junho de 2023, a UE passou a considerar a energia nuclear como um meio de produzir hidrogênio com níveis muito baixos de emissões de carbono.

Finalmente, o clube dos 27 a incluiu em seu roteiro para atingir seus objetivos climáticos e, em fevereiro, lançou uma aliança industrial para acelerar o desenvolvimento de pequenos reatores modulares (SMR).

A UE tem atualmente cerca de 100 reatores nucleares operacionais em 12 países. Assim, a energia atômica é responsável por aproximadamente um quarto da eletricidade produzida no bloco e por quase metade de sua energia livre de carbono.

Cerca de 60 reatores estão em diferentes fases de planeamento ou construção, um terço deles, na Polônia.

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