A esquerda encontrou na cultura uma trincheira em que consegue triunfar e liderar em interações depois de perder há anos engajamento nas redes sociais. Conforme levantamento do Observatório Democracia em Xeque, da PUC-Rio, feito a pedido do Estadão, é no Instagram, pela dificuldade de replicar conteúdo, que a distância entre as duas correntes ideológicas diminuiu.

Segundo o estudo, a direita respondeu este ano, em média, por 53,7% das interações no Instagram, contra 43,5% da esquerda e 2,8% do centro. A direita liderou as interações em 108 dias, enquanto a esquerda teve o melhor desempenho em 36.

Foi durante o festival Lollapalooza Brasil, entre os dias 25 e 27 de março em São Paulo, que a esquerda teve os melhores números em interações somadas, aponta o levantamento, conduzido por Marcelo Alves, do Departamento de Comunicação da PUC-Rio.

Artistas se manifestaram contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) e realizaram atos a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Num dos principais deles, a cantora Pabllo Vittar exibiu uma toalha que estampava o rosto do pré-candidato do PT para o público e as câmeras que transmitiam o evento ao vivo.

À época, o PL, partido do presidente, moveu ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para impedir a manifestação de artistas. No dia 28 de março, a sigla recuou.

“Há uma hegemonia da direita evidente em todas as plataformas desde o impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff”, disse Alves. “Mas, quando há esses picos, há um movimento da esquerda de furar a bolha. É no campo cultural, por parte desses influenciadores, de grandes eventos, que a esquerda tem sua maior oportunidade para conseguir dialogar com mais públicos”, afirmou.

Para Maria Carolina Lopes, pesquisadora em Democracia e Comunicação Digital, o Lollapalooza trouxe um característica que funciona em uma campanha: mostrou uma militância se manifestando de uma forma que parece espontânea. “A questão da toalha é bem importante: agregou um ícone pop, assim como os apoiadores do Bolsonaro andavam com uma blusa do Ramones com o nome dele e dos filhos.”

Bolsonarismo

A “guerra cultural” é um jargão difundido pelo escritor Olavo de Carvalho e usado por bolsonaristas para falar da disputa com a esquerda. O embate, apontou a socióloga Esther Solano, da Unifesp, é travado sobretudo nas redes. “Lá, é possível usar da polêmica e da controvérsia como recursos para alcançar outros públicos.”

Em manifestações de artistas alinhados a Bolsonaro, como o cantor Gusttavo Lima, a Lei Rouanet tem sido alvo constante de críticas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.