Coluna: Pedro Franco

Arquiteto, designer e filósofo, Pedro Franco é considerado um dos maiores expoentes do design brasileiro da atualidade. Atuante e premiado desde anos 2000, criou peças que se tornaram ícones do design brasileiro como a Cadeira Esqueleto e a Poltrona Underconstruction.A tensão entre o Artesanato e Arte x Indústria é uma constante em seu trabalho. Suas peças Limited Edition pertencem a museus e a Coleções Privadas de Alto |Design.Hoje divide-se entre a criação de peças "Limited Editions" conceituais artesanalmente e a Direção de Arte e design industrial para a Indústria Alotof Brasil (por ele fundada em 2012, única indústria autorizada a produzir suas peças).Desenvolve também projetos especiais e exclusivos para grandes marcas do segmento da Alta Decoração: Sherwin Williams (Tintas) Arauco (Paineis melamínicos ) Portinari (Cerâmica) São Carlos (Tapetes) Texion (Tecidos) são marcas para as quais desenvolve trabalhos há diversos anos. Importantes mídias vêm destacando seu trabalho, tais como: o Jornal Italiano Corriere della Sera, que o denominou como “La New Wave del Design Brasiliano”, o Jornal americano The New York Times, que inseriu a sua Poltrona Underconstruction como "Uma das 4 Tendências do Salão de Milão”, a Revista Brasileira IstoÉ, denominando-o como a "Nova Estrela do Design Brasileiro” a Revista Platinum, que o designou como "O embaixador do design brasileiro"É constantemente convidado a ministrar Palestras nos maiores eventos mundias de design: Salone del Mobile (2012 e 2017), convidado pela curadora Marva Griffin; Seoul Design Festival (2019); Politécnico di Milano (2019) Politécnico di Torino (2009), além de ministrar em média 60 palestras/ano por todo o território brasileiro.

Cultura em festa: Adriano Pedrosa, do Masp, será o curador da Bienal de Veneza

Obra de Lorenzo Quinn na Bienal de Veneza de 2019
Obra de Lorenzo Quinn na Bienal de Veneza de 2019 Foto: Reprodução/Instagram

Acaba de ser nomeado como curador de uma das mais importantes mostras de arte do mundo. O brasileiro Adriano Pedrosa vai comandar a Bienal de Veneza.

De fato, Pedrosa vem desenvolvendo um trabalho primordial na curadoria do Museu de Arte de São Paulo.

Vale frisar que, na qualidade de admirador da arte e paulistano da gema, sou assíduo frequentador de exposições no Brasil e no mundo.

Um dos fatores que mais me encantam no Masp é sua arquitetura e forma expositiva disruptiva.

A caixa de concreto suspensa, brutalista, com paredes em vidro ladeando a Avenida Paulista por si só; já é um desbunde.

Para deixá-las livres, Lina Bo concebeu cavaletes também em concreto e vidro, deixando as fachadas do Museu Livre e valorizando obras que flutuam em meio ao espaço.

Cavaletes em concreto e vidro fazem obras flutuar em meio ao espaço do Masp

Cavaletes em concreto e vidro fazem obras flutuar em meio ao espaço do Masp

É uma viagem visitar o Masp; e seu conceito expositivo. Adoro ver o “verso “das obras, o chassi que tem registrado toda a sua história e exposições da qual fez parte.

Esse conceito havia sido desconsiderado pela curadoria anterior. E aí Adriano Pedrosa já mostrou a que veio; quando nomeado Curador Visual do Masp, em 2016, resgatando a conexão entre o partido arquitetônico e o expositivo.

Há diversas formas de pensar uma curadoria. Por muitas vezes observamos a ordem Artista e Cronologia.

Adriano Pedrosa vem mostrando curadoria ímpar, que abrange uma perspectiva muito maior que a exposição de arte de respectivo artista.

Primeiramente através do resgate de obras históricas pertencentes ao acervo do Masp

Como foi o caso da mostra de Degas. O rico acervo de 76 telas foi novamente exposto ao grande público, contextualizando-o, no entanto, através de rica explanação sobre quem eram as famosas bailarinas.

Como é o caso como a de Marie van Goethem, filha de sapateiro e lavadeira, e que dançava no Museu Opera, onde Degas a conheceu.

Ou ainda a interessante retrospectiva de Volpi, na qual pude observar todo processo do artista registrando casas coloniais, seus telhados até chegar nas ‘famosas” composições de bandeirinhas.

Adriano Pedrosa traz ainda à tona um papel fundamental da curadoria de Arte a inserção de minorias que fazem parte de nossa cultura brasileira.

Foi assim na incrível exposição de Luiz Zerbini, artista convidado para desenvolver telas inéditas para uma exposição cujo tema era a revisão de cenas históricas que eram conhecidas por seu registro com viés ideológico.

Cenas como a Guerra de Canudos, o Garimpo Ilegal e o Massacre de Haximu foram reinterpretadas de forma artística e atual.

Exposição no Masp

Exposição no Masp

Ao mesmo tempo o artista indígena Joseca Yanomami tinha registrado desenhos que representavam o quotidiano de seu mágico (e sofrido) território; e ainda a exposição do jovem artista Dalton Paula (1982) que fazendo um paralelo a tradição ocidental, no qual as elites tinham o seu retrato como forma de registro. Suas obras em contraponto davam voz resgatando e dando cara a pessoas negras e indígenas, as quais se conhecem as histórias, mas não tiveram o privilégio de ter registrado a sua imagem.

Resgates necessários, exacerbando uma necessária reflexão sobre o passado que remonta ao presente brasileiro.

No atual momento em que muitas vezes, em feiras comerciais a arte é apresentada como puro entretenimento e discurso vazio o trabalho ímpar de uma curadoria se faz fundamental.

Não por acaso a arte é considerada política pública em países desenvolvidos.

Como ocorrido em meados dos anos 80 na França ou nos dias atuais da Coréia do Sul.

Não por acaso, tais países representam transformações notórias inclusive como potência econômica mundial.

“La Biennale di Venezia” é uma das mais conceituadas mostras de arte do mundo. Ocorre continuamente desde 1895, e Pedrosa é o primeiro curador do hemisfério Sul a ter a honraria de ser curador do evento.

Abaixo insiro algumas linhas da justificativa do Comitê da Fundação para efetivação do convite:

“O olhar para a arte contemporânea, não para fornecer um catálogo do existente, mas para dar forma às contradições, diálogos e parentescos sem os quais a arte permaneceria um enclave desprovido de seiva vital.”

Vale realçar que em tempos nos quais temos uma overdose de imagens inseridas nos meios digitais e no qual vivemos num verdadeiro Fast Food imagético é de vital importância que boas mãos nos conduzam sobre a verdadeira valia e sentido da arte; tal qual um bom maestro ressignifica suas músicas e tira o melhor de sua orquestra.

Nos dias atuais, fortes discussões ocorrem no mundo da arte. Há poucos meses o americano Jason Allen, um designer de jogos, venceu o concurso de Belas Artes do Colorado State Fair; na categoria Digital Arts, porém pós tornar-se vencedor, declarou que a mesma foi gerada por um simples e acessível programa disponível online, no qual a IA cria imagens a partir de um texto.

Outro caso recente foi a obra do artista urbano Banksy (aquele que ninguém jamais viu pessoalmente). O inquieto artista ao ver sua Tela “A menina com balão “ser arrematada em um leilão da  Southeby`s por 1,5 milhões de liras, ativou remotamente um dispositivo que fragmentou a tela.

O nobre leitor percebe a complexidade de tal entendimento.

Se faz necessário novos olhares que nos conduzam para o entendimento sobre a Arte de forma mais holística, humanística e transformadora.

Três vivas para Adriano Pedrosa, o novo curador del “La Biennale di Arte di Venezia” 2024.