'Culpa do Lula e do Bolsonaro': demitida da Globo, Daniela Lima pode disputar eleição

Coluna: Matheus Baldi

Mineiro, Matheus Baldi é jornalista e apresentador, com passagens por UOL, SBT, Record e Band. Com mais de 4 milhões de seguidores nas redes sociais, já ultrapassou os 2 bilhões de visualizações em seus vídeos na internet. Diariamente, Matheus compartilha sua visão apurada e informações exclusivas sobre os bastidores do show business.

‘Culpa do Lula e do Bolsonaro’: demitida da Globo, Daniela Lima pode disputar eleição

Exclusivo! Eleições de 2026 já movimentam os bastidores e expõem ajustes estratégicos na linha editorial das emissoras de TV

'Culpa do Lula e do Bolsonaro': demitida da Globo, Daniela Lima pode disputar eleição
'Culpa do Lula e do Bolsonaro': demitida da Globo, Daniela Lima pode disputar eleição Foto: Reprodução/montagem web

A demissão de Daniela Lima da Globo, confirmada nesta segunda-feira, 4 de agosto, não foi recebida como algo trivial nos bastidores da imprensa. Contratada em 2023, após passagens pela revista Veja, Folha de S.Paulo, TV Cultura e CNN Brasil, ela era vista como uma aposta promissora dentro da Globo. A jornalista, que apresentava o ‘Conexão GloboNews’ ao lado de Leilane Neubarth e Camila Bomfim, foi desligada da emissora logo após retornar de férias.

A Coluna apurou com exclusividade que, nas últimas horas, importantes nomes da esquerda no Congresso e na Câmara dos Deputados passaram a discutir, nos bastidores, a possibilidade de convidar Daniela Lima para disputar uma vaga como deputada nas eleições do ano que vem. A movimentação ocorre em meio à repercussão sobre os reais motivos de sua demissão da Globo. Em contato com uma fonte próxima à jornalista, ela avaliou que a chance de Daniela aceitar é “praticamente remota”. E a mesma fonte destacou: “Ela tem sonhos ousados, mas todos dentro do jornalismo”.

O desligamento de Daniela, ao que tudo indica, tem relação com informações que antecipei aqui no dia 21 de julho, sobre movimentos internos da Globo para se preparar para a cobertura das eleições de 2026. Embora ainda falte mais de um ano para o pleito, os bastidores já estão agitados. A emissora trabalha para definir diretrizes mais rígidas, fortalecer sua política de compliance, garantir credibilidade editorial e evitar qualquer ruído que possa comprometer sua imagem em um cenário cada vez mais polarizado.

Neste espaço também revelei que minhas fontes da emissora contaram que o departamento de Jornalismo e o setor Jurídico, com apoio de uma consultoria especializada em comunicação e política, até iniciaram o desenvolvimento de uma espécie de cartilha de conduta ética. Um material que irá orientar repórteres, apresentadores e analistas sobre como lidar, de forma isenta, com políticos, partidos, empresários e empresas com algum tipo de vínculo político.

Também expliquei sobre a criação de um comitê editorial independente, com autonomia para apurar casos sensíveis, avaliar comportamentos de âncoras e repórteres, além de ter a função de orientar em pautas mais sensíveis. Na minha apuração também descobri que a Globo ampliou sua demanda no uso de inteligência artificial para auditorias internas, através da encomenda de sistemas que sejam capazes de detectar potenciais conflitos de interesse, mapear equilíbrio temático, diversidade de fontes e tempo de fala. A intenção é justamente garantir pluralidade e transparência, com relatórios periódicos que possam comprovar, com dados, o compromisso com o equilíbrio editorial.

A demissão de Rodrigo Bocardi, em janeiro deste ano, por descumprimento das normas éticas do jornalismo, foi o ponto de partida para o sinal de alerta ter sido intensificado. Segundo veículos da imprensa, Bocardi teria atuado como consultor de comunicação para políticos e empresas, indo contra as diretrizes internas da Globo.

Dentro desse novo contexto de forte rigor e ajustes editoriais, o nome de Daniela Lima passou a ser observado mais de perto. Segundo a Folha de S.Paulo, uma pesquisa de opinião feita pela Quaest, encomendada pela cúpula da GloboNews, revelou que uma parcela relevante dos assinantes considera a linha editorial do canal “alinhada à esquerda”. Partidos como PT e PSOL foram citados, e o tom mais informal de algumas análises também foi alvo de críticas.

A pesquisa questionava diretamente se os espectadores aprovavam a forma como os apresentadores se portam no ar, e a resposta foi, em parte, negativa. Daniela Lima, segundo fontes, passou a ser vista como uma figura que simbolizava justamente as críticas levantadas na pesquisa. Posicionamentos progressistas e suposto alinhamento com pautas da esquerda, além de postagens em redes sociais com críticas a ministros mais conservadores do STF, teriam sido levadas em conta na avaliação interna.

Ou seja, a saída da jornalista não foi uma ação isolada, mas consequência de um processo estratégico mais amplo. Agora, o nome mais cotado para assumir o comando do Conexão GloboNews é Rafael Colombo, jornalista com passagens relevantes pela CNN Brasil e Jovem Pan News. Esta última é conhecida por sua linha editorial mais inclinada à direita. O perfil de Colombo, com boa recepção entre públicos mais conservadores, é visto como peça-chave na tentativa da emissora de reequilibrar sua imagem perante a opinião pública.

No entanto, Daniela que é também é muito competente não deve ficar fora do ar por muito tempo. Ainda segundo a Folha de S.Paulo, o SBT estaria interessado em contratá-la. A emissora da família Abravanel planeja lançar, em breve, um canal linear de notícias, o SBT News. Leandro Cipoloni, diretor nacional de jornalismo do SBT, e responsável por ter levado Daniela para a CNN em 2019, é quem deve conduzir a negociação com a jornalista assim que retornar de férias.

É bem aqui que está minha percepção inicial sobre todas essas movimentações. Enquanto a Globo avalia e aposta em nomes que dialogam com a direita, o SBT pode encontrar em Daniela um trunfo para atrair um público mais progressista. Em ambos os casos, vejo uma enorme sensatez na busca pelo equilíbrio editorial que o jornalismo brasileiro tanto precisa nesse ano pré-eleitoral.

Diante de tudo isso, é comum, quase automático, que muitos resumam essas decisões à eterna disputa entre Lula e Bolsonaro. A “culpa” dos dois, nesse caso, na minha percepção, é simbólica. Representam os polos desse cenário político polarizado que influencia o debate público e, por extensão, respinga no trabalho da imprensa. O jornalismo, nesse contexto, virou alvo constante de comentários como “a serviço da esquerda” ou “fazendo o jogo da direita”. Desse jeito, parece até difícil encontrar o meio-termo. Mas, na minha opinião, é justamente nesse meio-termo que estão as melhores respostas e as melhores soluções.

Quem sabe, nesse novo tabuleiro, profissionais e veículos encontrem novos caminhos para seguir fortalecendo um jornalismo pautado pelo equilíbrio, pela apuração rigorosa e pela escuta ativa. Acredito que essa dança das cadeiras pode beneficiar todos os lados e abrir caminho para uma cobertura eleitoral mais plural, diversa e, acima de tudo, verdadeiramente útil para a construção de um futuro melhor para o nosso país.