19/06/2024 - 9:55
Os aprendizes de cozinheiro trabalham nos fogões da associação Migrateful, em Londres, para preparar as receitas familiares de Faten, uma síria refugiada no Reino Unido.
Cada uma das equipes de dois integrantes tem a tarefa de cozinhar um dos seis pratos do cardápio do dia, sob a supervisão dos professores Najee e Sanobar, que lhes dão conselhos e, às vezes, colocam a mão na massa.
As receitas propostas vão desde tabule até shawarma de frango, passando por ensopado de berinjela.
Durante três horas, os alunos londrinos se empenham em aprender as receitas desses professores que são refugiados, enquanto se escuta o som das facas cortando, o ruído das panelas e o crocante dos vegetais em óleo fervendo, com uma trilha sonora oriental de fundo.
E ao final do curso, todos compartilham os frutos de seu trabalho.
“Quando cozinhamos juntos e dividimos comida, criamos um vínculo, aprendemos sobre as pessoas com quem comemos, sobre sua cultura, sua vida”, explica Najee à AFP.
Najee, que prefere não revelar seu sobrenome, fugiu do Afeganistão em 2021 quando os talibãs retomaram o poder.
Depois de nove meses percorrendo as estradas do Irã, Turquia, Grécia e França, passando noites sob pontes ou em estações de trem, chegou ao Reino Unido em junho de 2022.
Primeiro, ficou abrigado em um albergue para imigrantes do governo britânico no sul de Londres, sofrendo por não poder trabalhar ou estudar e compartilhando alojamento com estranhos.
“Fiquei muito deprimido nos primeiros meses e ficava muito tempo em meu quarto”, explica.
Tudo mudou para ele quando se uniu ao Migrateful, uma organização de caridade composta essencialmente por refugiados e migrantes, que oferecem cursos de culinária para o grande público.
Najee sabia que tinha talento para a cozinha desde que era adolescente, quando seus amigos lhe pediam que preparasse pratos para eles.
Mas agora foi formado como “um profissional” por essa associação de Londres.
Quando obteve o status de refugiado, em setembro de 2023, ganhou o direito de trabalhar e ter renda dando aulas de culinária para a Migrateful e oferecendo serviços de catering.
Para Najee, cozinhar também representa uma forma de expressar sua criatividade como artista.
“A comida não precisa apenas ter um bom sabor, mas também uma boa aparência”, diz ele.
Sanobar Majidova deixou o Uzbequistão rumo ao Reino Unido para que seus filhos tivessem acesso a uma educação de melhor qualidade do que em seu país da Ásia Central.
Um ano depois de sua chegada, teve que enfrentar o confinamento da pandemia de covid.
“Meu nível de inglês era zero. Fiquei em casa durante meses com meus quatro filhos, foi uma época difícil”, afirma.
Para agradar seus filhos, ela pesquisava na Internet todos os dias em busca de novas receitas. Depois de ouvir uma amiga falar sobre o Migrateful, ela percebeu que poderia transformar sua paixão em um trabalho.
Sanobar ama ensinar a fazer plov, um prato uzbeque à base de arroz.
“Temos 38 nacionalidades diferentes na associação, por isso há muitas culinárias interessantes”, diz o fundador do Migrateful, Jess Thompson.
A associação trabalha principalmente com vítimas da migração forçada de países do Oriente Médio, África, o sudeste asiático e América Latina.
“Encontram-se socialmente isolados quando chegam a esse país”, explica Jess Thompson. “A Migrateful lhes dá abrigo, uma comunidade, podem ganhar confiança neles mesmos e elevar sua autoestima porque veem que tem algo a contribuir para o país”, acrescenta.
Muitos encontram emprego em restaurantes ou abrem seu próprio negócio de bufê depois de trabalhar nas cozinhas de uma associação que espera mudar a visão de alguns britânicos sobre a imigração.
“Quando os conhecemos e passamos tanto tempo com eles, compartilhando refeições, nós os vemos como seres humanos e não como uma ameaça”, diz Jess Thompson.
“Londres não seria nada sem a contribuição dos imigrantes”, conclui ela.
video/phz/gmo/psr/zm