O ministro da Economia Paulo Guedes faltou na tarde de hoje ao lançamento do Casa Verde e Amarela, novo programa social do governo. No mesmo evento, o presidente Jair Bolsonaro chamou o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, de PG2. Seria apenas uma brincadeira com o fato de que as iniciais de seus dois auxiliares são as mesmas, ou algo mais – como a sugestão de que existe um segundo nome em sua equipe apto a desempenhar o mesmo papel de Guedes? 

Deixo aos freudianos a tarefa de analisar o chiste do presidente. Pensando apenas na política, acho que o encanto de Bolsonaro com Guedes, ou PG1, se reduz a cada instante. 

A razão disso é que Bolsonaro parou de lutar contra a lei da gravidade, enquanto o ministro da Economia continua tentando fugir dela. Gravidade, neste caso, é a força de atração que o assistencialismo exerce sobre os políticos no Brasil. É natural que seja assim, num país cheio de miseráveis e pobres.

 Bolsonaro e PG1, no entanto, disputaram a eleição como se estivessem a bordo de um foguete que escaparia do planeta das políticas tradicionais, rumo a uma nova fronteira, que eles chamavam de liberalismo econômico ou capitalismo verdadeiro. Agora Bolsonaro já não enxerga o motivo para fazer essa viagem: a reeleição está logo ali, no sertão e nas periferias, e não em outra galáxia. 

Desenha-se, assim, um governo que no plano econômico será uma continuação de tudo que veio antes, de tucanos e petistas. Nada de ruptura. Assim como o PT repaginou e aprimorou os programas de transferência de renda de Fernando Henrique Cardoso, criando o Bolsa Família, Bolsonaro reformulou o Minha Casa, Minha Vida no programa de habitação popular que lançou hoje e fará o mesmo com o Bolsa Família, ao lançar o Renda Brasil. 

O presidente pressiona PG1 para que o benefício do Renda Brasil fique o mais próximo possível de R$ 300, enquanto o ministro faz força na direção contrária, dizendo que não há dinheiro. Seja qual for o resultado, o ministro já perdeu. Essa nunca foi sua agenda. 

PG1 pode tentar se consolar imaginando que num segundo mandato ele terá carta branca de verdade. Mas será que Bolsonaro ainda o vê como indispensável para alcançar um segundo mandato? Será que a experiência com Sérgio Moro não lhe mostrou que pode sobreviver sem convicções emprestadas (o liberalismo no caso de Guedes, a pauta justiceira no caso de Moro)? 

Se eu fosse PG1, olharia por cima do ombro. PG2 tem uma ótima sintonia com Bolsonaro. Já passou até por uma live com o sanfoneiro do Planalto e, ao contrário do (ainda) ministro da Economia, em vez de sofrer, sorriu. 

PS: Por que Fabrício Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da primeira dama Michelle Bolsonaro?