O vice-presidente Hamilton Mourão, que também preside o Conselho da Amazônia, deve se encontrar amanhã com investidores estrangeiros que reclamam do governo brasileiro um maior rigor no combate ao desmatamento.

A reunião acontecerá um dia antes de o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgar oficialmente os números da devastação em junho. Uma prévia foi apresentada hoje pelo jornal Valor Econômico, e mostra o pior índice dos últimos cinco anos: quase 3.000 quilômetros quadrados de desmatamento.

Em junho, Mourão ignorou os números do Inpe para passar uma imagem edulcorada do problema. Em tom de “missão cumprida”, disse que a devastação da Amazônia Legal estava caindo, quando os dados não autorizavam essa conclusão. Nem é preciso dizer que a repetição dessa estratégia será desastrosa.

Ainda que não brigue com os números do Inpe, Mourão talvez insista no discurso que vem adotando, segundo o qual a percepção negativa sobre o Brasil é fruto de um certo grau de desinformação, da falta de uma visão completa sobre o que está acontecendo. Mourão tem acesso permanente à ministra da Agricultura Tereza Cristina, e deve saber que esse também não é um caminho promissor. Funciona com bolsonaristas, pode até funcionar com um público leigo, mas terá eficácia zero com grandes investidores.

Tive a oportunidade de conhecer com algum detalhe o trabalho de uma trader de grãos no campo da sustentabilidade. Ele envolve acompanhamento por satélite das propriedades de onde os grãos são comprados, análise permanente de documentação e visitas diretas aos produtores. Não falta rigor ao trabalho. A empresa nem sequer se aproxima de agricultores instalados na fronteira da Amazônia, por saber que a certificação do produto, a garantia de  que ele não foi colhido em áreas ilegais, será sempre problemática.

Digo isto para mostrar que a premissa da desinformação é falsa. Na verdade, que o nível de informação dos mercados estrangeiros sobre as áreas de plantio e preservação brasileiras é bastante elevado – e não depende apenas de dados fornecidos pelo governo. Lero-lero não cola. Medidas concretas serão necessárias para aumentar a confiança no Brasil. O decreto em preparação pelo governo federal, impondo uma moratória de quatro meses às queimadas legais, vai nessa direção. Mas sem fiscalização e sem punição aos transgressores, as leis viram letra morta.

É justamente aí que o governo Bolsonaro sai da linha. Até agora, tudo que ele fez foi no sentido de aleijar os órgãos de fiscalização e controle, e acolher sob as suas asas os desmatadores, com seus tratores, serras elétricas e caminhões. Segundo a edição de hoje do jornal O Estado de S. Paulo, Mourão vai fazer um mea culpa no seu encontro com os investidores, mas não vai se comprometer com metas. Desconfio que não vai ser suficiente.