Sabe-se que ele não tem o expediente de Raúl Castro, nem o carisma ou a oratória de Fidel. Alguns, inclusive, nem o conhecem, mas os cubanos esperam que seu novo presidente, Miguel Díaz-Canel, amplie as reformas econômicas para melhorar suas vidas.

“Esperamos mais mudanças. O poder passa para uma pessoa muito mais jovem, com novas ideias, novas perspectivas, então esperamos que as reformas aconteçam mais rápido”, avaliou Yani Pulido, de 27 anos, garçonete em um bar privado de Havana Velha.

Pela televisão, em suas casas ou locais de trabalho, os cubanos acompanharam os detalhes da sessão histórica do Parlamento, de dois dias, quando foi escolhido o engenheiro Díaz-Canel, na véspera de seu aniversário de 58 anos, como o primeiro presidente da era pós-Castro.

Depois do triunfo da revolução em 1959, e desde que Fidel Castro assumiu o governo em 1976, é a primeira vez que um presidente cubano não tem o sobrenome Castro, não integra a geração “histórica”, não veste uniforme militar e não é o primeiro secretário do governante Partido Comunista (PCC, único).

Raúl continuará como líder do PCC até 2021, o que para muitos cidadãos garante a continuidade do projeto socialista e das reformas econômicas que o presidente em fim de mandato anunciou.

A maior expectativa entre os cubanos é que Díaz-Canel consiga se legitimar e possa fazer avançar a “atualização” (reforma) do modelo econômico socialista, cuja aplicação enfrenta, segundo o próprio governo, “erros e atrasos”.

– O conheço da televisão –

Alto, de cabelo grisalho e com certa semelhança com o ator americano Richard Gere, de acordo com suas admiradoras, Díaz-Canel ocupou nos últimos 24 anos importantes cargos no PCC e no governo, mas alguns cubanos asseguram não conhecê-lo.

“Sobre ele, sei muito pouco. Um novo presidente que praticamente não conhecemos. A mim isso chama a atenção (me preocupa)”, se queixou Raúl Portillo, de 79 anos e segurança de um depósito estatal.

Mais de 70% dos cubanos nasceram durante o governo dos irmãos Castro, ou envelheceram junto com os líderes históricos da cúpula governante. As comparações são inevitáveis.

A garçonete Yani Pulido é uma das admiradoras do novo presidente cubano. “Me impressiona um pouquinho por sua semelhança com o ator americano (Richard Gere), mas não tem o carisma nem a oratória de Fidel. Se o compararmos com Fidel, e é difícil não fazê-lo, é claro que fica aquém”, acrescenta a jovem, enquanto atende seus clientes.

Sobre Díaz-Canel “só sei o que transmite o noticiário da televisão”, declarou Héctor Fuente, de 36 anos, condutor de “bicitáxi”, referindo-se às aparições cada vez mais frequentes de quem até agora era o primeiro vice-presidente de Cuba.

Em Villa Clara, província do centro da ilha onde nasceu Díaz-Canel e se converteu no primeiro dirigente da União de Jovens Comunistas, e depois do PCC, lembram dele como um menino muito simples e de tratamento cordial.

Inclusive, falam dos tempos difíceis da crise econômica dos anos 1990 gerada na ilha pela queda da União Soviética, quando o agora presidente costumava andar de bicicleta pelas ruas da cidade, animando não somente a economia, como a cultura.

“É um dirigente do povo. Quando ele comandou o partido aqui foi sensacional, porque não tinha hora (para terminar o trabalho) e estava em todos os lugares”, declarou à AFP o aposentado José González, que vive em Santa Clara, capital de Villa Clara.

– ‘Mais mudanças’ –

Os cubanos aplaudiram as reformas econômicas de Raúl Castro, que ficaram sem finalização. Pedem ao novo governo para que acelere o ritmo, pois o dia a dia é duro com um salário médio de 30 dólares por mês.

Osmany Rojas, de 41 anos, que para complementar sua renda alterna o trabalho de professor de esportes em uma escola estatal com o de porteiro em um bar privado, acredita que as reformas de Raúl deixaram “coisas pendentes”.

“Que retome a reforma econômica com novas perspectivas, com outro tipo de pensamento, talvez mais aberto, e que, sobretudo, melhore os salários e as opções de trabalho para os jovens”, continuou.

“Falta que Cuba evolua, que potencializem novos caminhos para alcançar esse socialismo próspero e sustentável do qual tanto falamos”, afirmou Dayana Cárdenas, de 18 anos, estudante do primeiro ano de Medicina.

Os cubanos também se perguntam se Díaz-Canel poderá desenvolver toda a sua iniciativa para impulsionar as mudanças que o país precisa, de acordo com um plano aprovado pelo PCC que vai até 2030.

“Quando Fidel adoeceu, colocou o irmão (Raúl), mas sempre o guiou. Com Díaz-Canel vai acontecer o mesmo, Raúl vai guiá-lo”, considerou Fuente. “Díaz-Canel tem que seguir um roteiro, que são os alinhamentos (reformas) que foram aprovados no Congresso do partido. Até que ponto poderá sair desse roteiro? Não sei”. acrescentou.