O encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos em Havana, Benjamin Ziff, foi convocado nesta segunda-feira (18) à chancelaria pela “conduta intervencionista” de Washington durante os protestos contra os apagões e a escassez de alimentos, registrados no domingo em Santiago de Cuba.

O vice-ministro, Carlos Fernández de Cossío, “transmitiu formalmente” a Ziff “o firme repúdio à conduta intervencionista e às mensagens caluniosas do governo americano e sua embaixada em Cuba sobre assuntos internos da realidade cubana”, ressaltou a chancelaria em um comunicado.

O chamado de atenção ao diplomata americano ocorre depois que centenas de pessoas foram protestar nas ruas de Santiago de Cuba (leste), a segunda cidade mais importante do país, com 510.000 habitantes, depois de vários dias difíceis devido aos apagões de até l3 horas diárias e à falta de alimentos.

Washington afirmou que estes protestos “refletem uma situação desesperada” e considerou “absurda” a acusação de que está por trás das manifestações, disse nesta segunda o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel.

A embaixada dos Estados Unidos em Cuba publicou no domingo à noite, na rede X, uma mensagem para instar “o governo cubano a respeitar os direitos humanos dos manifestantes e atender às necessidades legítimas do povo cubano”.

Além disso, afirmou que tinha informações de “protestos pacíficos” em Santiago de Cuba e na cidade de Bayamo, na província vizinha de Granma e “outros locais de Cuba, com moradores protestando pela falta de alimentos e eletricidade”.

Desde a tarde de domingo, as redes sociais se encheram de imagens do protesto em Santiago de Cuba que a AFP pôde confirmar em diversos testemunhos.

Além de Bayamo, foram publicadas imagens de protestos em outras localidades, como Cobre, em Santiago de Cuba, e Santa Marta, na província de Cárdenas (centro), comprovadas pela AFP.

A organização de Direitos Humanos 11J documentou a detenção de dois homens durante os protestos, um em Bayamo e o outro em Cobre.

“Condenamos as prisões de manifestantes pacíficos nas jornadas de protestos de ontem e hoje em Cuba”, escreveu a presidente da organização, Camila Rodríguez, na rede X.

– ‘Responsabilidade direta’ –

Fernández de Cossío também ressaltou a Ziff “a responsabilidade direta” de Washington “ante a difícil situação econômica que Cuba atravessa neste momento […], sob o peso e o impacto do bloqueio econômico, desenhado para destruir a capacidade econômica do país”, acrescentou o comunicado.

Os Estados Unidos mantêm um embargo econômico contra a ilha há mais de seis décadas, reforçado nos últimos anos, primeiro durante o mandato de Donald Trump (2017-2021) e continuado por seu sucessor, Joe Biden.

“Se o governo dos Estados Unidos tivesse uma preocupação mínima e honesta sobre o bem-estar da população cubana, removeria Cuba da lista arbitrária de Estados que supostamente patrocinam o terrorismo”, acrescenta a nota.

Em 2021, Washington voltou a incluir Cuba em sua lista de patrocinadores do terrorismo, uma medida que dificulta as transações comerciais e os investimentos da ilha.

Desde o começo de março, Cuba enfrentou novos cortes de energia pelos trabalhos de manutenção que ocorriam na usina termelétrica Antonio Guiteras, a mais importante da ilha e situada em Matanzas. Ela voltou a funcionar nesta segunda-feira.

No último fim de semana, os cortes de luz se intensificaram pela escassez de combustível, necessário para alimentar as demais termoelétricas.

Retirar Cuba da lista de patrocinadores do terrorismo “poria fim à perseguição dos suprimentos de combustível que o país precisa importar”, acrescenta o comunicado.

As autoridades informaram no sábado que o país estava “afetado completamente” pelos apagões, inclusive a capital. O problema se intensificou pela escassez de combustível na ilha, que é necessário para alimentar as termoelétricas.

Em 2022, Cuba experimentou apagões cotidianos que provocaram surtos de descontentamento social. A manifestação do último domingo é a maior registrada desde então.

Em 11 de julho de 2021, milhares de cubanos saíram às ruas em cerca de 50 localidades aos gritos de “liberdade” e “estamos com fome”. Centenas de manifestantes foram condenados com até 25 anos de prisão, enquanto artistas e intelectuais dissidentes optaram pelo exílio.

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