O apagão quase total que afeta cerca de 10 milhões de cubanos entrou neste sábado (19) em seu segundo dia, apesar dos esforços do governo para reativar o sistema de eletricidade, que colapsou no dia anterior devido a uma falha na principal termoelétrica da ilha.

As autoridades relataram um progresso inicial na restauração do sistema. “370 MW é a soma do que temos em microsistemas” e esse número aumentará “com a entrada, esta tarde, de termoelétricas, centrais flutuantes e motores”, informou o Ministério de Energia e Minas em sua conta na rede social X.

Os microsistemas são motores anexos que garantem o serviço a centros vitais e abastecem algumas residências próximas. No entanto, trata-se de uma geração muito limitada de eletricidade em comparação com os 3.300 megawatts que o país demandou na última quinta-feira, um dia antes do colapso, quando o governo declarou “emergência energética”.

Ontem, uma falha na principal central termoelétrica da ilha causou a queda da rede por uma nova “desconexão total do sistema eletroenergético nacional”, relatou o portal de notícias Cubadebate, sem fornecer mais detalhes.

Este anúncio foi um grande choque para muitos cubanos, que mal conseguiram dormir devido ao calor, sem ventiladores.

– “Manter a calma” –

“Este apagão dificulta muito a vida dos cubanos. A situação é muito difícil, mas tento manter a calma, porque já existe muito estresse neste país”, disse à AFP Yaima Valladares, dançarina de 28 anos.

A dona de casa Isabel Rodríguez, de 72, reclama que não conseguiu dormir. “Como é que as nossas vidas não serão afetadas se não temos nada, nem mesmo ligamos as bombas hidráulicas?”, questionou.

O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, participou durante a noite de uma reunião de supervisão, em que prometeu que “não haverá descanso” até o total restabelecimento do serviço. O colapso do sistema de energia “é mais uma demonstração de todos os problemas que o bloqueio nos causa”, afirmou.

“O sistema ficou sem energia em todo o país”, após a inoperância imprevista da usina termoelétrica Antonio Guiteras, disse à TV estatal Lázaro Guerra, diretor-geral de Eletricidade do Ministério de Minas e Energia.

Ao amanhecer, a maioria dos bairros da capital cubana, com dois milhões de habitantes, ainda estavam sem eletricidade, confirmou um fotógrafo da AFP. Apenas hotéis, hospitais e algumas residências particulares que possuem geradores próprios tinham luz.

“As pessoas estão um pouco alteradas por tanto tempo sem energia, e Deus sabe quando vão restabelecê-la”, comentou Rafael Carrillo, um mecânico de 41 anos, que afirmou ter caminhado quase cinco quilômetros devido à falta de transporte.

“Você passa quatro ou cinco horas esperando o ônibus, e quando ele passa, vem lotado e não para”, disse, exausto, diante da quase inexistente circulação de transporte público.

– “Impossível estudar” –

O governo anunciou na quinta-feira a paralisação das atividades estatais para enfrentar a crise que, nas últimas semanas, deixou a população de várias províncias sem luz por até 20 horas em um único dia.

Os cubanos sofrem há três meses com os apagões, com um déficit de cobertura nacional de até 30%. E nesta quinta chegou a 50%.

Essa situação desestabiliza a vida cotidiana da população. “Eu era estudante, e os estudantes precisam estudar, e sem luz é quase impossível”, disse um jovem de 18 anos que pediu anonimato e se queixou da falta de informações.

“Meu celular já está sem bateria, não temos internet, a conexão também cai, e não consigo ligar para meus familiares porque não há cobertura no telefone fixo em casa”, afirmou antes de se afastar lentamente em sua bicicleta.

– “Ruína energética” –

A energia elétrica na ilha é gerada por meio de oito termoelétricas antigas, que, em alguns casos, apresentam avarias ou estão em manutenção, além de sete plantas flutuantes – que o governo arrenda de empresas turcas – e grupos eletrogêneos (geradores).

Toda essa infraestrutura requer, em sua maioria, combustível para funcionar.

Cuba atravessa sua pior crise em três décadas, com falta de alimentos, remédios e apagões crônicos que limitam o desenvolvimento das atividades produtivas, além de uma inflação galopante nos últimos anos.

Os apagões foram um dos fatores desencadeadores das históricas manifestações de 11 de julho.

Em 2023, a ilha se recuperou dos cortes de eletricidade diários que sofreu durante quase todo o ano de 2022.

Em outubro daquele ano, houve outro apagão generalizado, após a passagem do furacão Ian.

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