O Centro de Treinamento Paralímpico completou nesta primeira semana de novembro quatro meses de reabertura. Durante esse período foram realizados 334 testes para o novo coronavírus (231 RT PCR e 103 de sorologia) e um atleta testou positivo. O nome não foi divulgado respeitando o sigilo médico, mas aconteceu no primeiro mês de retorno. Ele cumpriu 15 dias de isolamento, fez novos exames e retornou.

No total são 52 atletas que estão treinando no CT, de apenas três modalidades: natação, atletismo e tênis de mesa. Os critérios para priorizar o retorno são todos de olho nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Os primeiros a retomar as atividades foram os medalhistas e os quem têm chances de conseguir bons resultados.

“Dividimos a reabertura em duas fases, ainda estamos na primeira. Aprovamos em torno de 43 atletas de natação, atletismo e tênis de mesa. Todos foram testados. Na semana passada ampliamos um pouco esse número”, explicou o diretor técnico do Comitê Paralímpico Brasileiro, Alberto Martins.

Os atletas hoje são testados a cada 15 dias. Nos primeiros meses estavam sendo testados semanalmente. Há uma lista na entrada do CT com o nome de quem está autorizado a entrar. Antes de passar a catraca, a temperatura e a saturação de oxigênio são aferidas. No início, todos passavam por uma câmara higienizadora de ozônio – o equipamento não está mais em uso. O trajeto até o local de treinamento é feito por um único caminho, indicado por adesivos no chão, para que não haja encontro com atletas de outras modalidades. Não é permitido o uso de elevadores.

O nadador Phelipe Rodrigues, medalhista nas últimas três edições das Paralimpíadas, vai ao CT desde o primeiro dia de reabertura. “Das dez raias da piscina, só permitem o uso de cinco. Fica um atleta a cada duas raias, respeitando o distanciamento social”, contou.

Nos primeiros meses a academia estava fechada e há um mês foi reaberta, mas com restrições. Para não atrapalhar o treino dos atletas, o CPB levou aparelhos de musculação para cada área de treinamento. A presença nos locais fica restritas aos atletas e treinadores. Após cada atividade é feita a higienização.

“Todos os protocolos adotados foram encaminhados e aprovados pelas autoridades sanitárias de São Paulo. Tudo foi pensado em evitar a contaminação e também levando em conta as comorbidades de alguns atletas, como os que têm paralisia cerebral ou os que são tetraplégicos”, informou Martins. Os atletas que são considerados do grupo de risco também foram autorizados a voltar.

Phelipe é da classe S-10 e tem um grau de comprometimento considerado baixo – ele nasceu com o pé direito torto e mesmo com cirurgias não se recuperou plenamente. Não é considerado grupo de risco. O nadador foi o principal destaque do País nos Jogos Parapan-Americanos de Lima no ano passado, com sete medalhas de ouro e um bronze.

NOVA ROTINA – Apesar dos resultados, ele não está garantido em Tóquio. Quando começou a pandemia, Phelipe estava nos preparativos finais para participar de uma seletiva. Por isso o baque foi grande com a notícia do cancelamento dos eventos. No período em casa ele diminuiu o treinamento, escapou um pouco da dieta, mas depois passou a treinar em uma piscina na cidade de Assis.

Quatro meses depois de começar os treinos no CT, ele diz que ainda não está no ideal da forma física, apesar de a rotina ser bem semelhante ao período antes da pandemia. Phelipe treina de segunda a sábado e a única restrição é o tempo na academia, mais controlado porque precisa haver o revezamento dos atletas.

“Estou bem, mas ainda não estou 100% até porque a gente faz um cronograma de oito meses, que é para estar bem na data da competição (as seletivas estão marcadas para março). O que mais me afetou mesmo foi o condicionamento e a motivação”, comentou.

A mesatenista Joyce Oliveira retornou ao CT nessa semana. Desde o início da pandemia ela estava sem treinar. “Estou muito feliz, esse tempo parada vi como o esporte faz falta em minha vida. Ainda tenho um pouco de receio porque o vírus está aí, mas tenho visto todos os cuidados que o CPB está tomando e a expectativa agora é estar bem para Tóquio.”

Joyce ficou paraplégica em 2002, com 12 anos, quando um ponto de ônibus caiu em cima dela. Desde 2007 participa do tênis de mesa para cadeirantes e agora vive a expectativa de estrear nos Jogos Paralímpicos. “Esse tempo parada vai fazer muita diferença, mas vamos tentar recuperar um pouco pra dar nosso melhor lá”, afirmou.

PROTOCOLOS EM TÓQUIO – Alberto Martins fica de olho nos números do coronavírus em São Paulo e no Brasil para definir os próximos passos e possibilitar que mais atletas possam treinar no CT. A expectativa é que o local esteja apto para começar a segunda fase de abertura no início de dezembro.

Nessa etapa as outras federações e confederações seriam autorizadas a utilizar o espaço. “A gente só não deve abrir ainda neste ano o refeitório e a área residencial. Mas ainda não dá para fazer prognósticos, temos que acompanhar a evolução da doença.”

O diretor técnico acredita que mesmo com esse processo de reabertura, a pandemia deve atrapalhar a preparação para os Jogos de Tóquio. “Acredito que em termos de performance, em maior ou menor grau, pode estar comprometida nas modalidades que exigem mais treinamento de habilidade e destreza”, disse.

O Comitê Organizador de Tóquio tem mantido conversas com os países. Há protocolos já sendo pensados mesmo se não houver vacina. “Estávamos com essas dúvidas, de como seria a entrada no Japão, se teríamos de cumprir 14 dias de quarentena, se teríamos que ficar em outro país antes. Mas ficou definido que vamos fazer um teste 72 horas antes de viajar e seremos testados também no aeroporto quando chegar lá. Mas isso também vai depender da questão da vacina. Temos que aguardar”, afirmou.