Acusada de enriquecimento ilícito, tráfico de influência e lavagem de dinheiro, a ex-presidente e hoje senadora argentina Cristina Kirchner foi alvo de mais um processo na quinta-feira 7. Dessa vez, por traição à pátria pelo suposto acobertamento de iranianos envolvidos no atentado à sede da Associação Mutual Israelita Argentina, em 1994. O ataque deixou 85 mortos e 150 feridos após a explosão de um carro-bomba em frente à sede da instituição, em Buenos Aires. Foi o maior ataque contra judeus desde a Segunda Guerra. O juiz Claudio Bonadio pediu a retirada do foro privilegiado e a prisão preventiva de Cristina para que ela não obstrua as investigações. O Senado tem 180 dias para decidir se permite a prisão.

A suspeita de envolvimento da senadora no acobertamento dos responsáveis é antiga. Logo a partir das primeiras investigações, ex-ministros e diplomatas iranianos apareceram por trás do atentado. Em 2006, a justiça argentina emitiu uma ordem de captura contra seis deles. Um ano depois, o grupo integrava a lista de procurados pela Interpol.

Força dos Kirchner

Nesse período, Cristina e membros de seu governo teriam trabalhado para que os iranianos fossem protegidos em troca da assinatura de um tratado comercial entre Argentina e Irã, depois considerado inconstitucional. Em 2013, foi anunciada a formação de uma comissão integrada por juristas internacionais para esclarecer a autoria do atentado. A iniciativa foi rejeitada pelas associações judaicas. O procurador Alberto Nisman, assassinado em 2015 às vésperas de apresentar um relatório em que acusava a ex-presidente de acobertar o crime, afirmou que a comissão seria “uma manobra criminosa para aproximar Irã e Argentina, restabelecendo relações comerciais para aliviar a crise energética argentina mediante a troca de petróleo por cereais.” Na sentença que proferiu na semana passada, o juiz Claudio Bonadio declarou ter ficado “comprovada a responsabilidade penal dos funcionários que participaram da negociação com o Irã, instigando atos de guerra contra cidadãos argentinos inocentes.”

Cristina e seus aliados têm maioria no Senado. A dúvida é se a ordem de prisão quebrará a força do kirchnerismo. “Um eventual fracasso da senadora aumentará o poder do presidente Maurício Macri.”, diz Thiago de Aragão, analista político da consultoria Arko Advice. “Será um ponto de virada política.”

“Um eventual fracasso da senadora aumentará o poder do presidente Macri” Thiago de Aragão, analista político da Arko Advice