As dificuldades do presidente francês, Emmanuel Macron, para aplacar a ira dos “coletes amarelos” preocupam os países vizinhos, que o consideram o “salvador progressista” na luta contra o populismo na Europa, segundo observadores internacionais.

“Sua eleição em 2017 suscitou esperanças entre os vizinhos europeus, depois de um 2016 marcado pelo referendo sobre o Brexit e a eleição de Donald Trump”, comenta Nicolas Baygert, professor de Comunicação Política na Universidade Livre de Bruxelas.

Em Berlim, ou em Bruxelas, Macron incorpora “um baluarte contra o populismo”, mas também é visto como “um líder voluntarioso em questões europeias”, explica o cientista político belga.

Mas, agora, o “grande” apoio de Emmanuel Macron à causa europeia “parece enfraquecer”, estima.

As imagens de violência em Paris, e o primeiro passo atrás do presidente na terça-feira sobre o imposto sobre os combustíveis, que desencadeou os protestos, prejudicaram bastante sua credibilidade na França e no restante da Europa.

“Seus vizinhos europeus apreciam a firmeza de Macron, especialmente em um país que é visto como impossível de reformar”, ressalta Vincent Laborderie, professor de Ciência Política na Universidade Católica de Louvain, na Bélgica.

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As autoridades francesas tentam tranquilizar seus parceiros econômicos, reafirmando a vontade de continuar com as reformas e de controlar o déficit público.

A persistência dos protestos e o contágio a outros setores, apesar das concessões feitas pelo governo, preocupam os “progressistas” europeus que estão se preparando para as eleições para o Parlamento Europeu em maio.

“O risco, se Macron não agir, é (…) uma grande vitória dos nacionalistas e dos populistas nas eleições europeias”, prevê o jornal espanhol El País.

“A França não pode permitir isso. A Europa muito menos”, acrescentou.

Com Angela Merkel extremamente enfraquecida na Alemanha – em outubro ela teve de anunciar que entregaria as rédeas de seu partido em 2021 depois de duas decepcionantes eleições regionais -, Macron deveria liderar a campanha europeia dos “progressistas”.

“Se a situação continuar a se deteriorar na França, (…) Macron não poderá desempenhar esse papel”, adverte Laborderie.

– Nacionalistas satisfeitos –

Do outro lado do Atlântico, o jornal The Washington Post adotou uma postura severa.

“Macron gosta de se apresentar ao mundo como um centrista encantador, capaz de suportar a ira dos extremos. Mas em seu país é um político que corre o risco de ser comido por uma revolta crescente”, estimou o jornal americano.

Os “nacionalistas” não escondem a alegria de ver o presidente francês enfraquecido.

“Macron não é mais um problema para mim, ou para a Europa”, declarou na segunda-feira o ministro do Interior italiano e chefe da Liga (extrema direita), Matteo Salvini.


O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também comentou a situação na França em um tuíte, no qual se referiu às concessões feitas por Macron.

“Estou contente por meu amigo Emmanuel Macron e os manifestantes em Paris que chegaram a uma conclusão que eu cheguei há dois anos”, escreveu ele, em referência à sua decisão de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o Clima.

A imagem de Macron já vinha perdendo brilho nos últimos meses, com os analistas criticando os limites de suas reformas, os pouco progressos sobre o orçamento na zona do euro, ou retrocessos nas negociações com Trump sobre o clima, ou sobre o Irã.

“Sua imagem já havia perdido o brilho, mas agora a situação é mais séria”, avalia o pesquisador belga Nicolas Baygert.

“Macron sofreu um duro golpe, e a percepção de sua figura, a partir de agora, não será mais a mesma”, diz o jornal espanhol La Vanguardia.

As imagens de guerrilha urbana nos Champs-Élysées rodaram o mundo. Duas semanas antes, no mesmo lugar, Macron protagonizou uma cerimônia comemorativa do centenário do fim da Primeira Guerra Mundial.

“O contraste entre as duas imagens é enorme”, conclui Nicolas Baygert.


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