A França aprofundou sua instabilidade política nesta segunda-feira, 8 de setembro de 2025, com a queda do segundo governo em menos de nove meses. O primeiro-ministro, François Bayrou, perdeu o voto de confiança no Parlamento, confirmando a fragilidade da base governista do presidente Emmanuel Macron. A moção de desconfiança, solicitada pela oposição e até por aliados, obteve 322 votos, superando os 289 necessários para derrubar o gabinete.
A derrota era amplamente esperada e marca o terceiro governo a cair em uma votação parlamentar desde o início da Quinta República em 1958. A crise foi deflagrada pela impopularidade do plano de cortes orçamentários para 2026, proposto por Bayrou. A proposta, que incluía a eliminação de dois feriados nacionais, gerou forte oposição e reacendeu o descontentamento social em todo o país.
O Dilema de Macron
A atenção agora se volta para o presidente Emmanuel Macron, que enfrenta uma encruzilhada política. Após o fracasso de dois primeiros-ministros — Michel Barnier em 2024 e agora Bayrou — o presidente tem duas opções principais, ambas com riscos consideráveis.
A primeira é nomear um novo premiê, buscando uma figura capaz de costurar uma aliança mais ampla no Parlamento. Entre os nomes cotados estão os ministros Sébastien Lecornu (Defesa), Éric Lombard (Economia), Gérald Darmanin (Justiça) e Catherine Vautrin (Saúde). Macron já sugeriu uma aproximação com os socialistas para tentar garantir a estabilidade.
A segunda opção é convocar novas eleições legislativas antecipadas, um cenário que o analista Mathieu Gallard, do instituto de pesquisa Ipsos, considera de alto risco. Gallard aponta que “nenhum dos três blocos [esquerda, centro-direita e extrema direita] tem um apoio eleitoral que permita obter uma maioria absoluta na Assembleia Nacional”, o que poderia levar a um impasse ainda maior.
Economia e as Repercussões da Crise
A incerteza política na França já começa a gerar preocupações nos mercados financeiros. A dívida pública do país, que se aproxima de 114% do PIB, está sob escrutínio de agências de classificação de risco.
Na próxima sexta-feira, a agência Fitch deve anunciar sua nova classificação da dívida soberana da França. Em março, a agência já havia alertado que rebaixaria a nota do país se o governo não conseguisse implementar um “plano confiável” para a redução do endividamento. O plano de Bayrou, que previa cortes de 44 bilhões de euros, não conseguiu a aprovação necessária, deixando o futuro das finanças francesas em um cenário de incerteza.
A extrema-direita, liderada por Marine Le Pen, que não pode se candidatar por estar inelegível, tem sido uma das principais vozes a pedir novas eleições “ultrarrápidas”, buscando capitalizar a crise para avançar sua agenda. A crise atual também reacende o debate sobre uma possível renúncia de Macron, embora o presidente já tenha descartado essa possibilidade, mesmo com 64% dos franceses, segundo a pesquisa Odoxa-Backbone, apoiando essa ideia.