A crise da Covid-19 recupera o papel essencial do Estado na contenção de danos sociais e econômicos. No instante em que cada um tende a pensar em si, o Estado retoma o sentido coletivo do “nós”. Atua em busca da(re)organização social. Fomenta, restringe, fiscaliza, regula, mas não pode ir além do necessário, sob pena de estrangular a continuidade da vida pós-crise. Precisa atuar com temperança, ciente de que a “virtude está no meio”, seguindo a lição aristotélica, ponderando hipóteses e tomando decisões razoáveis e proporcionais diante da realidade posta.

É certo que o Estado deve adotar medidas sanitárias importantes, sem ignorar consequências desastrosas que delas podem advir. Deve agir de tal sorte que a cautela não signifique a real destruição. Semanas de isolamento social, seguindo determinações de organismos sanitários internacionais, representam o primeiro passo. Não cabe a advogados, economistas ou engenheiros o questionamento daquilo que está no cerne da ciência médica.

Todavia, medidas sanitárias não bastam. Urge adequação e controle jurídicos. Decretar calamidade é apenas um passo para atender aos reclames sociais e, legalmente, flexibilizar algumas regras. Ademais, o isolamento social que busca conter o contágio e atenuar a curva de disseminação deve ser conciliado com o menor abalo econômico possível.

A solução passa por avaliação multidisciplinar e não virá isoladamente da União, de alguns estados ou de um grupo de municípios. Também não será alcançada com discursos populistas e demagógicos ou pela escolha irresponsável entre saúde e economia, preferindo-se a simplicidade da opção ao enorme desafio da conciliação.

É prudente atender às determinações das autoridades sanitárias, assim como acompanhar a evolução da doença no território brasileiro e em países que já enfrentaram a pandemia. O Estado que nos auxiliará neste momento difícil não é o paquidérmico. Aquele dos privilégios para agentes públicos e de enormes gastos com estrutura física para atuação burocrática. Não nos ajudarão os políticos orientados por índices de popularidade e adeptos de frases descabidas ou indecorosas.

A sociedade brasileira carece de líderes preocupados com o bem-estar social, ainda que algumas atitudes não sejam momentaneamente compreendidas por cidadãos legitimamente angustiados. Liderar é tarefa árdua que não se coaduna com insensatez, insensibilidade, destempero e demasiada ironia. Não é hora de espetáculo político, é tempo de união.

Liderar é tarefa árdua que não se coaduna com insensatez, insensibilidade, destempero e demasiada ironia. Não é hora de espetáculo político, é tempo de união!