ROMA, 15 FEV (ANSA) – O ex-primeiro-ministro italiano e atual secretário do Partido Democrático (PD), Matteo Renzi, descarta realizar eleições gerais na Itália em junho, como já havia sugerido anteriormente.   

A mudança se deu, segundo fontes consultadas pela ANSA, após uma reunião com o ministro dos Bens Culturais, Dario Franceschini, na noite desta terça-feira (14). Franceschini “lidera” uma das “células” do PD, a chamada “área Dem”, e foi um dos principais pontos de apoio de Renzi na decisão de então substituição de Enrico Letta na liderança do governo italiano em 2014.   

Após a reunião, os “renzianos” e “franceschianos” concordaram em seguir o “tempo normal” de congresso, que deve ser concluído até abril. Com isso, as eleições em junho seriam inviáveis para a legenda. Já o tipo de regras que o PD irá apoiar nos debates do Parlamento para a lei eleitoral, que a maioria do partido quer que sejam as mesmas de 2013, serão debatidas durante o congresso.   

Atualmente, a Itália tem duas leis eleitorais: uma para o Senado e outra para a Câmara dos Deputados. Isso ocorreu porque o referendo constitucional proposto por Renzi enquanto ele ainda era premier foi rejeitado pela população em dezembro e a reforma eleitoral não foi aprovada. Em janeiro, a Corte Constitucional definiu que as mudanças para a Câmara eram válidas e acabou criando dois tipos de legislação.   

O presidente do país, Sergio Mattarella, já se manifestou contrário a organizar eleições com essa situação e o Parlamento se prepara para debater qual ser a lei única a ser adotada. As eleições gerais estão programadas para 2018, mas diversos partidos – e também Renzi – defendem que elas deveriam ser antecipadas para 2017.   

– Crise no PD: Apesar de ser a maior sigla da Itália e ainda continuar na liderança do governo italiano com o premier Paolo Gentiloni, o PD é extremamente fragmentado e dividido em diversos grupos internos.   

Desde que Renzi “derrubou” Letta para assumir o governo, no entanto, há uma forte atuação da chamada “minoria”, contrária a maior parte dos projetos do ex-primeiro-ministro. Com a renúncia de Renzi, essa fragmentação tornou-se ainda mais forte e diversos membros afirmam que há um risco de cisão partidária por causa das visões opostas.   

Tentando amenizar um pouco a situação, Renzi enviou sua tradicional newsletter semanal nesta quarta-feira (15) em que mostra uma certa abertura à minoria e aos debates do congresso – que terá sua data marcada neste final de semana durante uma assembleia do PD.   

“O verbo do congresso não será ‘vão embora’, mas ‘venham’. Não será um debate sobre postos, mas um confronto de ideias. Uma cisão sobre a data do congresso é incompreensível. Inexplicável um partido que se chama democrático ter medo da democracia.   

Vamos retomar, nos colocarmos no caminho novamente e há a necessidade de todos”, escreveu o secretário do PD.   

Ressaltando essa postura de diálogo, Renzi reforçou que deixará o comando do PD como anunciou nesta semana a partir de domingo (19), quando a sigla será guiada por Matteo Orfini – um dos maiores aliados do ex-premier.   

Renzi ainda destacou que “essa não é a primeira vez” que alguns membros da sigla querem alimentar “tensões internas”, mas que sua postura é de “não dar nenhum pretexto e cortar os álibis” de quem sempre reclamou de sua postura “autoritária”.   

“Tantas vezes fomos acusados de sermos autorreferenciais. Bem, vamos ver as propostas e confrontemo-nos com nossa gente. Vença o melhor. E qualquer um que vença, todos precisam dar uma mão”, escreveu ainda.   

No entanto, três dos líderes da “minoria” já se manifestaram contrários ao secretário. Segundo Enrico Rossi, Michele Emiliano e Roberto Speranza, a decisão da diretoria do PD de fazer uma assembleia para convocar um congresso em breve foi “decepcionante” porque deveria ser apenas mantido o apoio a Gentiloni e seu governo até 2018.   

Para eles, a decisão “sancionou a transformação do Partido Democrático no Partido de Renzi, um partido pessoal e de liderança única que ultrapassa a marca identitária do PD e de seu pluralismo”.   

Porém, eles confirmaram que irão aos debates no fim de semana para criar um “novo projeto de união”. Durante essa semana, Emiliano informou que pretende concorrer ao cargo de secretário do partido. (ANSA)