Gostaria de alertar sobre um problema que vem afetando todos os brasileiros.

Pior. Trata-se de uma crise global.

Uma crise global de segurança.

Não estou me referindo ao perigo das guerras, dos assaltos nas ruas das grandes metrópoles, nem aos fascínoras que nos cercam. Nem mesmo aos políticos corruptos que insistem em ser eleitos para surrupiar nossas esperanças.

O problema ao qual me refiro, não é segurança de menos, é segurança de mais.

Senhas, ligações gravadas, capacete para crianças andarem de bicicletas e por aí vai.

Quando eu era criança cinto de segurança não era obrigatório. Livre na traseira do Fusca do meu pai, eu flutuava numa experiência de gravidade zero. Mesmo assim, sobrevivi.

Aí tem as senhas, em todo lugar.

Para sua segurança.

E não é qualquer senha que deixa o rapaz do TI feliz.

Criar uma senha para qualquer site, hoje em dia, é um processo tão complexo que daqui a pouco é mais fácil programar o site de novo.

Você vai lá e cria a senha “fjyrt”. Não pode. Tem que ter 8 caracteres. Você muda para “fiyrtgmw”. Não pode. Tem que ter letras e números. Você manda “fiyrtgmw123”. Não. Nem as letras, nem os números, podem ser sequenciais. Tenta “fiyrtgmw275”. Está quase, faltam os caracteres especiais.

Ora, faça-me o favor! Que saudade do velho e bom 12345.

Para lembrar todas as senhas, você mantém no celular um arquivo com o criativo título “Senhas”, o que faz com que todo o esforço para criar combinações complexas tenha sido em vão, porque se o arquivo cair nas mãos de um larápio, em menos de 2 horas você será um morador de rua e seus filhos terão um novo pai.

Munido de todas as senhas da sua vida, seu Instagram só terá fotos de baile funk, o sujeito vai assumir sua identidade, trocar a senha no banco, transferir seus bens para o nome dele, fazer você se divorciar de sua mulher, adotar seus filhos e pronto.

Procurando uma saída para memorizar as senhas que se reproduzem como bactérias, você decide criar uma única senha, de 12 caracteres para usar em todo lugar. Pronto. Agora com a senha “asne*ira793x” o problemas está resolvido.

Doce ilusão.

Basta um site ser comprometido e todos os dados dos usuários irão parar na Deep Web.

Nesse momento existe um robô em marte, mas você ainda precisa lembrar suas senhas

Agora as 600 mil senhas, inclusive a que você usa do banco e em um site de receitas, estão sendo vendidas num pacote de US$ 10,00 por um adolescente russo.

Impossível? Pois aconteceu comigo.

Usava uma senha única até que um dia abri meu aplicativo de transporte e, pimba! Dou de cara com uma corrida de 40km na Turquia.

Mas não são apenas esses os problemas.

Tem também os call centers.

Cartão de crédito roubado? Calma. O banco atende 30 horas, 8 dias por semana.

Você liga preparado para perder as próximas duas horas.

A culpa é sua. Quem mandou preferir interagir com seres humanos ao invés de seguir o menu de números e digitar jogo da velha no final?

De cara é informado que aquela ligação está sendo gravada.

Para sua segurança.

Depois de 8 minutos de propagandas, você encontra a opção “falar com um de nossos atendentes”, basta digitar seu CPF, senha do cartão, CEP, data de nascimento, RG, carteira de trabalho, título de eleitor, número, data de validade do cartão e finalmente o Jonas atende, mas pede todas as informações novamente, porque “o sistema não identificou seu cartão”.

Quando, finalmente, o Jonas pergunta como pode ajudar, a ligação cai.

A boa notícia é que pelo menos as senhas estão com os dias contados.

É que vem aí a computação quântica. É sério! Computadores tão rápidos, mas tão rápidos, que podem descobrir qualquer senha numa fração de segundos.

E só não será o fim do mundo, porque o mundo acabará antes, quando a Inteligência Artificial nos dominar.