As crises econômica e política no Brasil acentuaram a demanda por diligências mais profundas nos processos de fusões e aquisições, indo além dos aspectos financeiros, fiscais e trabalhistas. De olho nisso, a consultoria Alvarez & Marsal está ampliando seus serviços na América Latina e garante que já atende uma série de fundos que apenas aguardam o momento certo para voltar a fazer aquisições no Brasil. A companhia tem na carteira clientes empresas como a varejista Leader, vendida recentemente pelo BTG Pactual.

Em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, o sócio responsável pela área de Consultoria em Transações da Alvarez & Marsal na América Latina, Fabio Guerra Pires, conta que os investidores querem conhecer as empresas sob aspectos operacionais e se certificar de que não correm risco de serem questionadas pela lei anticorrupção, que entrou em vigor em janeiro de 2014.

Os fundos de private equity, que captaram bilhões para investir na América Latina desde 2014, estão entre os clientes da consultoria que buscam otimizar tempo por meio das diligências mais detalhadas e que, segundo o executivo, apenas aguardam o melhor momento para começar a fechar as aquisições. “Temos visto que os fundos estão ativos nas diligências e a conclusão dos negócios está dependendo do momento político e econômico. Ou seja, dos desdobramentos do processo de impeachment e de uma demonstração de que a agenda de reformas da equipe econômica começará a andar”, explica.

Para ilustrar o “gap” de investimentos dos fundos de private equity, Pires cita os números da Latin American Private Equity & Venture Capital Association (Lavca): dos US$ 10,4 bilhões e US$ 7,2 bilhões captados para a América Latina em 2014 e 2015, foram investidos US$ 7,9 bilhões e US$ 6,5 bilhões, respectivamente.

As diligências dos fundos de private equity, e também os estratégicos, têm se concentrado em setores de tecnologia da informação (TI), serviços financeiros, saúde e agribusiness, de acordo com Pires. O perfil dos fundos varia de R$ 200 milhões a R$ 1 bilhão, entre os quais muitos já presentes no Brasil. Quanto aos estratégicos, os principais são os chineses. Pires comenta que os estratégicos tem olhado o segmento de infraestrutura com foco em energia.

Pires diz que, para atender a demanda desses clientes, a Alvarez & Marsal ampliou o serviço de diligência na América Latina com a criação das áreas de Melhoria de Performance (Performance Improvement – PI) e Consultoria em Transações, também conhecida como Diligência Financeira e Tributária (Due Dilligence), as quais já existem em outros mercados em que atua, como os Estados Unidos.

Pires diz que para alcançar o objetivo de preparar as companhias para a venda, o time de Performance Improvement é composto por ex-CEOs ou ex-CFOs de empresas, enquanto que o trabalho da equipe de consultorias em transações é realizado em parceria com os bancos de investimentos.

“A era de ‘comprar a preço baixo e vender a preço alto’ está praticamente extinta, principalmente em um ambiente complexo e de tantos desafios como o do Brasil. Acreditamos que a forma de ‘due diligence’ clássica que vem sendo praticada no mercado não é mais suficiente para preparar o investidor para a execução de um plano de integração e crescimento sustentável”, comentou Pires ao Broadcast.

Segundo ele, isso implica entender a potencial aquisição de modo mais robusto, olhando aspectos operacionais e comerciais, para que haja maior sensibilidade quanto aos custos implícitos em uma potencial estratégia futura de crescimento. Pires explica que essa avaliação, entretanto, não é estática, mas sim combinada aos resultados das diligências financeira, fiscais e trabalhistas.