Uma das principais tarefas do Estado brasileiro é de recuperar o domínio territorial. Isso mesmo, parte do País está sob controle de grupos criminosos. No caso da Amazônia é conhecida a presença no Vale do Javari de organizações criminosas, inclusive estrangeiras, como, de acordo com denúncias, do Cartel de Sinaloa — grupo criminoso mexicano dedicado ao tráfico de drogas e que usa a região como rota de passagem para enviar sua “mercadoria” para os Estados Unidos e a Europa. No caso da Amazônia, a cada dia a situação foi ficando mais grave. O duplo assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Rodrigues jogou luzes à região, mas sem que, até o momento, tenha ocorrido um planejamento e uma ação coordenada das diversas instâncias do Estado brasileiro e também de um trabalho junto com os países limítrofes. Além do tráfico de drogas e de armas, há ação de garimpeiros em busca de ouro e diamantes e a extração clandestina de madeiras, sem esquecer o contrabando de espécies raras da natureza local.

Se no caso amazônico a extensão e a distância geográfica dos poderes decisórios do País podem surgir como justificativas – mas que não param em pé – para a inépcia governamental, o mesmo não pode ser utilizado no caso das imensas regiões metropolitanas que se espalham pelo nosso território. Com o passar dos anos a ausência das instâncias de Estado – especialmente do poder Executivo – foi se transformando em algo dado pela natureza — como uma erupção vulcânica, por exemplo. Desde cidades médias até capitais estaduais com milhões de habitantes, parcelas consideráveis do território estão sob controle de grupos criminosos, uns dedicando-se ao tráfico de drogas e outros à “proteção” da população e ao extermínio propriamente dito, principalmente daqueles que se colocam em defesa dos direitos humanos.

Áreas dominadas por criminosos transformaram-se em currais eleitorais, que elegem vereadores e deputados, e são procurados por candidatos majoritários

No caso das regiões metropolitanas o problema é ainda mais grave pois há uma associação com os processos eleitorais. As áreas que os criminosos dominam se transformaram em currais eleitorais. E que elegem vereadores, deputados e são procurados pelos candidatos aos cargos majoritários (prefeito, governador e senador — e até para a Presidência da República). Em outras palavras, no Legislativo – maculando os princípios republicanos –, lá estão representados políticos que tem algum tipo de vínculo com criminosos (e a imprensa já presenciou diversos exemplos em regiões do País). É preciso, ao menos, que o Estado volte a controlar o território nacional.