Um estrondo gigante quebrou o silencio do pacato distrito da comunidade do Feijão, na zona rural de Brumadinho, Minas Gerais. Passava pouco mais do meio dia da sexta-feira 25 quando um mar de lama da represa de minério de ferro da mina da Companhia Vale, que acabara de romper, jorrou com a força de um tsunami e rolou morro abaixo da serra do rola-moca, destruindo tudo que tinha pela frente – escritórios, restaurantes, posto médico (da Vale), dezenas de casas do vilarejo e além de quilômetros de terras agricultáveis. Na manhã do sábado, 26, o saldo da tragédia era de 34 mortes, cerca de 300 desaparecidos e um prejuízo ambiental incalculável. “Parecia uma chuva de meteoros gigantes”, diz Emerson Leandro dos Santos. Trabalhador rural, Santos sobreviveu ao desastre por questões de segundos numa correria desenfreada morro acima. A mesma sorte não tiveram seus amigos de trabalho. “Vi muita gente morrer engolido pela lama” conta ele.
O desastre de Brumadinho acontece pouco mais de três anos após o crime ambiental de Mariana, onde a barragem de Fundão, riscou do mapa dois distritos, ceifou a vida de 19 pessoas, causou um aborto e deixou milhares de vítimas e dezenas de cidades arrasadas. Pouco mais de 200 quilômetros separam as duas cidades mineiras – Brumadinho e Mariana. No entanto, as duas tragédias estão unidas por dois pontos: a companhia Vale, que é proprietária das duas represas que romperam – Fundão e Feijão – e o descaso das autoridades públicas com a fiscalização das barragens. Minas Gerais contabiliza mais de 700 barramentos. Boa parte dessas represas são de rejeitos de minérios. Com efeito, entre os três anos que separam as duas tragédias ambientais, nada mudou nas leis, pelo contrário, a legislação mineira ficou mais branda para as mineradoras. “Depois do crime em Mariana, nenhuma lei foi aprovada para evitar esses desastres”, afirma Guilherme Meneghini, promotor de Justiça da cidade Mariana. Responsável pelas investigações e por dar assistência às vítimas de Mariana, ele e categórico em afirmar que “Somos regidos por uma classe política ignorante, que ignora o povo, que ignora a ciência, que ignora o meio ambiente”.