Não é de hoje que a diplomacia brasileira passa longe dos tempos áureos de Barão do Rio Branco, Ruy Barbosa e Oswaldo Aranha. Mas agora a situação foi longe demais: sob o comando do chanceler Ernesto Araújo, o Ministério das Relações Exteriores, com sede no Palácio do Itamaraty, em Brasília, virou motivo de piada também fora do País. Sem sequer ter um orçamento aprovado para esse ano, embaixadas e consulados ao redor do mundo estão deixando de pagar contas básicas como luz, água e internet. A revolta é grande: enquanto diplomatas, oficiais de chancelaria e assistentes de chancelaria seguem recebendo o pagamento normalmente, funcionários locais de postos no exterior estão com os vencimentos atrasados e ainda não receberam nem o salário de fevereiro.

O tratamento diferenciado ocorre porque o pagamento dos funcionários contratados por concurso público é feito pela secretaria do Planejamentom, enquanto os funcionários locais, como secretários, equipe de limpeza, copeiros e motoristas são pagos pelo Itamaraty, por meio de repasses do Ministério da Economia. Esses profissionais representam cerca de 90% dos funcionários das representações do País no exterior. Embaixadas estratégicas, por exemplo, ameaçam entrar greve em grupos privados de aplicativos de mensagens sempre que há atrasos — e eles são recorrentes. Em trechos enviados à ISTOÉ, sob condição de sigilo, funcionários se mostraram desesperados por não conseguirem pagar contas básicas e comprar comida.

No vermelho

Procurada pela reportagem, a pasta informou que não tinha dados exatos sobre quais países já tinham recebido o repasse para o pagamento dos salários até o fechamento dessa edição, mas os primeiros funcionários a receber foram os alocados nos postos norte-americanos, com três dias de atraso. O Itamaraty afirma ainda, em nota, que está trabalhando com apenas uma parte do orçamento que precisa: “Para ilustrar, o MRE tem hoje recursos da ordem de R$ 60 milhões mensais, ao passo que normalmente o duodécimo desse Ministério é de cerca de R$ 130 milhões, o que gera um déficit da ordem de R$ 70 milhões mensais até que haja deliberação sobre o orçamento”, diz a nota. Mesmo que seja aprovado o orçamento, há outro problema: a falta de pagamento a organismos internacionais como ONU, OMC e Unesco. Isso pode resultar na perda de direito ao voto em questões decisivas, por exemplo. O caos no governo federal, infelizmente, já ultrapassou as fronteiras do Brasil.