O Brasil deve confirmar nesta quinta-feira que em 2017 saiu de uma das piores recessões de sua história, apesar de a recuperação ainda estar distante de alcançar a velocidade desejada pelo governo e sob risco, em 2018, devido às incertezas de um ano eleitoral.

Segundo estimativa média de analistas consultados pela agência Bloomberg, o crescimento foi de 0,4% no quarto trimestre, em relação aos três meses anteriores, e acumulou 1,1% em 2017.

O Produto Interno Bruto (PIB) recuou 3,5% em 2015 e 2016, num ciclo que combinou recessão, inflação alta e crise política.

O Brasil fechou os primeiros três trimestres do ano passado no azul, tanto na comparação trimestral, quanto na interanual. Os principais motores foram o setor agropecuário e as exportações, além de, nos últimos meses, consumo das famílias e investimentos darem sinais de reativação.

De janeiro a setembro, o crescimento foi de 0,6% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Para 2018, o governo prevê uma expansão de 3%, enquanto o mercado antecipa 2,8%.

“Pode ser 3%, ou mais”, opina Mauro Rochlin, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro.

“A queda da inflação tem seu impacto e a das taxas também. Os bancos se mostram mais flexíveis em sua política de créditos, e a recuperação do emprego representa uma melhoria na massa salarial, ou seja, mais consumo”, explica, embora a maioria das vagas criadas seja informal.

– Bolsa otimista, mas agências não –

Os mercados brasileiros dão sinais de otimismo desde a condenação de Luiz Inácio Lula da Silva em segunda instância no fim de janeiro. A Bovespa continua a registrar recordes históricos.

O presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, atribuem a recuperação do mercado de ações ao seu programa de ajustes, que teria recuperando a confiança dos investidores.

Contudo, a parte mais importante para os investidores – a reforma da Previdência – acabou sendo abandonada, devido a dificuldade de conseguir apoio no Congresso.

A reação foi rápida: só neste ano, S&P Global Ratings e Fitch rebaixaram a nota de risco soberano do Brasil, alegando que o país pode não conseguir cobrir seu déficit.

O Brasil fechou 2017 com déficit de 110,583 bilhões de reais nas contas públicas. O resultado foi um dos piores da série histórica.

– Incertezas políticas –

A maioria dos analistas concorda que, embora Lula possa evitar a prisão, será enquadrado na Lei da Ficha Limpa e não poderá concorrer à Presidência em outubro.

Contudo, Fernando Henrique Cardoso, aliado do governo, assustou o mundo dos negócios ao afirmar, nesta terça-feira, que “quem for candidato do mercado vai perder”

“É preciso candidato que mostre que a vida será melhor e mais segura. É preciso ter discurso, mas não é só discurso que convence”, afirmou FHC em evento organizado pelo Estado de São Paulo.

Para o analista André Perfeito, da Gradual Investimentos, 2018 será um ano de “muito ruído político, por dois motivos: a população de forma geral está contra as reformas, e não surgiu nenhum candidato do centro”.

Há também uma “possibilidade de uma deterioração dos mercados globais”, devido a política econômica dos Estados Unidos.

“O desemprego está caindo, mas o tipo de emprego gerado é pior. O real está forte, em grande medida porque (…) estamos exportando muito e importando pouco” após dois anos de recessão. “A inflação está baixa, mas o crédito para sociedade não ficou mais barato”, afirma.