Ao ser questionado sobre o ritmo ainda lento da economia brasileira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a responder que a melhor forma da instituição contribuir para a retomada da atividade é manter a inflação estável. “A credibilidade construída pelo Banco Central permitiu que as curvas curtas e longas caíssem. Queremos preservar essa credibilidade e ampliar a transparência”, afirmou. “Para BC, forma de contribuir para o crescimento é sempre manter o foco na inflação”, completou.

Campos Neto disse ainda que momentos de crescimento do PIB anteriores impulsionados por recursos públicos se mostraram “voos de galinha”. “O que temos tentado fazer agora é uma reinvenção com recursos privados. O setor privado está investindo, mas temos uma contribuição negativa do governo. Por isso, o crescimento agora tem um vento contra por esse efeito de substituição, mas será um crescimento de qualidade superior e mais sustentável”, enfatizou.

O presidente do BC disse ainda que a tensão comercial global vem mudando de forma e apontou que o risco de crescimento disseminado de tarifas não se concretizou. Campos Neto preferiu não fazer comentários sobre eventuais turbulências políticas do cenário doméstico.

Exterior

Campos Neto avaliou que o cenário externo ainda é benigno para as economias emergentes, com excesso de liquidez que deve fluir para esses mercados. Ainda assim, ele lembrou que diversas economias centrais e emergentes têm revisado suas projeções de crescimento para baixo. “A Europa fez uma nova projeção de crescimento para baixo, a China está crescendo menos”, citou. “O cenário central no exterior segue benigno, mas ‘risco de cauda’ aumentou”, completou.

Para o presidente do BC, esse ‘risco de cauda’ eleva a possibilidade de risco global, mas não chegou a afetar o balanço de riscos do Comitê de Política Monetária (Copom) devido aos demais fatores desse balanço. “O risco de cauda maior não significou ajuste em nosso percurso, porque há dimensão hiato (do produto) e dimensão de reformas”, detalhou.

Campos Neto reforçou ainda que o BC também não faz uma projeção sobre a taxa neutra de juros para a economia, mas lembrou que a comunicação da autoridade monetária aponta os fatores em curso que podem levar a taxa estrutural a cair como, por exemplo, o avanço das reformas.

“Temos um conjunto de reformas, não só a da Previdência”, enfatizou. “Não é nosso papel fazer projeção sobre avanço das reformas. Tivemos avanços em algumas reformas micro”, completou.

Já o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Viana de Carvalho, reafirmou que não existe ligação mecânica entre projeções de inflação e as próximas decisões de política monetária. “Há uma série de fatores que condicionam as decisões do Copom”, reiterou.

Arábia Saudita

O presidente do Banco Central avaliou ue os efeitos dos ataques a refinarias de petróleo da Arábia Saudita nos preços internacionais do óleo, no começo da última semana, parecem ter sido temporários. “Parece que foi um efeito isolado, porque grande parte do choque de preços nos primeiros dias já passou. Foi sanado o problema e a produção já foi retomada, preço do barril de petróleo subiu, mas já voltou ao patamar de US$ 60 que estava antes, citou. “Mas vamos incorporar (esse impacto) em nossas projeções se houver algum efeito mais durável nos preços do petróleo”, completou.